sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Panamá e outros 'paraísos' aderem ao pacto antievasão

O movimento global contra a evasão fiscal vai aumentar nesta sexta-feira, chegando a mais de 90 jurisdições que prometem adotar a troca automática de informações entre os fiscos - o que significa o fim próximo do sigilo bancário. O Valor apurou que o Panamá vai se comprometer com a troca automática após forte pressão internacional. A expectativa é que outro paraíso fiscal particularmente hostil às regras internacionais, as Ilhas Cook, acompanhe a decisão.

Outros anúncios devem ser feitos em reunião do Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para Fins Tributários, com a participação de 128 países, em Barbados, tornando menor o espaço internacional para os sonegadores de impostos.

Três jurisdições que haviam sido consideradas pouco cooperativas em reunião anterior - Luxemburgo, Chipre e Seychelles - agora vão receber a avaliação de que as mudanças em suas regras de segredo bancário são "amplamente compatíveis" com o padrão internacional. Luxemburgo estava sob pressão dos membros da União Europeia, sobretudo da Alemanha, quanto à opacidade de seu setor financeiro de € 3 trilhões.

Outras jurisdições entre as mais secretas no mundo e com forte indústria bancária "offshore" - Barbados, Belize, Bulgária, Granada, Ilhas Marshall, Niue, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e Samoa, além do Japão - também vão assinar o acordo multilateral que pavimenta o terreno para a troca de informações.

A coleta de dados financeiros começará em 1º de janeiro de 2016 em cerca de 50 jurisdições. Para isso, os governos estão mudando as legislações nacionais para cada banco reportar as contas de todos os clientes não residentes e, de forma automática, enviar as informações a partir de 2017 aos países de origem desses clientes.

O Brasil só participará da troca automática de informações após o Congresso ratificar o Acordo de Cooperação Mútua na área tributária.

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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ação dos EUA expõe disputa estratégica com a China na Ásia

A rivalidade entre as grandes potências no Mar do Sul da China chegou a um momento crucial. A retórica dos EUA contra a provocadora reivindicação chinesa de soberania marítima na área se transformou ontem em ação militar.

Ao enviar um navio de guerra para as 12 milhas náuticas de uma ilha artificial da China, os EUA sinalizaram o início de uma disputa aberta sobre o futuro da região. As águas em disputa são uma rota importante, por onde passa mais da metade do comércio marítimo mundial, conectando países ricos em petróleo do Oriente Médio às poderosas economias do Pacífico.

Além disso, o desafio americano se refere a uma disputa muito mais ampla que vai durar décadas.

As tais ilhas artificiais têm um valor militar apenas limitado, embora várias delas contenham pistas longas o suficiente para receber aviões de combate chineses. O mais importante é que elas são símbolos do esforço de Pequim para subverter uma ordem regional liderada pelos EUA que prevalece desde a Segunda Guerra Mundial.

As ilhas proclamam a intenção da China de romper o que o país considera um cerco americano - um sistema de alianças que forma um amplo arco a partir da península coreana, passando pelo Japão e as Filipinas. Elas também simbolizam o fortalecimento do nacionalismo chinês sob o governo do presidente Xi Jinping.

Em um comentário contundente, a agência de notícias estatal chinesa Xinhua afirmou que os EUA transformaram o Mar do Sul da China em "águas turbulentas", acrescentando que "o povo chinês não tem medo de problemas". O Ministério das Relações Exteriores chinês expressou seu "forte descontentamento e resoluta oposição" à ação americana.

Para os EUA, as apostas são igualmente altas: seu futuro como potência marítima na Ásia e Oceania, a credibilidade de suas garantias de segurança aos aliados - todos preocupados com o crescente poderio militar da China - e o princípio de que disputas territoriais devem ser resolvidas com base no direito, não na coerção.

A Casa Branca levou meses para se decidir sobre essa manobra militar, chamadas de Liberdade de Navegação, apesar de o Secretário da Defesa americano, Ash Carter, ter prometido que os EUA "vão voar, navegar ou operar em qualquer lugar em que a lei internacional permita". A demora em combinar palavras duras com ações ameaçava fazer os EUA parecerem um tigre de papel. Por fim, a Marinha americana optou por despachar não uma flotilha, ou uma combinação de navios e aviões, mas um único destróier com mísseis guiados, o USS Lassen, para as proximidades do recife Subi.

Isso transmitiu a Pequim uma mensagem dura, mas ainda assim contida, embora o Pentágono tenha deixado claro que esse exercício militar será repetido.

