terça-feira, 31 de maio de 2016

Ibovespa sobe mais de 200 pontos em 30 minutos após superávit primário de R$ 10,2 bi

O Ibovespa vira para alta nesta terça-feira (31), na volta do feriado que deixou as bolsas fechadas nos Estados Unidos e em Londres. Lá fora, os índices dos EUA operam perto da estabilidade. Enquanto isso, a Europa cai puxada por montadoras como a Volkswagen. No cenário doméstico, o presidente interino Michel Temer teve a sua segunda baixa em 19 dias com a saída do ministro da Transparência, Fabiano Silveira. No entanto, o efeito dessa nova derrota é amenizada pelo surpreendente resultado fiscal do governo em abril. 
Às 10h59 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira tinha alta de 0,31%, a 49.114 pontos. A Bolsa subiu 257 pontos em 30 minutos da mínima do dia antes das 10h30. Já o dólar comercial apresenta alta de 0,34% a R$ 3,5902 na venda, enquanto o dólar futuro para junho tem alta de 0,38% a R$ 3,587. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 opera com valorização de 2 pontos-base a 13,66%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 registra ganhos de 5 pontos-base a 12,80%.
Resultado fiscalO governo fez um superávit primário de R$ 10,2 bilhões em abril, superando bastante a expectativa mediana dos economistas, que esperavam um superávit de R$ 1,9 bilhão. No acumulado de 12 meses, no entanto, o déficit primário fica em 2,33% do PIB (Produto Interno Bruto). A relação dívida PIB, apesar do superávit, cresceu de 67,2% em março para 67,5% em abril. Em termos nominais, abril foi um mês de déficit de R$ 13,163 bilhões, ante estimativas de R$ 23,6 bilhões de resultado negativo. 

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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Eólica: Contratação de 2 GW traria segurança dupla ao sistema

A Associação Brasileira de Energia Eólica está preparando um estudo que será apresentado ao governo justificando a necessidade de se contratar os 2 GW ao ano que vem defendendo. Dentre os argumentos que serão temas de exposição nesse documento estão a questão da segurança de fornecimento e a manutenção da cadeia produtiva que foi estruturada nos últimos anos.
A exportação de energia para a Argentina, que foi noticiada esta semana, expôs a preocupação do operador com o sistema nacional. Segundo a presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, em uma conversa que teve com o ONS, a saída para que haja esse envio seria por meio de térmicas. “Isso demonstra que temos um problema sério de segurança de fornecimento e esse ano a previsão dos meteorologistas indica que teremos La Niña, ou seja, deveremos ter um certo sufoco com a questão da hidrologia”, relatou a executiva após o 5º Encontro de Negócios ABEEólica, realizado na última quarta-feira, 25 de maio.
“Estamos batendo em 2 GW de contratação. No mínimo, 1 GW, já daria um bom sinal de que há perspectiva de demanda e de investimentos no Brasil, mesmo com o país em crise. Menos que isso ou nada pode trazer risco de alguma empresa querer deixar o Brasil. Vai e não volta mais. E esse trabalho de estruturar toda a cadeia de fornecimento com a competência atual que fizemos em 5 anos, em tão curto prazo quando comparamos a outros mercados, a gente joga fora. Mas o MME está ouvindo”, comentou a presidente executiva da ABEEólica.
De acordo com Élbia, o novo governo já entendeu que há essa necessidade, a questão agora é ver qual é a disposição de contratação. E a questão da mudança de cenário político com o recente afastamento da presidente Dilma Rousseff tem trazido uma alteração na perspectiva de retomada da economia que começa a dar sinais de que poderá inverter a curva descendente dos últimos trimestres.
Segundo o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, esses sinais começam a aparecer na demanda por energia antes da percepção do crescimento econômico. Em sua avaliação o ambiente ainda é incerto para 2017, mas a tendência é de um movimento positivo sendo que no mês a mês se perceba a reversão da curva no decorrer do segundo semestre. Élbia completa a afirmação do economista ao lembrar que a percepção da melhoria da economia coloca rapidamente a demanda por energia lá em cima.
A representante da indústria do setor eólico ainda comentou que a mudança das pessoas em cargos chave do governo sempre é preocupante, mas que no caso atual tem ocorrido para melhor. Em sua avaliação, as nomeações políticas em nível ministerial fazem sentido para que haja a governabilidade do país. Ao mesmo tempo, o segundo escalão está sendo formado por técnicos de altíssima qualidade e que conhecem as necessidades do setor. “Esse é o resgate da confiança com a racionalidade de volta”, resumiu.
A entidade ainda espera concluir um outro estudo de transmissão de energia para o curto, médio e longo prazos que está sendo desenvolvido junto à PSR e que possui cinco volumes. No curto prazo o tema é o critério de escoamento de energia. A meta é de apresentá-lo ao governo daqui a cerca de 50 dias.
Na última quarta-feira, 25 de maio, a ABBEólica apresentou o seu boletim anual com os dados consolidados do setor. Foram 111 novas usinas instaladas, investimentos de US$ 4,93 bilhões que acrescentam 2,75 GW em nova potência instalada e classificaram o Brasil como o quarto maior país em novos investimentos elevando a um total de 8,75 GW em capacidade, o décimo maior do mundo. Contudo, esse número já está em 9,5 GW o que, diz a entidade, muito provavelmente o Brasil já ultrapassou a Itália e agora deve ocupar o 9º lugar no ranking global apurado pelo Global Wind Energy Council (GWEC).
A perspectiva é de que ao final de 2019 o Brasil tenha pouco mais de 18,7 GW em capacidade de geração eólica. Se esse volume fosse visto em 2015, o país estaria no 6º lugar entre os maiores geradores eólicos do mundo.
 
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terça-feira, 24 de maio de 2016

Investidor hesita em acreditar no Fed

É difícil culpar os investidores por serem complacentes quando o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) diz que está prestes a elevar novamente os juros. As autoridades monetárias têm repetido esse discurso desde o início do ano passado, mas recuaram, quando os dados mostraram terem superestimado o vigor da economia americana.
Esse cenário está se desenhando novamente nos mercados globais. Mesmo depois que a ata do Fed divulgada na quarta-feira representou forte sinalização de que o aumento pode vir já em junho, o mercado de títulos aponta uma probabilidade de 28% de que isso venha a se confirmar.
"O Fed e outros bancos centrais podem endurecer o discurso, tentando manipular o rumo dos juros, mas o mercado diz 'nós não acreditamos em você'", disse Steve Major, diretor de pesquisas em renda fixa na HSBC, com sede em Londres, um dos 23 dealers primários de títulos do governo americano que negociam com o Fed. "Ventos estruturais contrários ao crescimento e o cenário internacional são limitações até aonde os juros podem ir nos EUA."
Embora a ata da reunião do Fed em abril tenha indicado que as autoridades monetárias consideraram um aumento dos juros provável para o próximo mês se a economia continuar a melhorar, os investidores veem muitos obstáculos. Um referendo no Reino Unido em 23 de junho decidirá se o país continuará membro da União Europeia. A dinâmica de crescimento na China está perdendo força após uma recuperação alimentada por crédito no início deste ano e o dólar está novamente em alta.
Alguns gestores dizem que já é hora de os traders começarem a voltar a precificar decisões do Fed. Jeffrey Gundlach, da DoubleLine Capital, disse na quinta-feira que o banco central está sinalizando que os dados econômicos estão suficientemente robustos para justificar um aumento dos juros. Rick Rieder, diretor de investimentos de renda fixa global na BlackRock , disse que as autoridades provavelmente vão esperar até julho para avaliar o resultado e as implicações do referendo britânico.
té agora, os mercados têm acertado, ao apostar que o Fed está blefando. Autoridades do Fed baixaram sua previsão média para os juros do mercado interbancário de longo prazo para 3,25%, de até 4,25% em 2012.
As autoridades monetárias vêm pressionando os investidores a se prepararem para aumentos há mais de um ano, mas só os elevaram uma única vez. A 0,88%, o rendimento dos Treasuries de dois anos estão mais baixos do que em dezembro, quando os custos de empréstimos de referência foram elevados de quase zero pela primeira vez desde 2006.
Para decepção das autoridades, a economia americana está sendo incapaz de manter um ritmo de crescimento como em ciclos anteriores de aperto do juro. A economia mal cresceu no primeiro trimestre, tendo expandido a uma taxa anualizada de 0,5%. Embora a taxa de desemprego tenha caído abaixo de 5%, a inflação permanece abaixo de 2%, que é a meta do Fed.
"A economia não exibe vitalidade suficiente para que o Fed aja de forma decisiva", escreveu Christopher Low, economista-chefe da FTN Financial, em nota aos clientes quinta-feira.
Além disso, há o dólar. Com as expectativas de aumento dos juros, o dólar sobe, colocando as ações de companhias americanas sob pressão, ao corroer os lucros das multinacionais. Dólar mais forte e ações mais desvalorizadas deixam mais apertadas as condições financeiras, tirando algum vigor da economia.
O avanço de 18% do dólar contra as principais moedas ao longo dos últimos dois anos ajudou a minar as commodities, cujos preços são fixados em dólares. Uma renovada valorização reacenderá as preocupações em relação a calotes em massa no setor da energia, incentivará capitais a fugir de mercados emergentes e enfraquecerá suas moedas.
Em março, autoridades do Fed reduziram abruptamente suas expectativas para os juros, o chamado "gráfico de pontos", depois que a depreciação do yuan e saídas de capital da China impactaram os mercados globais. Economistas do Goldman Sachs qualificou-a de uma das mais moderadas decisões do Fed no século 21. Na quinta-feira, estrategistas do banco disseram que embora a possibilidade de alta em junho tenha crescido, isso está longe de garantido.
"As atas ressaltam como têm sido voláteis as comunicações do Fed", disseram Robin Brooks e Michael Cahill, do Goldman, em nota. "É difícil, para o Fed normalizar a política [monetária], pois o dólar poderia apreciar muito."

