A desvalorização do real frente ao dólar, de mais de 40% nos últimos
18 meses, a recessão e a incerteza política estão mudando o perfil de
hóspedes de hotéis de luxo no Brasil. Em redes como Emiliano, Fasano,
Hyatt, Hilton e Unique, os turistas estrangeiros respondem hoje por mais
de 60% das diárias. Há um ano, essa fatia era de 50%, em média.
No Emiliano, marca hoteleira paulistana, os hóspedes brasileiros, que
chegaram a ser 65% da ocupação no boom da economia verde-amarela, há
cinco anos, perderam presença para os estrangeiros, agora donos de dois
terços das reservas.
O sócio da marca, Gustavo Filgueiras, comanda o hotel Emiliano em São
Paulo e está preparando a abertura do segundo empreendimento, no Rio.
Ele diz que não se arrepende da aposta feita na capital carioca, apesar
da crise econômica e dos gastos terem subido de R$ 120 milhões para R$
140 milhões, exatamente por causa do maior potencial de atrair hóspedes
de fora do país nesse destino. "Além de São Paulo, apenas no Rio esse
tipo de empreendimento se justifica porque tem a demanda doméstica, mas
principalmente um forte apelo entre os turistas estrangeiros", disse o
empresário.
Filgueiras diz que a hotelaria de luxo no Brasil não passou incólume
pela recessão, que atingiu a economia em 2015 e segue neste ano - a taxa
de ocupação recuou 7%, derrubando a receita média do setor em 13,2%,
segundo o Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil. Mas é um segmento
que pode se aproveitar do câmbio porque pode cotar a diária em dólar.
"Por isso, a diária média foi preservada", disse.
O dono do Fasano, Rogerio Fasano, que tem duas unidades - uma em São
Paulo e outra no Rio - faz coro. "O fator câmbio favorece a demanda dos
estrangeiros", diz. "Em épocas de crise, as marcas consolidadas tendem a
sofrer menos", observa. Segundo ele, o fato de a marca operar hotéis
pequenos, com 60 a 80 quartos, impede maior oscilação na ocupação, mesmo
com menor demanda corporativa local.
Para a diretora geral do Unique, Melissa Fernandes, a estabilização
da oferta hoteleira ante o tímido crescimento da demanda na capital
paulista e a desvalorização do real frente ao dólar permitiram ao hotel
de luxo, localizado próximo ao Parque do Ibirapuera, na zona sul da
cidade, um crescimento de 7% em receita média por quarto disponível no
ano passado.
A executiva observa que a cidade de São Paulo pode ainda se
aproveitar dos Jogos Olímpicos, de 5 a 21 de agosto, no Rio. "Deve haver
um escoamento de grupos para São Paulo devido à limitada oferta
hoteleira no Rio, menor que a demanda, mesmo com a construção de novos
hotéis", diz Melissa.
O diretor geral do Hyatt, Silvio Araújo, afirma que a queda de
demanda local corporativa ao longo do ano passado já foi atenuada pelo
incremento das reservas por parte de clientes estrangeiros, incluindo o
turismo de lazer. "No fim, a diária média cresceu em reais pois a
demanda internacional é vendida em dólar", disse o executivo do Hyatt,
que está abrindo no Rio o segundo empreendimento de luxo no país, da
categoria Grand Hyatt. "Grande parte de nosso resultado em 2016 será
baseado no desempenho de agosto e setembro por causa dos Jogos 2016 e
dos estrangeiros", disse Araújo.
Além de atrair mais gente - um milhão de turistas, sendo metade disso
de estrangeiros -, além de centenas de milhares de atletas,
profissionais de mídia, patrocinadores e outros realizadores do evento,
os Jogos no Rio já encareceram a tarifa média.
Segundo o Trivago, segunda maior plataforma de viagens do mundo na
internet -, a diária média para o período todo de Jogos Olímpicos é de
R$ 1.272,00. Para comparar, no Carnaval deste ano, que foi de 6 a 9 de
fevereiro, o preço médio das diárias em hotéis no Rio de Janeiro ficou
em R$ 718.
Mesmo com os Jogos no Rio e a maior demanda estrangeira, hotéis de
luxo no Brasil não descartam as campanhas promocionais para ocupar os
empreendimentos, especialmente com pacotes de fim de semana. A meta é
atrair as famílias dos hóspedes mais frequentes.
"Conseguimos aumentar a taxa de ocupação com as promoções, mas a
briga está grande na tarifa", afirma o presidente e controlador do
Maksoud, Henri Maksoud Neto, que em 2015 conseguiu elevar em 19% a
receita média graças à maior presença estrangeira.
A taxa de ocupação do Maksoud cresce, em parte, devido a um acordo
comercial fechado com o grupo francês Accor - a maior rede de hotéis
que atua no Brasil. A Accor colocou o Maksoud em sua plataforma de
hotéis que podem receber turistas no Brasil. Este canal de vendas e os
hóspedes que reservam quartos pela internet, em diversos sites, elevaram
em mais de 15% as reservas de estrangeiros no ano passado no Maksoud.
No Hilton São Paulo, que já tinha mais de 50% dos hóspedes vindos de
fora do país, a demanda ficou estagnada desde 2014, disse a diretora de
desenvolvimento e negócios, Fernanda Lemos. "Mas temos trabalhado em
várias frentes de negócios para evitar retração de demanda", disse ela,
referindo-se a incremento de campanhas, ofertas e mesmo renovação de
infraestrutura, como no lobby do hotel e nos dois restaurantes do
endereço.
Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4529539/turista-estrangeiro-sustenta-hoteis-de-luxo-no-brasil
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