A ação americana ocorreu sem incidentes, segundo o Pentágono. O Ministério das Relações Exteriores da China disse que as autoridades chinesas acompanharam e alertaram o navio de guerra americano. Aparentemente, a China não tomou nenhuma ação adicional.

Um conflito amplo continua sendo improvável, mas há sempre o risco de um incidente se navios americanos e chineses começarem a manobrar muito perto uns dos outros ao lado das ilhas Spratly.

Para começar, os EUA e a China não são inimigos. Essa não é a Guerra Fria e, apesar de as relações entre os países serem cada vez mais marcadas por uma rivalidade estratégica, forças poderosas os compelem a cooperar um com o outro. Uma delas é um comércio bilateral que atingiu US$ 592 bilhões no ano passado. Os dois países também têm a obrigação de trabalhar juntos em questões globais como mudanças climáticas, terrorismo e epidemias.

Embora as ilhas artificiais tenham se multiplicado apenas recentemente, esse momento vem sendo construído há anos.

Um divisor de águas ocorreu em 2008, quando Wall Street mergulhou o mundo em uma crise financeira. Pequim concluiu que os Estados Unidos eram uma superpotência em declínio e que tinha chegado a vez da China. Desde então, a economia americana se recuperou, mas a imagem de um EUA solapado por guerras no Oriente Médio e incapaz de solucionar seus problemas orçamentários fortaleceu a China e forçou os países asiáticos a contemplar um novo equilíbrio de poder na região.

Mas a China exagerou na dose. Sua impetuosa assertividade - da qual as ilhas artificiais são apenas um exemplo - alarmou os seus vizinhos e teve com resposta uma "virada para a Ásia" da política externa dos EUA. Washington prometeu reposicionar suas forças navais, que ficavam 60% no Atlântico e 40% no Pacífico, para uma distribuição meio a meio.

Os EUA precisam ter cuidado para não pressionar demais a China. Aliados americanos não querem se ver obrigados a tomar partido no caso de disputa. E, apesar de os EUA provavelmente prevalecerem num eventual conflito, o preço a pagar poderia ser amargo.

Da sua parte, a China tem muito a perder se as tensões se transformarem num conflito. A maior parte de suas importações de petróleo e matéria-prima passa por aquela rota de navegação. E o país depende da boa vontade de seus vizinhos para levar a cabo a política externa promovida por Xi de ampliar as rotas comerciais chinesas.

O nacionalismo, porém, é a grande incógnita. É inconcebível que Xi, um estadista rígido e popular, não reaja de alguma forma. E ele ficará sob uma forte pressão para agir caso os ânimos da opinião pública se inflamem.

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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Cteep continuará longe de leilões de transmissão

O Grupo ISA, empresa estatal colombiana que controla a transmissora de energia paulista Cteep desde 2006, não pretende destinar ao Brasil nenhum centavo dos US$ 4 bilhões previstos em seu plano de investimentos, afirmou, em entrevista ao Valor, Bernardo Vargas Gibsone, presidente do grupo desde o início de julho.

Segundo o executivo, isso não vai acontecer enquanto não houver uma definição sobre as indenizações dos ativos de transmissão anteriores a maio de 2000.

A companhia pediu, com base em um laudo de avaliação elaborado por uma consultoria independente, uma indenização de R$ 5,2 bilhões. A Aneel, agência reguladora do setor, por sua vez, reconheceu o direito de indenizar a companhia em R$ 3,7 bilhões, montante 28% inferior ao defendido pela Cteep. A questão continua em discussão na Aneel.

O executivo reiterou que desde a privatização da Cteep, em 2006, o Grupo ISA investiu R$ 10 bilhões no Brasil pela controlada. Desde a publicação da Medida Provisória (MP) 579, em setembro de 2012, a empresa decidiu não investir mais enquanto não houver uma sinalização clara sobre o recebimento dessa indenização por investimentos não amortizados em ativos com contratos de concessão renovados.

"Não vamos participar do próximo leilão, não faz sentido", disse Gibsone, se referindo ao leilão de transmissão marcado para 18 de novembro. Além dessa discussão, outras de ordem jurídica preocupam a empresa colombiana e ajudam a afastar a possibilidade de um retorno dos investimentos.

Encontra-se atualmente em discussão em audiência pública na Aneel uma proposta para repassar ativos de transmissão de baixa tensão para as concessionárias de distribuição de energia - os chamados "Demais Instalações de Transmissão", ou DITs.

Os executivos da companhia questionam a proposta, que tiraria 35% da receita da transmissora, de acordo com Reynaldo Passanezi Filho, presidente da Cteep. Ele disse ainda discordar da proposta de indenização por esses ativos, por estar defasada e não utilizar a metodologia adequada.