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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Banco médio lucra menos e busca manter liquidez alta

Assim como os grandes bancos de varejo, as instituições financeiras de médio porte sentiram os efeitos da crise econômica nos balanços do primeiro trimestre. Com o aumento das despesas contra calotes, o lucro recorrente combinado dos sete bancos de capital aberto foi de R$ 118 milhões, o que representa uma queda de 31% em relação ao mesmo período do ano passado. Duas instituições - Banco Pan e Indusval - fecharam o trimestre no vermelho.
Embora os problemas para todos os bancos sejam basicamente os mesmos, as instituições de médio porte são apontadas como mais vulneráveis ao atual cenário da economia, em razão da concentração maior da carteira de crédito e dos custos de captação mais altos. As dificuldades de algumas instituições, contudo, vêm de antes da crise.
O maior risco de calotes com a piora da economia levou os bancos a pisar no freio do crédito e preservar recursos em caixa. O saldo combinado da carteira de ABC Brasil, Daycoval, Indusval, Banco Pan, Paraná Banco, Pine e Sofisa encerrou março em R$ 66,4 bilhões, o que representa queda de 2,7% no trimestre e de 7,4% em 12 meses.
Apesar da redução do estoque de crédito, a alta nos "spreads" (diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas dos clientes) provocada pela escassez de recursos disponíveis na praça favoreceu o resultado de algumas instituições. O ABC Brasil registrou lucro líquido de R$ 95,5 milhões no primeiro trimestre, com alta de 19% em relação aos três primeiros meses de 2015.
Especializado no crédito a empresas, o banco controlado pelo Arab Banking Corporation atribuiu o resultado à menor concorrência, que permitiu uma melhor seleção dos clientes. "Entramos em um bom número de companhias às quais não tínhamos acesso antes", afirma o vice-presidente executivo da instituição, Sérgio Lulia Jacob.
O ABC foi o único dos bancos médios listados na bolsa a registrar alta no lucro no primeiro trimestre. Ainda assim, a margem financeira da instituição ficou mais apertada em razão do aumento nas provisões. Com a alta da inadimplência, os bancos médios reservaram um total de R$ 533,6 milhões para proteger os balanços contra calotes no primeiro trimestre, 22% acima do volume provisionado no mesmo período de 2015.
As perdas potenciais com a inadimplência e os impactos sobre a saúde financeira dos bancos de menor porte preocupam analistas. A qualidade dos ativos representa o maior risco para os bancos de médio porte no cenário atual, segundo Alexandre Albuquerque, analista da agência de classificação de risco Moody's. "A inadimplência vem subindo e não se pode descartar elevações adicionais nos próximos trimestres", afirma.
Na semana passada, outra agência de risco, a Standard & Poor's (S&P), rebaixou a classificação do Banco Pine para "B+", dois níveis abaixo da nota soberana do Brasil. Para a agência, a qualidade dos ativos do banco pode continuar a se deteriorar em razão da concentração de crédito da instituição em meio ao fraco desempenho da economia brasileira.
A maior concentração da carteira torna mais difícil a tarefa dos bancos médios de absorver potenciais perdas. No ano passado, o Indusval passou por um aumento de capital de R$ 80 milhões depois de fazer uma provisão de R$ 210 milhões para cobrir perdas com créditos a produtores rurais originados pela trading Ceagro.
Além de reduzir o crédito, os bancos têm procurado preservar a liquidez para o caso de um agravamento ainda maior do cenário. O Paraná Banco, por exemplo, encerrou o trimestre com R$ 1,7 bilhão em caixa, o equivalente a 35% da captação total.
O custo do carregamento dessa posição, porém, afeta a rentabilidade. A média do retorno sobre o patrimônio dos bancos listados no primeiro trimestre foi de 9,1%, contra 11,7% no mesmo período do ano anterior. O dado não considera os números do Pan e do Indusval, que tiveram prejuízo em ambos os trimestres.
A redução no crédito também contribuiu para que os bancos médios reforçassem a posição de capital. O índice de Basileia, que mede o quanto as instituições podem emprestar em relação a seu patrimônio, das instituições que possuem capital aberto subiu, na média, de 17,5% para 18,6% entre o primeiro trimestre de 2015 e março deste ano. O Pan possui o menor índice, de 14,5%, mas ainda assim bem acima do mínimo exigido pelo Banco Central, que neste ano é de 10,5%.
A expectativa dos executivos dos bancos é que os índices de capitalização em níveis elevados permitam uma retomada dos negócios quando a situação econômica melhorar. "Há sinais pífios de alguma recuperação à frente. São pífios, mas são sinais melhores", afirmou Ricardo Gelbaum, diretor de relações com investidores do Daycoval. O tom de algum otimismo para a economia até o fim do ano foi compartilhado por executivos de outras instituições em teleconferências com analistas.
Embora a crise tenha afetado o resultado, os bancos médios, de uma maneira geral, já vinham entregando resultados fracos mesmo antes da piora da economia. "As instituições contam com uma estrutura de receita menos diversificada e uma estrutura de funding mais volátil", afirma o analista da Moody's.
Os investidores cobram a fatura desse desempenho. As sete instituições são negociadas hoje abaixo de seu valor patrimonial na bolsa. Os preços baixos e a falta de perspectiva de novas captações de recursos por meio de uma oferta de ações levaram alguns bancos, como Daycoval, Sofisa e Indusval, a lançar ofertas aos minoritários para fechar o capital.

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sexta-feira, 20 de maio de 2016

Potencial de armazenamento do país é de 95 GWh

Ainda consideradas um tabu, as tecnologias de armazenamento de energia podem ganhar força no Brasil. Estudo inédito sobre o tema, feito pela Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia (Abaque), indica que há um potencial de armazenamento de energia no país de 95 gigawatts (GWh) até 2024. Segundo Alexandre Bueno, diretor de Desenvolvimento e Tecnologia de mercado da Instituição, esse volume seria suficiente para atender toda a demanda de energia do país durante uma hora.
O estudo foi feito com base no Plano Decenal de Energia (PDE) 2024, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que traça metas para expansão das fontes eólica e solar, que possuem alto grau de integração com sistemas de armazenamento de energia.
O próximo passo da entidade é calcular os custos e o benefício econômico da aplicação do potencial. "De forma qualitativa, o primeiro benefício é deixar de consumir óleo diesel, e usar uma energia limpa e silenciosa para atender o pico de demanda", disse Bueno.
Os dois principais usos da tecnologia no Brasil são justamente o atendimento no horário de ponta, quando são acionadas usinas a óleo combustível, e a integração com fontes intermitentes de energia, como usinas eólicas e solares, em franca expansão no Nordeste.
"Quando você agrega sistemas de armazenamento, você melhora muito a qualidade da energia dessas fontes, como eólica e solar", afirmou ele. Ao acoplar projetos de armazenamento a essas usinas, o fator de capacidade desses parques - que indica o quanto de energia esses empreendimentos podem comercializar - aumenta.
Um fator de estímulo para o setor é a chamada pública que está sendo elaborada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o desenvolvimento de um programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D) estratégico sobre o tema, com recursos compulsórios das empresas de energia. "Esperamos para esta segunda quinzena de maio a divulgação da Aneel da chamada pública em caráter oficial. Ela dará 15 dias para que as empresas se manifestem interessadas em participar e mais 180 dias para apresentação e formatação de projetos", explicou Bueno.
Segundo ele, a capacidade atual de projetos de armazenamento no mundo é de 180 GW. Estima-se que o mercado global de armazenamento de energia movimentará US$ 70 bilhões em 2020.

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quinta-feira, 19 de maio de 2016

BCE: É essencial não deixar espaço para dúvida sobre reanimar inflação

A ata da mais recente reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), realizada em abril, revela que o conselho da instituição não deseja deixar dúvida quanto ao compromisso de que conseguirá reavivar a inflação na zona do euro, bloco integrado por 19 países.
A ata da reunião também mostrou que há um entendimento abrangente, entre os integrantes do conselho, de que a política monetária do BCE está funcionando e de que há razão para um otimismo moderado quanto à perspectiva econômica.
Na reunião de abril, o BCE decidiu manter as linhas da política monetária, mas o presidente da instituição, Mario Draghi, deixou a porta aberta para novos cortes nas taxas de juros, após as iniciativas adotadas em março.
A ata do último encontro de política monetária revela que o BCE também se mostra inclinado a reafirmar, coletivamente, a sua independência frente a pressões políticas que têm sofrido – uma referência indireta a autoridades de finanças da Alemanha, que têm criticado o efeito da adoção de taxas de juros negativas sobre os que poupam.
"Houve amplo entendimento de que há necessidade de se contrapor à percepção de que a política monetária não pode contribuir por mais tempo para o retorno da inflação” à meta, diz a ata do BCE.
"Houve o entendimento de que é muito importante reiterar o compromisso do conselho do BCE em trazer a inflação de volta à meta, sem atraso indevido, mantendo a referência futura como algo essencial à ancoragem das expectativas e ao suporte de uma transmissão efetiva da política monetária”, informa a ata.
Segundo o documento, tal aspecto é “ainda mais importante” tendo em vista que a inflação permanece há três anos abaixo da meta. “Foi então salientado que é necessário não deixar espaço para dúvida quanto ao compromisso do conselho de assegurar o retorno da taxa de inflação para sua meta de médio prazo, sem atrasos indevidos”.

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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Educação financeira passa em teste do Banco Mundial, mas efeito é pequeno

Depois de ter seu primeiro contato com educação financeira ao longo de seis meses, 18 mil alunos do Ensino Fundamental brasileiro foram testados pelo Banco Mundial. Nas 112 escolas municipais de Joinville (SC) e Manaus (AM) onde foram submetidas ao programa piloto, a nota média foi 515, ante 508 de um grupo que não recebeu a instrução - pela metodologia, a mesma do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) que considera o desempenho global do grupo, a régua vai de 370 a 793. Os resultados, divulgados com exclusividade para o Valor, serão apresentados hoje na Semana Nacional de Educação Financeira. Os números vão servir de base à decisão de incluir ou não a educação financeira no currículo das escolas públicas de Ensino Fundamental.
Os números não brilham aos olhos. Além do diferencial de somente sete pontos de quem passou pelo programa, um olhar detalhado por pergunta também mostra avanços sutis. Sem ter a educação financeira incluída no cotidiano escolar, 16% dos alunos da nona série são totalmente contra gastar o troco de uma compra com algo que querem no lugar de guardar o dinheiro. Com a formação, o percentual sobe pouco, para 19%. O percentual no mesmo grupo dos que acham que fazer alguma poupança é importante para evitar problemas no futuro sobe de 37% para 38%. No quinto ano, os que dizem ter aprendido a mexer com dinheiro na escola é de 32% entre os que passaram pelo programa e de 27% entre os que não, somente para citar alguns exemplos.
"Na verdade, o efeito não é muito grande, mas é estatisticamente significativo, diferente de zero. Você pode dizer que funcionou", diz Caio Piza, economista do Banco Mundial e um dos responsáveis pela avaliação do projeto. Na análise dividida por séries, em que foram testados os terceiro, quinto, sétimo e nono anos, os resultados foram significativos do ponto de vista estatístico para os dois últimos, mas não para os dois primeiros. "Precisamos compreender um pouco melhor como incrementar o conhecimento e as atitudes dos alunos muito mais novos", diz Piza.
De forma geral, o efeito mostrado foi semelhante ao de outras intervenções na área de educação voltadas para a melhora de proficiência, como em Matemática ou Português, quando sob avaliação, segundo Piza. Ou seja, o diferencial pequeno das intervenções não é exclusividade da educação financeira. Além disso, defende, a pesquisa mostrou algum aumento de proficiência por conta da instrução, o que não apareceu em estudos similares, como o de um programa com estudantes entre 6 e 14 anos em Gana, na África, em que o incremento foi nulo. As pesquisas para essa faixa etária são escassas.
O Banco Mundial já tinha aprovado o programa brasileiro voltado para o Ensino Médio, ainda que também sem grandes margens. Os alunos que receberam as aulas tiveram nota média de 60,4, ante 56,1 do grupo de controle em um indicador de alfabetização financeira que ia de 0 a 100.
O resultado foi positivo principalmente quando se pondera que o programa durou apenas seis meses, defende Claudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil). Os livros chegaram às escolas no meio de 2015, não no começo do ano escolar, e ainda houve um intervalo até vencer a resistência dos 427 professores a um novo material. O programa não cria uma disciplina específica, mas indica o uso em meio a diferentes matérias. "É uma grande lição que o programa deixa: precisamos sobretudo envolver o professor", diz Claudia, que pensa em campanhas diretas e cursos de formação.
A partir do teste piloto, a ideia é disseminar o programa, segundo Claudia. Não será, entretanto, uma missão fácil. No Brasil, enquanto o Ensino Médio fica a cargo dos Estados, o Fundamental é tratado principalmente no âmbito das secretarias municipais. São cerca de 130 mil escolas, que devem ser alcançadas por meio de conversas com mais de 5 mil secretários de Educação dos municípios. "Há de se fazer uma articulação política extremamente importante", diz.
O Banco Mundial quer avaliar agora o resultado no Brasil de uma exposição à educação financeira continuada, o que pode ser feito por meio do acompanhamento de alunos da terceira série que acabaram de entrar no programa.
A especialista em psicologia econômica Vera Rita de Mello Ferreira defende que a educação financeira comece pelas crianças na escola. "É a fase em que os comportamentos estão começando a se formar, então você tem mais chance de instalar novos hábitos. É muito mais fácil do que tentar mudar o comportamento de adulto", diz a professora, que integra o comitê de pesquisa para educação financeira da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para obter resultados nessa faixa etária, entretanto, o método importa muito. Vera Rita, que prestou consultoria sobre aspectos psicológicos na elaboração do material brasileiro, diz que está longe de ser o caso de falar sobre investimentos para uma criança, mas sim de ensinar a se organizar, planejar, lidar com recursos escassos. E ela defende que os professores sejam muito bem capacitados.
Já William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (GVcef), diz que as pesquisas apontam para resultados mais positivos da educação financeira "just in time", ou seja, na véspera de ser colocada em prática. É por esse motivo que ele defende formatos de intervenção como listas acessíveis on-line que ofereçam o passo a passo para situações específicas, como trocar a casa dos pais pelo imóvel próprio ou planejar um mochilão, por exemplo. "Essa é a informação que importa, o restante ele não retém", defende o professor.

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terça-feira, 17 de maio de 2016

Dólar e juros têm reações moderadas após anúncio de equipe econômica

Os mercados de câmbio e juros têm reações moderadas ao anúncio da equipe econômica pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. De forma geral, os nomes já eram esperados e, portanto, não surpreenderam.
Meirelles confirmou expectativas e anunciou Ilan Goldfajn como presidente do Banco Central (BC), que não terá mais status de ministro. O também ex-diretor do BC Carlos Hamilton será o secretário de Política Econômica da Fazenda e o economista Mansueto Almeida vai focar suas atividades na Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), especialmente na análise da qualidade e eficiência das despesas públicas.
Meirelles disse ainda não haver decisão sobre a CPMF e, muito menos, sobre a Cide. O ministro afirmou também que não existe, por ora, proposta pronta para a reforma da Previdência.
Às 9h21, o dólar comercial caía 0,46%, a R$ 3,4864, em linha com o movimento da moeda ante outras divisas. O dólar para junho cedia 0,38%, a R$ 3,5035.
Nos juros, o DI janeiro de 2021 recuava a 12,230% ao ano, ante 12,270% no ajuste da véspera. O DI janeiro de 2018 cedia a 12,650%, frente a 12,670% no último ajuste.
Na ponta mais curta, o DI janeiro de 2017 tinha taxa de 13,580%, contra 13,600% no ajuste anterior.

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segunda-feira, 16 de maio de 2016

Coca-Cola prevê investir R$ 3,2 bi

Apesar do cenário recessivo e de uma retração de 6% nas suas vendas no Brasil no primeiro trimestre deste ano, a Coca-Cola Company e suas engarrafadoras investirão R$ 3,2 bilhões no país ao longo de 2017, um incremento de 9,3% em relação à média dos últimos cinco anos.
Diante da diminuição da renda e, consequentemente, do consumo, a companhia adotou no país uma estratégia de privilegiar embalagens retornáveis (que permitem ao consumidor obter desconto a partir da segunda aquisição do produto) e versões menores (e mais acessíveis) de suas bebidas. "Estamos tentando manter preços que façam sentido para o consumidor", disse ao Valor o presidente do Grupo América Latina da The Coca-Cola Company, Brian Smith.
A estratégia da empresa passa por compensar possíveis reduções nas margens de lucro com ganhos de produtividade na operação brasileira - cortes de custo e aumento de eficiência em processos. O esforço inclui melhora de rotas de distribuição e no processo fabril. A multinacional trabalha para ampliar a disponibilidade de seus produtos em embalagens de menos de 250 ml. A meta é ter as chamadas minilatas e miniPETs em 70% dos seus pontos de venda no Brasil até o fim dos Jogos Paralímpicos, em setembro. Atualmente, este percentual está em 63%.
"Ainda que num contexto difícil, vamos continuar investindo para estar numa posição favorável quando a economia se recuperar", disse Smith. A Coca-Cola também se valeu, em todo o mundo, a partir de 2014, de ganhos de produtividade para gerar recursos que foram reinvestidos em suas marcas, com destaque para a centenária Coca-Cola e todas as suas variedades. A companhia tenta fazer frente a demandas da sociedade relacionadas à saúde, como a redução de açúcar e o consumo de porções menores de bebidas e alimentos. Assim, lançou no Brasil, neste mês, a Coca-Cola adoçada com stevia (adoçante natural) e 50% menos açúcar em relação à versão tradicional.
Os R$ 3,2 bilhões a serem investidos no próximo ano no país serão direcionados ao desenvolvimento de novas linhas de produtos, à infraestrutura de produção e à cadeia de suprimentos, entre outras finalidades. Para este ano está prevista a aplicação de R$ 2,9 bilhões pela multinacional e suas engarrafadoras, encerrando um ciclo de investimentos de R$ 14 bilhões no período entre 2012 e 2016.
O afastamento da presidente Dilma Rousseff, aprovado na semana passada pelo Senado, não alterou os planos da empresa para o país, disse Smith. Ele destacou que analisa o Brasil - seu quarto maior mercado - dentro de uma perspectiva de longo prazo. "O Brasil passa por um momento muito difícil. Estamos vendo não só uma queda no PIB [Produto Interno Bruto], mas também da renda disponível ao consumidor", disse o executivo.