"Quando assumimos a empresa e fizemos a reestruturação, não conhecíamos esses temas de contingência", disse Gibsone, completando ter confiança de que as autoridades brasileiras vão compreender o problema.

"Temos muita confiança de que tudo isso será resolvido com base no valor justo", disse o presidente do grupo. "Temos interesse em voltar a investir no Brasil", disse. A companhia acha importante disputar futuros leilões de transmissão que ofereçam taxa de retorno adequada, mas isso não deve acontecer sem uma definição sobre as indenizações.

"As regras do jogo não são claras, isso nos preocupa. Entramos em um contrato de transmissão de 30 anos, e as regras mudam na metade?", questionou Gibsone.

Enquanto não há uma definição, a companhia mantém conversas com o governo brasileiro.

Segundo Gibsone, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Luiz Eduardo Barata, demonstrou estar de acordo com os pleitos da companhia, uma vez que a Cteep tem um papel importante para o segmento de transmissão de energia no país.

Além da área de transmissão de energia, o Grupo ISA também atua no Brasil com a Internexa, de transporte de dados de telefonia.

A receita da Cteep representou cerca de 20% do faturamento do Grupo ISA, que atua também no Chile e Peru, nos nove primeiros meses deste ano. O Ebitda da companhia correspondeu a 14,5%

A Cteep informou ontem, após o fechamento do mercado, que encerrou o terceiro trimestre com lucro líquido de R$ 276,3 milhões, alta de 97,1% na comparação com o mesmo resultado do ano passado. A receita operacional líquida da transmissora subiu 29,2%, para R$ 457,2 milhões e o Ebitda dobrou, para R$ 343,9 milhões.

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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Um queijo no caminho do acordo Europa-EUA

Representantes dos Estados Unidos e da União Europeia que se encontram nesta semana para negociar um acordo comercial estão próximos de um pacto para eliminar tarifas em pelo menos 97% dos produtos comercializados entre os dois lados, impulsionando aquele que pode ser o acordo comercial mais ambicioso em mais de 20 anos.
Uma série de disputas ainda impedirá um acordo completo, incluindo uma improvável pedra no caminho: um queijo branco salgado chamado feta, produzido por séculos nas montanhas gregas, na ilha de Lesbos. Esse queijo é uma das dezenas de alimentos e bebidas regionais cujos nomes a UE insiste em conservar, diante de forte resistência do setor de alimentos dos EUA. Empresas americanas fazem produtos que usam muitos desses nomes europeus. O feta Athenos, marca americana da Kraft Foods, não é feito do leite de ovelhas e cabras que pastam na grama das montanhas gregas, mas com leite de vacas do Wisconsin.
Os economistas dizem que o acordo comercial impulsionaria uma série de indústrias, de montadoras a empresas químicas. Defensores do pacto o chamam de "OTAN econômica", uma alusão à aliança militar, que consolidaria os laços entre os EUA e a Europa em um momento de ameaças geopolíticas da Rússia e desafios econômicos da China.

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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Siderúrgicas vendem mais fora do país

A maxidesvalorização do câmbio e a recessão mudaram radicalmente o mercado de aço. Pela primeira vez, a produção destinada ao exterior superou as vendas no mercado interno. As usinas venderam 1,48 milhão de toneladas ao mercado doméstico em setembro, queda de 20,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, e 1,59 milhão no mercado externo, avanço de 31,6%. As importações de aço caíram 40,3%, para 224,3 mil toneladas. Com esse desempenho, o consumo aparente do país no mês- vendas internas mais importações, subtraídas exportações - foi de 1,7 milhão de toneladas, redução de 24,1%.

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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Emergentes começam a reduzir dívidas de US$ 5 tri