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sexta-feira, 13 de maio de 2016

Bancos gastam o dobro do lucro em provisões

Os grandes bancos brasileiros gastaram R$ 26,8 bilhões em provisões contra calotes no primeiro trimestre deste ano, um crescimento de 29,7% em relação ao mesmo período de 2015. A despesa representa pouco mais que o dobro do lucro líquido recorrente de Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander no trimestre, que somou R$ 13,1 bilhões. A chamada PDD contribuiu para que o resultado dos grandes bancos registrasse queda de 19% em relação aos três primeiros meses de 2015.
A alta ficou acima do esperado por analistas e despertou questionamentos para o impacto nos resultados dos próximos trimestres. O Banco do Brasil já revisou a projeção para as despesas de PDD no ano, que deverão representar entre 4% e 4,4% da carteira de crédito. A estimativa anterior variava entre 3,7% e 4,1%. Bradesco e Itaú Unibanco mantiveram as projeções, mas indicaram que a PDD deve ficar mais próxima ao teto da faixa indicada no início do ano.
As provisões derrubaram a rentabilidade dos bancos, cuja média anualizada foi de 13,1%, abaixo da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 14,25%. No primeiro trimestre do ano passado, o retorno sobre o patrimônio das instituições ficou, na média, em 17,2%.
O BB registrou o maior crescimento nas despesas com provisão no primeiro trimestre, de 59,2%, para R$ 8,7 bilhões. O Bradesco aparece em seguida, com alta de 52,2%, para R$ 5,4 bilhões. Ambos creditaram o avanço a uma operação com um cliente no setor de óleo e gás, que os analistas acreditam ser a Sete Brasil, fornecedora de sondas da Petrobras.
Sem indicar nomes de clientes ou setores específicos, o Itaú apresentou um aumento de 43,7% nas despesas para proteger o balanço contra a inadimplência, a R$ 6,402 bilhões. Com os sinais de estabilização da atividade econômica, que podem levar a um desempenho melhor do PIB em 2017, o banco vê espaço para uma eventual redução nas provisões. "Acreditamos que podemos ter alguma melhora a partir do segundo semestre deste ano", afirmou Eduardo Vassimon, vice-presidente e diretor financeiro do Itaú, que projeta uma despesa com provisões de R$ 22 bilhões a R$ 25 bilhões em 2016.
Entre os grandes bancos privados, o Santander teve a menor expansão nas provisões, de 14,8%, para R$ 2,4 bilhões. "Estamos em níveis normais de PDD, com deterioração controlada daqui para a frente", disse Angel Santodomingo, vice-presidente-executivo e diretor financeiro do Santander, em teleconferência com analistas.
A Caixa Econômica Federal foi a única instituição a registrar provisões menores no período, com uma despesa de R$ 3,8 bilhões, uma queda de 24,2%. As reservas teriam sido ainda menores não fosse um gasto extraordinário de R$ 700 milhões no trimestre, segundo o vice-presidente de finanças do banco, Marcio Percival. Assim como nas demais instituições, a despesa foi relacionada a clientes no setor de óleo e gás. O banco público vendeu carteiras de crédito em atraso no período, mas que não haviam sido baixadas para prejuízo, o que também ajudou a reduzir as provisões.
Embora os bancos relacionem a alta nas despesas a casos específicos, como o da Sete Brasil, a inadimplência como um todo subiu. A média do índice de atrasos acima de 90 dias passou de 3,3% em dezembro para 3,5% no fim do primeiro trimestre. Em valores, esse percentual representa pouco mais de R$ 98 bilhões em créditos atrasados nos balanços, considerando o saldo da carteira ampliada das instituições, que inclui avais, fianças e títulos privados.
"[A inadimplência] vai subir até uma melhora da economia acontecer", afirmou José Mauricio Pereira Coelho, vice-presidente de relações com investidores do BB, em entrevista coletiva sobre o balanço, realizada ontem na sede do banco em São Paulo. O executivo não quis estimar, contudo, um prazo para essa melhora.
Os bancos compensaram parte das perdas com a inadimplência com a alta dos spreads de crédito. A taxa básica de juros mais alta em relação ao mesmo período do ano passado contribuiu para o ajuste. Com a esperada queda da Selic ao longo do ano, é de se esperar que o efeito para os bancos seja o contrário. O diretor de relações com investidores do Bradesco, Luiz Carlos Angelotti, afirmou, contudo, que o impacto da Selic menor nos resultados do banco deve ser neutro.

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quinta-feira, 12 de maio de 2016

Investidor espera as primeiras medidas

Uma melhora adicional nos preços dos ativos brasileiros vai depender das medidas que devem ser anunciadas por Michel Temer na presidência. O consenso entre os analistas é de que serão necessárias iniciativas que acelerem as reformas estruturais e que possam contribuir para a retomada de confiança no país. Mas, também é consenso de que a aprovação pode encontrar resistência no Congresso. Se na largada houver sinalizações favoráveis, há espaço para o capital externo trazer um pouco de adrenalina aos negócios.
Ontem, o mercado financeiro já considerava como certa a saída da presidente Dilma Rousseff do cargo. A bolsa de valores fechou em baixa de 0,58% aos 52.764 pontos. O atual patamar do Ibovespa já considera um novo governo, que possa adotar uma política fiscal e monetária mais austera. "Mas após a conclusão do impeachment a bolsa ainda pode ter uma injeção de adrenalina e chegar a 57.000 pontos", afirma Adeodato Volpi Netto, diretor da Eleven Research.
O dólar recuou 0,61%, a R$ 3,44, mesmo com a atuação do Banco Central no câmbio, que voltou a vender swaps cambiais reversos, depois de cinco pregões consecutivos fora do mercado. O BC vendeu 47.970 contratos em três leilões, operação equivalente à retirada de US$ 2,399 bilhões do mercado futuro. Já os juros futuros fecharam em baixa na BM&F, refletindo a expectativa positiva com a possível troca de comando do BC, com a provável nomeação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn para o cargo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 recuou de 12,42% para 12,25%. Indicador da melhora de percepção de risco, a inclinação da curva a termo de juros - dada pela diferença entre o DI para janeiro de 2021 e o DI para janeiro de 2017 - ficou negativa em 1,34 ponto ontem, menor nível desde 26 de junho de 2015, antes de o Brasil perder o grau de investimento.
Para Sérgio Goldenstein, sócio diretor da Flag Asset Management e ex-diretor do BC, a aprovação de medidas fiscais e parafiscais em um possível governo de Michel Temer, além de reformas regulatórias devem abrir espaço para que os investidores estrangeiros aumentem as aplicações no Brasil e promovam uma nova rodada de valorização dos ativos locais.
Entre os ativos que podem se beneficiar da melhora da percepção de risco pós-impeachment, Goldenstein acredita que a bolsa de valores seria a mais beneficiada porque seus fundamentos técnicos estão "underweight" (abaixo da média) e há espaço para um rali. As taxas de juros também devem seguir caindo, principalmente os contratos mais longos, conforme as medidas sejam postas em prática e com a percepção de uma política monetária mais sólida.
Já no câmbio, Goldenstein acredita que há espaço para valorização adicional do real com o aumento de fluxos externos para o Brasil, mas a velocidade desse movimento vai depender das atuações do BC. "Se o governo conseguir implementar o ajuste fiscal e as reformas, acho que o câmbio vai recuar para a casa dos R$ 3,30."
O ajuste, segundo ele, é essencial para abrir espaço para que o BC reduza o juro básico, hoje em 14,25% ao ano "A condição necessária para o BC começar a cortar a taxa Selic é a melhora das expectativas de inflação e acho que ele deve iniciar o afrouxamento monetário no segundo semestre, a partir de julho". Ele espera quatro quedas de 0,50 ponto percentual.
Para o o gestor sênior de renda fixa da Absolute Investimentos, Renato Botto, o potencial de queda é maior nos juros futuros do que no dólar, embora a moeda americana possa testar novas mínimas caso o mercado tenha satisfeitas as expectativas com relação a um governo Temer.
A continuidade do rali dos ativos financeiros domésticos vai depender do cumprimento das medidas de ajuste esperadas em um governo de Temer, afirma Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos, para quem Temer tem surpreendido pela maior habilidade política. "O mercado está no modo otimista sobre o que Temer pode fazer no Congresso. E isso faz preço já que disso depende a aprovação das medidas fiscais".
Já Marcelo Allain, professor da Fipe, acredita que o preço dos ativos financeiros já reflete essas possíveis mudanças políticas. "A bolsa pode subir um pouco mais no início de um eventual governo Temer porque tem a influência do petróleo no mercado internacional".
Na contramão de boa parte do mercado, Luis Stuhlberger, gestor do Verde, principal fundo multimercado brasileiro, não embarcou na expectativa de alta da bolsa derivada de uma troca de presidente. "Acreditamos que a bolsa reflete um exagero de otimismo em relação ao novo governo, que não justifica alocação e portanto temos uma pequena posição vendida", escreveu em relatório.
Na renda fixa, o fundo atravessa esse conturbado momento político com uma grande posição em NTN-Bs, títulos públicos indexados à inflação. "Vemos bastante espaço para o juro real continuar caindo", informou em carta aos investidores. Sobre o câmbio, a expectativa é de taxa estável dentro de uma pequena banda de oscilação, com o BC de um lado desfazendo os swaps e, do outro, o dólar, "pelo menos temporariamente", sem tendência de alta diante das demais moedas. Por essa visão, o fundo tem hoje uma posição vendida em dólar contra o real.

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quarta-feira, 11 de maio de 2016

Investir menos coloca teles sob risco

O investimento insuficiente das operadoras de telecomunicações da América Latina em infraestrutura, faixa de frequência e tecnologia provavelmente representará um risco para as empresas no fim da década. O alerta faz parte de um relatório da agência de classificação de crédito Moody's.
No levantamento, que reúne dados de 2012 até projeções para 2018, a agência destacou o comportamento das operadoras em relação a investimentos, lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e margens Ebitda.
O crescimento do Ebitda é estimado em cerca de 1,5% até o fim de 2017. No mesmo período, a estimativa é que os investimentos sofram cortes de 6,5%. Se somado o Ebitda das empresas e descontada a evolução dos investimentos, o resultado é 5,8% em 2016 e mais 5,2% em 2017. A redução gradual dos investimentos é efeito da estratégia prevista para o período.
A consequência prática da queda dos investimentos aparece na deterioração da qualidade da rede das teles, cobertura, capacidade de tráfego, velocidade de transmissão de dados, entre outros serviços. O cumprimento das metas fica comprometido.
O grupo mexicano América Móvil, controlador da Claro e da Net / Embratel no Brasil; e a Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, enfrentam as duras condições do cenário político-econômico. Paralelamente, empresas-irmãs passam por dificuldades em outros países da América Latina, como o Peru, Chile e México. Em todos os mercados, mesmo as empresas menores terão problemas nos próximos anos para melhorar o capital enquanto cumprem as metas.
As margens combinadas de Ebitda do setor na região vão cair de 35,6%, no fim de 2015, para cerca de 33% em 2018, segundo o relatório.
Vários fatores contribuem para esse cenário. A instabilidade político-econômica, as mudanças regulatórias, a perda de poder aquisitivo dos consumidores e erros estratégicos. Para que as empresas cresçam ou simplesmente sobrevivam, seus gestores precisam fazer escolhas por vezes dolorosas. E é aí que o lucro e os investimentos acabam pressionados, exigindo um exercício para encontrar o ponto de equilíbrio.
Entre as quatro grandes operadoras que atuam no Brasil, só a TIM, subsidiária da Telecom Italia, e a Oi não estão vinculadas a grupos que atuam em outros países da região.
Alguns executivos costumam dizer que as teles são mais resilientes diante da recessão, frente a outros setores. Os dados mostram, porém, que nem todas têm se saído tão bem quanto Telefônica e Claro. Além de mais bem posicionadas financeiramente, com receita líquida robusta, essas empresas privilegiam o segmento pós-pago, que permite ter uma previsão de receita e valores maiores em relação ao pré-pago.
O primeiro trimestre fechou com 257,8 milhões de linhas celulares no país. O pré-pago abocanhou 71,41% do setor, revelando uma desaceleração se comparado aos 75,48% de um ano antes.
Até agora, só Vivo, Claro, Nextel e a Algar, de atuação regional, divulgaram os resultados do trimestre. Na Vivo, Claro e Algar, o pré-pago está em desaceleração em relação a igual período de 2015; a Nextel, que só tem planos pós-pagos, perdeu 9% dos clientes, ficando com 4 milhões no trimestre.
Na Vivo, do total de 73,27 milhões de clientes do serviço móvel no trimestre, 57,34% eram pré-pagos, ante 64,7% um ano antes.
Na Claro, dos 65,97 milhões de usuários, 74,16% eram da base pré-paga, com redução de 3,75 pontos percentuais em 12 meses.
Na Algar, a fatia de pré-pagos foi de 74,23%, com recuo de 1,86 ponto na mesma base de comparação.
A TIM divulga seus resultados hoje. Até o fim de 2015, o pré-pago tinha participação de 79,5% em sua carteira de clientes.
Já a Oi, que divulga seu relatório do trimestre amanhã, manteve o pré-pago estável no ano passado, com 81,9% em dezembro.
Mais bem posicionadas, Vivo, Claro e Algar podem obter melhor aproveitamento do pós-pago e do crescimento da demanda por dados. Oi e TIM têm menos flexibilidade e, segundo a Moody's, lançam mais foco no pré-pago, que encolhe rapidamente.
A TIM está à mercê da francesa Vivendi, que é a principal acionista da Telecom Italia, controladora da companhia. O CEO da Vivendi, Arnaud de Puyfontaine, foi nomeado vice-presidente do conselho da Telecom Italia em 27 de abril. Logo depois, o grupo italiano adiou a divulgação de seu resultado financeiro de 5 para 13 de maio. Além disso, o presidente do conselho da companhia, Giuseppe Recchi, informou que o grupo planeja mudanças no quadro de gestores do Brasil. Vale lembrar que o mandato do presidente da TIM Brasil, Rodrigo Abreu, venceu em março. A possibilidade de mudanças ganhou força quando Flavio Cattaneo assumiu a presidência da Telecom Italia. Uma opção é que Abreu passe a presidir o conselho da TIM.
Tudo passou a acontecer muito rapidamente no grupo italiano, desde que o maior acionista e presidente do conselho da Vivendi, Vincent Bolloré, elevou a participação de sua empresa para 24,9% do capital social da Telecom Italia.
Bolloré quer desenvolver o negócio de mídia e entretenimento de seu grupo, sob o qual está a Mediaset. A TIM Brasil é uma ilha dentro dessa estratégia e as expectativas são de que o empresário use sua força na Telecom Italia para impor seus planos de vender a TIM e se concentrar na Europa.

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terça-feira, 10 de maio de 2016

Com aportes, clínicas populares avançam

Desde o ano passado, mais de 1,6 milhão de pessoas perderam o convênio médico e o orçamento do Sistema Único da Saúde (SUS) teve uma redução de cerca de R$ 12 bilhões. Nesse cenário, o mercado de clínicas médicas populares deve mais que dobrar nos próximos dois anos, com aportes de investidores de diferentes perfis. Juntos eles estão investindo cerca de R$ 500 milhões em cinco redes: Dr. Consulta, Meu Doutor, Clínica Fares, Dr. Agora e Clínica SIM-Serviços Integrados em Medicina.
Além da expansão orgânica, as clínicas médicas populares - cujo preço da consulta varia de R$ 89 a R$ 120 - estão diversificando o negócio. Boa parte desses consultórios atende principalmente casos simples, mas em alguns deles já é possível realizar pequenos procedimentos cirúrgicos e exames de imagem como raio-x e ultrassom.
A concorrência neste mercado promete ser acirrada. Várias dessas redes têm à frente executivos tarimbados, acostumados a planilhas e métodos de gestão, e médicos experientes na sociedade. A Dr. Consulta vai nessa toada. Foi criada pelo administrador de empresas Thomaz Srougi, com passagem pela Ambev e MBA por Harvard. Filho do médico Miguel Srougi, renomado urologista do Hospital Sírio Libanês, Thomaz tem como sócios médicos formados pela USP e por Harvard.
Fundada em 2011, em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, a Dr. Consulta tem atualmente 12 unidades e faz 50 mil atendimentos por mês. Deve chegar ao fim deste ano com 30 clínicas. A rede já recebeu investimento de US$ 42 milhões de fundos estrangeiros e dos sócios fundadores, que detêm o controle. "A empresa é baseada em três pilares: gestão, dados clínicos e bons profissionais. Quando resolvemos alçar um empreendimento, pensamos em replicar o modelo de gestão que aprendemos na Ambev", diz Thomaz.
Ele afirma que investe muito em tecnologia tanto para o operacional quanto para análise de dados médicos dos pacientes. Essas informações também ajudam o médico a traçar o tratamento mais adequado.
Outra rede em expansão é a Clínica SIM - Serviços Integrados em Medicina, que atua no Norte e Nordeste, regiões onde há menos pessoas com planos de saúde. Denis Cruz, fundador e presidente da SIM, espera elevar o faturamento em 78% este ano e passar de seis para dez unidades. "Percebemos um aumento na procura por parte das pessoas que tinham convênio médico e que não estão dispostas a 'navegar' no SUS. As clínicas populares estão se tornando uma terceira opção ao SUS e ao plano de saúde com uma velocidade altíssima", afirma.
A empresa está levantando uma nova rodada de recursos com fundos de investimento para financiar a ampliação dos negócios e atender a demanda crescente. O primeiro aporte foi feito por um grupo seleto de investidores como Carlos Alberto Degas Filgueiras (presidente do grupo Devry, de educação), Rodrigo Galindo (presidente do grupo Kroton), Ari de Sá Neto (fundador do sistema de ensino SAS) e Rafaela Villela (sócia do fundo de investimento Gera Venture Capital, do empresário Jorge Paulo Lemann).
"O Rodrigo e o Degas me ajudam muito na gestão porque o modelo de negócio deles também é baseado em escala e qualidade. Nesse sentido, por exemplo, decidimos expandir com unidades próprias para ter mais controle do negócio e não por meio de franquia", diz Cruz, que é formado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, onde também estudou o presidente da Devry. A universidade americana foi o elo entre Cruz e Degas, o primeiro a investir na rede de clínicas populares e que, por sua vez, convidou outros empresários da área de educação para a sociedade.
A Meu Doutor abriu, no sábado, sua primeira unidade de olho no envelhecimento da população e em pacientes com doenças crônicas. A empresa já começa com investimento de R$ 100 milhões e a meta é ter 15 consultórios até o fim do próximo ano. Segundo o Valor apurou, o investidor é a gestora australiana de fundos Simon Partners que passou a deter 52% da Meu Doutor. A outra fatia está distribuída entre o fundador, o cardiologista Maurício Serpa, e o pediatra Thiago Caetano, ambos médicos do Hospital São Luiz Rede D'Or.
"Nosso foco é o trabalho de prevenção. Montamos pacotes para pacientes de doenças crônicas. São 12 consultas por ano por R$ 79 ao mês. A consulta de um atendimento normal varia de R$ 89 a R$ 99", diz Serpa. A primeira unidade fica no Grajaú, bairro pobre em São Paulo. "O hospital público Grajaú atende 45% acima de sua capacidade", acrescenta ele, que começou a desenhar o projeto há três anos e foi em busca de investidores.
Com investimento e experiência de Rick Krieger, um dos fundadores da Minute Clinic, rede de consultórios instalados dentro das farmácias americanas CVS, a Dr. Agora tem como estratégia ter unidades em áreas de grande circulação como estações de metrô e supermercados e foco em atendimentos simples. "O modelo brasileiro de saúde é ineficiente. Cerca de 70% dos atendimentos realizados em pronto-socorro poderiam ser tratados em consultório", afirma Guilherme Berardo, fundador e presidente da Dr. Agora, cuja meta é triplicar o número de clínicas até 2017. Hoje, são cinco unidades em funcionamento em São Paulo.
No mercado há quase 30 anos, a Clínica Fares também tem um plano ambicioso de expansão. Espera passar das atuais duas unidades para 14 até 2019. O projeto vai demandar investimentos de cerca de R$ 130 milhões. Os recursos serão aplicados pelo criador da rede, o médico Adiel Fares, um dos fundadores da varejista de móveis Marabraz. O modelo de negócio da Clínica Fares é um pouco diferente dos seus concorrentes, uma vez que atende também planos de saúde e realiza procedimentos como pequenas cirurgias, como biópsia, por exemplo. "Para cirurgias de alta complexidade, temos parcerias com hospitais. Compramos um período do dia do centro cirúrgico dos hospitais e com isso conseguimos melhores preços para nossos clientes", diz Fares.

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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Tecnologia financeira vai disputar clientes do setor bancário

O maior pesadelo dos bancos tradicionais hoje está bem aí no seu bolso ou bolsa. A chamada tecnologia financeira - ou, no jargão do mercado, "fintech", uma contração dos termos em inglês "financial technology" - usa e abusa da mobilidade e da internet para implementar de modo eficiente e conveniente serviços antes restritos às instituições financeiras. Os principais palcos onde essa disputa tem sido travada são justamente os smartphones e tablets.
O que assusta os executivos é a possibilidade de o consumidor pular a intermediação, ou seja, o próprio serviço das instituições financeiras. Ainda é cedo para saber se os bancos têm motivos para preocupações, mas, em alguns poucos anos, as respostas estarão ao alcance de suas mãos.
O canal móvel avança a passos largos no Brasil. Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com os sete maiores grupos financeiros do país, divulgada em dezembro, mostra que no primeiro semestre do ano passado 21% das transações se originaram de smartphones e tablets. No fim de 2014, as operações por meio de dispositivos móveis representavam apenas 14% do total.
Uma das apostas mais recentes de "fintech" com potencial disruptivo tem um brasileiro com sobrenome empreendedor entre os responsáveis. Parte da quarta geração de herdeiros da família Ermírio de Moraes, dona do grupo Votorantim, Lucas Moraes, de 26 anos, decidiu trilhar um caminho bem diferente da jornada industrial que consagrou seu tio-avô Antônio Ermírio e seu pai Marcos Ermírio de Moraes.
Em 2014, o administrador de empresas e ex-piloto de motocross decidiu dar uma guinada radical nos rumos de sua carreira e seguiu seus instintos. Mudou-se para o Vale do Silício, em São Francisco, nos Estados Unidos, para "estudar tecnologias exponenciais e trabalhar com inteligência artificial".
Os dois anos de expatriação e imersão no ambiente de tecnologia inovativa do vale resultaram no projeto Olivia, criado por Moraes com outros sócios. "Trata-se de um robô-aplicativo, criado para cuidar da vida financeira do usuário", resume.
O aplicativo, afirma o empreendedor, já tem uma versão operacional para usuários de iPhone, da Apple, que será lançada ainda no primeiro semestre nos Estados Unidos. No Brasil, a expectativa da "startup" é disponibilizar o serviço a partir do segundo semestre, já com versões para o sistema operacional Android, do Google, também.
A descrição sucinta esconde o verdadeiro objetivo: tornar o aplicativo um banco. "Queremos criar um novo modelo de intermediação financeira, o banco do futuro", afirma o empreendedor.
A ideia, segundo Moraes, é cuidar do dinheiro em todas as dimensões financeiras do usuário, o que inclui pagamentos de contas, transferências monetárias, planejamento orçamentário e até investimentos. A chave para isso, diz, é a inteligência artificial. O robô vai aprender a cada momento mais sobre os hábitos e necessidades da pessoa. "A Olivia vai chegar a um ponto no qual vai, por exemplo, aconselhar o momento de abastecer o carro e apontar qual o melhor lugar ao longo da rota", afirma.
O aplicativo será acionado por frases em linguagem natural, como "posso comprar isso?", cita o empreendedor. Essa pergunta específica, por exemplo, vai desencadear uma série de análises, desde endividamento, acesso a crédito, folga no orçamento, e, caso a resposta seja afirmativa, vai incluir uma pesquisa para identificar se aquele é o melhor preço. "Será tudo automático. Para transferir dinheiro bastará avisar: 'Olivia envie um valor x para tal pessoa'", diz.
Segundo Moraes, o robô usa sensores embutidos nos smartphones atuais para monitorar hábitos do usuário e, além disso, conecta-se às contas bancárias e usa aplicativos terceiros para pesquisar diversos tipos de informações, como preços e serviços.
Nos EUA, afirma, a startup já fez acordos com a maior parte das instituições financeiras para conseguir acesso às contas e dados bancários do usuário, desde que o cliente autorize essas consultas e, futuramente, eventuais operações. No Brasil, o serviço ainda está em fase de negociação com os principais bancos, diz.
Em relação ao que acontece nos Estados Unidos, a área de tecnologia financeira ainda engatinha no Brasil. Já estão disponíveis no mercado americano, por exemplo, soluções em que consultores-robôs fazem a gestão automatizada da carteira de investimentos do usuário, com rebalanceamento periódico e escolha de ativos conforme o perfil de risco da pessoa.
Conforme os serviços financeiros começam a ganhar fama mundo afora, passam a ser alvo de empreendedores locais. É o caso dos consultores-robôs. O primeiro em desenvolvimento de que se tem notícia no Brasil tem lançamento programado para o segundo semestre. A Vérios, desenvolvedora, tem inspiração nos modelos americanos. "É um serviço com todos os pilares de investimento automatizado nos EUA, adaptado para o Brasil", diz Felipe Sotto-Maior, executivo-chefe da empresa.
O serviço vai agregar um aplicativo para o usuário acompanhar os investimentos e interagir com a empresa. De acordo com Sotto-Maior, a tecnologia vai juntar a alocação combinada previamente com o cliente com uma gestão prática da carteira. "Aí entra a automatização: o algoritmo faz todas as contas matemáticas e todas as operações financeiras."
O algoritmo, segundo o executivo, é capaz de ler o perfil do usuário, compará-lo com a alocação estratégica escolhida, verificar o saldo e fazer a alocação. "A gente tem visto que, além dos problemas de custo, as pessoas simplesmente não seguem o planejamento, porque dá muito trabalho", explica. O consultor-robô da Vérios pretende assumir todo o trabalho "enfadonho" relacionado ao acompanhamento e ao rebalanceamento do portfólio.
Sotto-Maior afirma que, inicialmente, o aporte mínimo para usufruir do serviço será de R$ 50 mil. Depois, sem obrigação com prazo ou regularidade, o investimento adicional tem de ser a partir de R$ 100. "A gente quer baixar o tíquete, mas hoje ainda não é viável, pois se eu baixar demais o valor da carteira os custos em reais ficam pesados", conta o empreendedor.
Para uso do serviço, a Vérios cobra uma taxa fixa única de 0,95% ao ano sobre o patrimônio. "Isso inclui todos os custos que o cliente tem, como corretagem, custódia, taxa da BM&FBovespa para o Tesouro Direto e taxa de administração de ETFs", diz.
Os Exchange Traded Funds (ETFs), fundos de índices com cotas negociadas em bolsa, são os principais ativos usados na alocação automática. Segundo o executivo da Vérios, na renda variável, o serviço faz alocações em um ETF que replica o IBrX-50. Na fatia em renda fixa, o investimento será feito por meio do Tesouro Direto, plataforma on-line de negociação de títulos públicos, com compra de LFT (papéis pós-fixados atrelados à Selic), as prefixadas LTN e NTN-F e as NTN-Bs, títulos indexados ao IPCA que pagam uma parcela de juro real. Além dos ativos brasileiros, o robô da Vérios fará alocação no exterior por meio de um ETF que segue o índice S&P 500 da bolsa de Nova York. A liquidez da carteira, afirma Sotto-Maior, será de cinco dias úteis.
Antes de contratar o serviço, o cliente passa por uma fase de "suitability", que vai definir o perfil de aceitação de risco. "O interessado vai responder diversas perguntas, como ele lida com dinheiro, com risco, capacidade de poupança e outras questões relevantes", afirma Sotto-Maior.
Na parte operacional, o contratante abre uma conta no sistema da Vérios e outra conta financeira na corretora. Depois, tem de assinar um contrato de mandato de gestão para transferir à Vérios a responsabilidade de cuidar da conta individual do cliente na corretora. "Montamos o modelo após consultas à CVM [Comissão de Valores Mobiliários] para fazer todo o processo dentro da regulação vigente", explica Sotto-Maior.
Isso inclui manter todas as informações sobre a carteira, ativos, operações, rentabilidade e riscos acessíveis o tempo todo ao investidor.

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sexta-feira, 6 de maio de 2016

Por trás da turbulência europeia

Foi um início de ano difícil para as economias europeias. Os comentários sobre recessão ganham força em meio à piora nas expectativas de crescimento e aos fortes declínios sucessivos nos mercados de ações mundiais, encabeçados pelas ações das instituições financeiras.
As políticas de taxas de juros negativas (PTJNs) deveriam funcionar da seguinte forma: primeiro, as taxas de juros negativas desencorajam a poupança. Segundo, podem ajudar a impulsionar a concessão de créditos, uma vez que os bancos precisam pagar para guardar reservas em excesso. E, terceiro, taxas de juros negativas podem estimular as exportações já que a moeda local se enfraquece quando o capital foge em busca de retornos maiores em outros países. Isso eleva o preço das importações e incentiva as exportações. Tudo isso contribuiria para elevar o crescimento econômico e a inflação. Nesse sentido, o impacto das PTJNs não é diferente em relação ao de uma redução das taxas de juros. É que agora as pressões deflacionárias levaram essas baixas taxas de juros para o território negativo.
Este é o momento para consolidar a recuperação incipiente da região. Até agora, o BCE esteve comprando tempo, mas o pessimismo entre os investidores começa a ficar mais visível e neste momento cresce temor de que o BCE esteja ficando sem munição.
A introdução das PTJNs, de início pela Dinamarca e depois pelo Banco Central Europeu (BCE), foi seguida por rendimentos negativos em muitos títulos governamentais. Há muitos motivos para isso. Primeiro, as taxas básicas dos bancos centrais são a referência para os custos de captação de curto prazo, de forma que os títulos governamentais de curto prazo passaram a dar retornos mais baixos. Na verdade, parte do plano das PTJNs é afastar os investimentos dos papéis do governo e guiá-los para o setor privado em busca de melhores retornos.
Segundo, há um descasamento entre a oferta e demanda por bônus governamentais. Desde 2004, os bancos centrais nas economias avançadas acumularam quase US$ 10 trilhões em títulos governamentais, enquanto a oferta líquida desses papeis aumentou apenas US$ 2,5 trilhões (Pimco).
Uma terceira razão para os títulos com rendimento negativo e sua alta demanda são os investidores que preferem "voar para a qualidade", priorizando ativos que consideram "seguros". Uma quarta causa são as exigências de regulamentação, que obrigam alguns investidores institucionais a ter bônus governamentais, como as seguradoras ou os próprios bancos centrais. Uma quinta e última razão é a expectativa de que a moeda se valorize e compense os juros negativos. Isso explica, por exemplo, por que alguns investidores estão interessados nos títulos do governo suíço com rendimento negativo.
Também há, no entanto, consequências adversas das PTJPNs. Os juros negativos vêm corroendo o lucro bancário, em grande parte porque as instituições financeiras parecem incapazes ou pouco dispostas a repassar as taxas negativas para seus depositantes. A menor lucratividade, por sua vez, torna mais difícil para os bancos acumularem as reservas de capital que os tornam mais seguros, especialmente no novo cenário de regulamentação do Mecanismo de Recuperação e Liquidação de Bancos introduzido na Europa no início de 2015. Sob essas regras, os detentores de títulos estão expostos a maior risco, já que podem ser uma das soluções para socorrer bancos problemáticos sem a necessidade de dinheiro dos governos.
Além disso, diante das taxas de juros mais baixas da história, os poupadores podem optar por ficar com dinheiro vivo, anulando um dos papéis desempenhado pelos bancos, de multiplicadores do dinheiro. Ou, ainda, podem buscar ativos de maior risco para compensar os baixos retornos.
Em meio a essa desordem econômica, a possível saída britânica da UE vem criando tensões. O referendo está marcado para 23 de junho. Há muito em jogo, tanto para o Reino Unido quanto para a UE. Os laços comerciais entre as duas partes são muito estreitos e ficariam seriamente prejudicados no caso de uma saída do Reino Unido. Mais de 51% das exportações de mercadorias britânicas vão para a UE, embora essa proporção venha diminuindo. A UE exporta quase 7% de seus bens para o Reino Unido, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Também há elos financeiros muito fortes entre o Reino Unido e uma parte significativa da UE, com a City londrina servindo de centro financeiro para a negociação de ações e títulos.
Embora os mercados estimem baixa probabilidade de o Reino Unido sair da UE, a intenção dos eleitores está dividida, então provavelmente teremos alguns meses de montanha-russa pela frente. Além disso, embora o risco de a Grécia deixar a região do euro tenha diminuído, também pode haver certa turbulência nesse front. O principal motivo é a complicada, mas necessária, reforma previdenciária que o país tenta promover.
A Grécia tem mais desempregados e aposentados do que pessoas empregadas. Em 2015, teve de destinar mais de 20% de seu orçamento ordinário para cobrir o déficit nos fundos previdenciários. Em julho, vai precisar cobrir os € 3,5 bilhões que deve ao BCE. A essas pressões econômicas, devemos adicionar a crise migratória e as tensões na fronteira macedônia. Tudo isso alimenta as inquietações no continente em um momento muito próximo de 23 de junho.
A volatilidade na Europa está destinada a continuar, mas não devemos nos esquecer que ainda se projeta crescimento anual em torno a 1,5% na região, bem longe do terreno negativo. Este é o momento para consolidar essa recuperação incipiente. Até agora, o BCE esteve comprando tempo, mas o pessimismo entre os investidores começa a ficar mais visível e neste momento cresce temor de que o BCE esteja ficando sem munição. O BCE vem trabalhando muito, mas não pode fazer tudo sozinho. Chegou a hora de a política fiscal desempenhar seu papel e de as reformas estruturais voltarem a entrar em cena. (Tradução de Sabino Ahumada).

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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Empresa renegocia bônus externo

A combinação entre juro alto, aumento do custo de carregamento da dívida e deterioração dos fundamentos, com queda de receita e geração de caixa, deve levar mais empresas a renegociações de dívida como a anunciada pela Gol na noite de terça-feira para os US$ 800 milhões em bônus no exterior. A próxima, e mais relevante, da fila é Oi, com US$ 8 bilhões só em títulos de dívida no exterior. A empresa de telefonia já contratou uma assessoria para reestruturação de seu passivo e estuda um plano para apresentar aos credores.
A dívida passível de sofrer algum corte ("haircut") atinge US$ 12 bilhões, cerca de 8% dos US$ 150 bilhões de estoque de bônus privados no exterior, emitidos por empresas e bancos. Nesse grupo, estão desde emissões que já sofreram algum default, entre elas Schahin, Odebrecht Óleo e Gás, Cimento Tupi, Tonon Bioenergia, Grupo Virgolino de Oliveira (GVO) e Aralco, até casos de empresas que estão ou têm alta probabilidade de reestruturação, como as emissões de Gol e Oi, além de USJ Açúcar e Álcool, que negocia troca de bônus.
Trata-se de um volume relevante, que ainda não pode ser considerado "baixa", mas está em linha com a taxa de default para emissores considerados de alto risco ("high yield") nos Estados Unidos em períodos de estresse, pondera um executivo de banco de investimento que preferiu não ser identificado. Em fevereiro, segundo monitoramento da Fitch Ratings, a taxa de default de emissões high yield esperada para o setor de energia dos EUA superava os 9%, puxado pelo segmento de exploração e produção, com indicador acima de 14%.
Para se ter uma ideia, na América Latina, a taxa de default para emissões corporativas de bônus com grau especulativo (o dado exclui bancos e setores regulados, como o de concessões), segundo monitoramento da Moody's, atingiu 4,9% em março, acima dos 4,6% da média global. Entram na conta, além de falta de pagamento, renegociações forçadas de dívida, ainda que em concordância dos credores, violação de cláusulas ("covenants") que gere vencimento antecipado, troca de dívida em situação de estresse, processos de recuperação judicial.
Para os próximos 12 meses, afirma Cristiane Spercel, vice-presidente e analista sênior da Moody's, a expectativa é que a taxa supere os 5%, ainda como reflexo dos baixos preços de commodities como metais, minério e petróleo e por conta de situações específicas. No caso do Brasil, de empresas envolvidas na Operação Lava-Jato, além de Oi e Gol, em fase de renegociação, e, no México, de construtoras que sofrem com o corte de projetos públicos.
A Moody's não abre a taxa de default relativa ao mercado brasileiro, mas, conforme Cristiane, do valor total de cerca de US$ 152 bilhões relativo a 117 emissões high yield de América Latina com rating acompanhadas pela agência, 73% referem-se a emissores com domicílio no Brasil - só Petrobras concentra 34% da dívida classificada.
Contudo, um acompanhamento da Moody's sobre a liquidez das empresas brasileiras não financeiras mostra que o risco de financiamento aumentou, uma vez que a economia deve continuar enfraquecida. Segundo Erick Rodrigues, vice-presidente e analista sênior da Moody's, o número de companhias classificadas em situação de alto risco aumentou para 33% no fim de 2015 ante 28% em 2014. Nesse grupo, estão companhias cujas fontes de liquidez, como caixa e equivalentes, cobrem menos do que 150% dos vencimentos de dívida nos próximos 12 meses.
"Ainda que as companhias venham trabalhando para reforçar a liquidez, o caixa, a situação está cada vez mais difícil por conta da deterioração dos fundamentos de setores especialmente expostos ao mercado doméstico e de commodities, como óleo e gás e mineração, e do aumento da aversão a risco tanto por parte de investidores como de bancos".
Entre os setores em situação crítica, destaque para óleo e gás e construção imobiliária. No grupo com risco médio de liquidez, metais e mineração, transportes e telecomunicações. Na análise por empresa, Petrobras, que só no exterior responde por um terço da dívida privada brasileira (US$ 51,6 bilhões), e Oi concentram o maior risco, segundo a Moody's. A agência cita que a empresa de telefonia só tem caixa para honrar vencimentos e juros neste ano.
A Moody's destaca ainda o caso de Usiminas que enfrenta dificuldade para gerar caixa de suas operações, o que deve manter suas métricas de crédito pressionadas por um longo período e o risco de financiamento em níveis altos se não houver uma reestruturação. Em março, a empresa anunciou um acordo com seus principais credores (nove bancos no país e no exterior) para a suspensão temporária de pagamento de dívidas pelo prazo de 120 dias, condicionada à conclusão de uma capitalização de R$ 1 bilhão. Em bônus, a dívida é pouco relevante.
A própria CSN já esteve mais pressionada, por conta da alta alavancagem, mas conseguiu alongar sua dívida bancária, dando fôlego para 2016 e 2017.
Hoje, diz Rodrigues, diante da desaceleração econômica e do cenário de incerteza política, o ambiente para as empresas buscarem financiamento está muito mais seletivo e caro. O problema de rolagem, afirma Hans Lin, responsável pela área de banco de investimentos do Bank of America Merrill Lynch (BofA), varia conforme a companhia e o setor.
Empresas com caixa devem aproveitar para pré-pagar dívidas. "Com o desconto grande dos bônus brasileiros no mercado secundário, a recompra virou o melhor investimento", afirma. Marfrig, Raízen, Votorantim Cimentos e Hypermarcas estão entre as empresas que anunciaram recompra. Algumas companhias, continua Lin, vão buscar o alongamento e outras, de fato, vão ter problemas para honrar os compromissos, tendo de partir para a renegociação com credores.

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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Cruz desiste e Trump deve disputar a Presidência

O bilionário Donald Trump venceu ontem por ampla margem as prévias do Partido Republicano em Indiana. Ele tornou-se o virtual candidato do partido à Presidência dos EUA nas eleições de novembro, com a desistência do principal rival na corrida - o senador Ted Cruz (Texas).
"Vamos fazer a América grande de novo", discursou Trump, enquanto a mídia americana falava de um nocaute em Cruz e John Kasich, terceiro colocado na disputa.
Depois, centrou fogo na a democrata Hillary Clinton, sua provavelmente concorrerá pela Casa Branca. "Nós vamos atrás de Hillary Clinton. Ela não será presidente, ela não seria uma boa presidente."
Até o fechamento desta edição, não havia dados finais da apuração e nem da distribuição dos 57 delegados em disputa no Estado. Mas, pelas projeções da rede de TV CNN, Trump provavelmente ficaria com todos os delegados.
Isso o deixa bem mais perto de obter os 1.237 delegados necessários para garantir a candidatura presidencial republicana.
Pelas projeções, Trump conseguiu ontem mais de 50% dos votos, percentual similar ao que ele obteve nas últimas prévias. Isso num Estado considerado conservador, onde o senador Ted Cruz supostamente deveria ter ido melhor.
"Desde o começo, eu disse que continuaria [com a campanha] desde que houvesse um caminho viável para a vitória", disse Cruz a seus apoiadores em Indianapolis. "Nesta noite, lamento dizer, parece que esse caminho foi fechado."
Com a desistência de Cruz, Trump fica muito perto da candidatura presidencial, apesar da intensa oposição a ele dentro do Partido Republicano. Nos últimos dias, Trump já vinha dizendo que, para ele, a disputa havia acabado.
A vitória do empresário ontem expôs ainda a ineficácia da campanha para barrá-lo, promovida por dirigentes do Partido Republicano e por grupos políticos financiados por doadores do partido, que gastaram maciçamente em propaganda anti-Trump em Indiana.
As prévias do Partido Democrata no Estado não tinham um vencedor até o fechamento desta edição. Projeções indicavam, porém, uma vitória apertada do senador Bernie Sanders sobre Hillary Clinton. Mas essa prévia pouco deve alterar o favoritismo da ex-secretária de Estado, que já tem a candidatura praticamente assegurada.

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terça-feira, 3 de maio de 2016

Imposto tira vantagem de banco captar via debênture de leasing

Os bancos perderam o principal incentivo para a captação de recursos com a emissão de debêntures de suas empresas de leasing graças ao decreto nº 8.731, editado ontem pelo governo. Agora, operações feitas com essas debêntures, incluindo aquelas em que o banco assume compromisso com clientes de recomprar os papéis, estão sujeitas à cobrança do imposto sobre operações financeiras (IOF). A alíquota é de 1% ao dia sobre o rendimento da aplicação, de forma decrescente conforme o prazo, em caso de resgate antes de 30 dias.
No fim de março, o estoque de captações via debêntures de leasing era de R$ 436,2 bilhões, uma alta de 18,3% em relação ao mesmo período de 2015, de acordo com dados da Anbima, associação que representa o mercado de capitais. Para fins de comparação, o CDB somava R$ 533 bilhões.
Os bancos são proibidos por lei de emitir debêntures, mas compram papéis emitidos por suas próprias empresas de arrendamento mercantil (leasing), que não têm essa restrição. De posse dessas debêntures, os bancos as usam de lastro para uma operação compomissada com seus clientes. É sobre essa operação compromissada, e não sobre a debênture, que o imposto passou a incidir.
Em grande parte dos casos, os banco ofertam essas operações compromissadas a empresas, como forma de gestão de caixa. Antes do decreto editado ontem, as companhias podiam aplicar seu caixa nas compromissadas e movimentar os recursos antes de 30 dias sem pagar IOF.
O ganho do imposto era dividido com os bancos, que remuneravam os recursos a uma taxa mais baixa do que em linhas tradicionais. O custo da captação para os bancos variava entre 30% a 80% do CDI, dependendo do porte da empresa, segundo um executivo que participou dessas emissões.
Outras aplicações financeiras, como fundos de investimento e CDB, já estão sujeitas ao tributo. A partir de agora, os investimentos em compromissadas também precisarão recolher a alíquota durante o primeiro mês da aplicação, caso os recursos sejam resgatados.
"As empresas agora terão de mudar a gestão de caixa, separando de forma mais clara aqueles recursos de curtíssimo prazo", afirma um executivo. A lógica é que, como o IOF incide sobre rendimentos, quanto maior o saldo aplicado, maior tende a ser a quantia a ser paga em imposto. Ele estima que as companhias deixem recursos nas compromissadas em média por 15 dias.
O governo calcula que a cobrança de imposto sobre as compromissadas deve trazer impacto em arrecadação de R$ 146,48 milhões em 2016. Para executivos de bancos, esse efeito pode ser maior.
Sem o incentivo do IOF zero, as instituições devem reduzir as emissões de debêntures de suas empresas de leasing, instrumento que vinha ganhando importância dentro do quadro geral de "funding" bancário. "A medida acaba com uma distorção que havia no mercado", diz uma fonte. A concorrência com as compromissadas pelos recursos dos clientes era uma queixa frequente de gestores de fundos de investimento.
As emissões de debêntures de leasing funcionam de maneira semelhante às debêntures tradicionais do mercado de capitais, com a diferença que o único investidor dos papéis é o próprio banco. São operações de grande volume, da casa de bilhões de reais. A operação mais recente, de R$ 20 bilhões, foi realizada pela Santander Leasing em março.
O volume de emissões acabava ampliando os recursos no caixa das empresas de leasing. Em geral, para trazer esse dinheiro ao banco, a instituição fazia um CDI com a empresa de leasing logo após a emissão.
O governo já havia tentado em outras ocasiões fechar a porta para essas operações de leasing, mas os bancos sempre encontraram brechas para manter o instrumento atrativo. A primeira tentativa de limitar o uso do instrumento ocorreu em 2008, quando o Banco Central (BC) determinou o recolhimento do compulsório sobre a operação de CDI usada para que os recursos voltassem ao caixa da instituição financeira.
A medida em tese equiparou as debêntures com os demais instrumentos de captação, como o CDB. Mas na prática os bancos podem deixar de recolher o compulsório a qualquer momento simplesmente desfazendo a operação de CDI, deixando recursos no balanço da empresa de arrendamento.
Foi o que ocorreu em 2014, quando o BC zerou a remuneração de 60% dos depósitos compulsórios para estimular o crédito de veículos. "Em vez de deixar o dinheiro parado no BC sem remuneração ou correr o risco do empréstimo, os bancos preferiram desfazer as operações de DI e manter o caixa na empresa de leasing", afirma uma fonte. Segundo ele, outras instituições foram além e passaram a usar outros instrumentos, como derivativos, para trazer de volta para o próprio caixa o dinheiro aplicado nas debêntures de leasing sem o compulsório.
A captação via debênture perdeu outra vantagem em relação aos CDBs em 2012, quando ficou sujeita à contribuição ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Mas, como a cobrança só é válida para emissões realizadas após a medida, os bancos decidiram prorrogar a data de vencimento das emissões que estavam em andamento para escapar da contribuição ao fundo.
No ano passado, a Dibens, empresa de leasing do Itaú Unibanco, prorrogou todas as emissões de debêntures para 2035. O Santander alongou os papéis de sua companhia de arrendamento mercantil para 2037 e o Banco Votorantim decidiu adiar o prazo das debêntures de leasing para 2021, de acordo com documentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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segunda-feira, 2 de maio de 2016

Mercado vê melhora da economia em 2017, aponta Focus

As expectativas dos economistas para a inflação em 2016 continuaram a melhorar, como vem ocorrendo nos últimos dois meses, e a perspectiva para a atividade econômica parece ter parado de piorar. Ao mesmo tempo, ao longo das últimas duas semanas, o mercado começa a ver uma perspectiva melhor para a economia em 2017. A expectativa de inflação está se distanciando do teto da meta, de 6%, enquanto houve dois pequenos ajustes para cima na estimativa do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Também se espera juros menores no ano que vem.
De acordo com o boletim Focus, do Banco Central (BC), a mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2016 caiu pela oitava semana, de 6,98% para 6,94% de aumento. A aposta, contudo, ainda segue acima do teto da meta, de 6,50%, para o período. A projeção de inflação em 12 meses também recuou, pela quarta semana, de 6,20% para 6,19%. Para 2017, a redução das estimativas para a inflação foi um pouco mais intensa, de 5,80% para 5,72%.
Entre os analistas Top 5, os que mais acertam as previsões, a mediana do IPCA para 2016 seguiu em 7,05% de alta, mas a de 2017 passou de 6% para 5,90% de elevação.
Esse recuo nas estimativas de inflação são acompanhados por uma melhora nas projeções para os preços administrados, que devem subir 6,95% neste ano e 5,73% no ano que vem. As previsões anteriores eram de incremento de 7% e 5,80%. A previsão para o dólar também caiu, de R$ 3,80 para R$ 3,72 no fim de 2016, e de R$ 4 para R$ 3,91 no fim de 2017.
Quanto à atividade, os economistas continuaram a ajustar a previsão para o desempenho do PIB de 2016 para baixo, mas com menor intensidade. A estimativa passou de queda de 3,88% para retração de 3,89%. A expectativa para 2017 foi ajustada para cima pela segunda semana, desta vez de crescimento de 0,30% para 0,40%.
Juros
Após vários ajustes, os economistas mantiveram a projeção para a taxa Selic em 13,25% ao fim deste ano. Na semana passada, ao decidir manter o juro em 14,25%, o Comitê de Política Monetária (Copom) disse que apesar dos avanços na política de combate à inflação, o nível dos preços em 12 meses continua elevado e as expectativas seguem distantes dos objetivos do regime de metas. Analistas consideram que o comunicado do Copom sinaliza que o colegiado pode começar a reduzir a Selic no segundo semestre deste ano.
No Focus, a expectativa para a Selic ao fim de 2017 recuou de 12% para 11,75%. Entre os analistas Top 5, as estimativas seguiram em 13,38% para 2016 e 12,25% para 2017.

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