Os tomadores de dívida nos mercados emergentes começaram a lidar com uma montanha de US$ 5 trilhões em bônus e empréstimos denominados em dólares e diminuíram suas obrigações pela primeira vez em sete anos, uma medida que ameaça interromper um rali incipiente nas moedas de vários países, do Brasil à Malásia.
As empresas dos países em desenvolvimento pagaram US$ 38 bilhões em dívidas em dólares no trimestre passado, US$ 3 bilhões a mais do que tomaram emprestado no período. Foi a primeira redução na emissão líquida desde 2008, segundo dados compilados pela "Bloomberg". A demanda por dólares entre os emissores que precisam da moeda para pagar dívidas tem contribuído para os maiores fluxos de saída de capital em quase três décadas.
É possível que a sequência desenfreada de ofertas de títulos de dívida, que alçou voo após a crise financeira global quando as taxas de juros despencaram, agora esteja sendo revertida. O movimento se consolida à medida que o crescimento econômico desacelera, os preços das commodities caem e os investidores exigem retornos mais altos. Embora as moedas de países em desenvolvimento estejam se recuperando das suas mínimas recordes, os analistas preveem que a tendência à depreciação voltará porque os pagamentos de dívidas em dólares estão acelerando.
"É um acontecimento enorme", disse Stephen Jen, um dos fundadores do hedge fund SLJ Macro Partners, com sede em Londres, e ex-economista do FMI, cuja previsão baixista sobre os mercados emergentes desde 2012 foi presciente. "Eles querem pagar seus empréstimos em dólares. Estamos em uma etapa inicial, há uma pressão bastante intensa sobre os mercados emergentes".


Após caírem durante grande parte deste ano, os ativos dos mercados emergentes ganharam uma trégua nas últimas semanas, porque dados econômicos mais fracos do que o previsto alimentam a especulação de que o Federal Reserve (Fed) possa adiar seu primeiro aumento de juros desde 2006 para o ano que vem. A rupia da Indonésia liderou o rali, ganhando 8% neste mês, seguida pelo avanço de 7% do peso colombiano.
A maioria dos analistas se mantém baixista. As 23 principais moedas dos mercados emergentes se enfraquecerão em relação ao dólar até o terceiro trimestre do ano que vem e o forint húngaro e o rublo russo declinarão mais de 10%, segundo estrategistas consultados pela "Bloomberg".
Os bancos estrangeiros vêm outorgando menos créditos aos países em desenvolvimento desde meados de 2013 e o montante de empréstimos de suas carteiras diminuiu em US$ 299 bilhões, para US$ 3,4 trilhões nos nove meses encerrados no dia 31 de março, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais (B IS).
No mercado de dívida corporativa, de US$ 1,4 trilhão, as vendas de bônus novos caíram para US$ 35 bilhões, seu valor mais baixo em quatro anos, no trimestre passado, na comparação com o pico de US$ 121 bilhões em junho de 2014, mostram dados compilados pela "Bloomberg".
No Brasil, os resgates estão contribuindo para as saídas de capital. Pelo menos três bancos brasileiros pequenos e médios, dentre eles o Banrisul e o BMG, ofereceram recomprar seus bônus externos nos últimos 30 dias em meio a uma corrida para venda dos ativos de mercados em desenvolvimento.
O Institute of International Finance (IIF) previu em 1º de outubro que cerca de US$ 540 bilhões sairão dos mercados emergentes neste ano, o primeiro fluxo líquido de saída de capital desde 1988.
O pagamento dos empréstimos tomados em dólares é mais do que um fenômeno passageiro, o que contribuirá para o enfraquecimento das moedas dos mercados emergentes em relação ao dólar, segundo Pierre Lapointe, diretor de estratégia global e pesquisa da Pavilion Global Markets , em Montreal. A medição ampla do Fed do dólar versus seus principais parceiros comerciais dos EUA teve um rali de 16% desde meados de 2014 e atingiu seu maior valor em 12 anos no mês passado.
"Prevemos que a temática de desalavancagem externa dos mercados emergentes continuará conosco durante muito tempo", disse Lapointe em uma nota em 9 de outubro. "Historicamente, esse processo tende a durar muitos anos. Nesse contexto, nós provavelmente estamos na metade do caminho da atual tendência estrutural ascendente do dólar".

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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Grandes fusões testam mercado de bônus

Os diretores financeiros de Wall Street estão prestes a descobrir por quanto tempo ainda a farra da dívida corporativa, instaurada há sete anos, poderá durar.
Com duas megafusões anunciadas nos últimos dois dias, os investidores em títulos serão solicitados a emprestar nada menos que US$ 120 bilhões para financiar as combinações entre as cervejarias Anheuser-Bush InBev e SABMiller e entre as gigantes do setor tecnológico Dell e EMC. Quando concretizadas, as transações deverão, respectivamente, configurar a maior venda de bônus corporativos de todos os tempos e uma oferta recorde da parte de um emissor com classificação de alto risco ("junk").
O segredo será encontrar ampla demanda por esses negócios - juntamente com pelo menos US$ 130 bilhões em bônus e em empréstimos no prelo - em um mercado acossado recentemente por um forte caso indigesto.
"Se tivermos de engolir um ou dois desses [negócios] por mês, o mercado tende a suportar", disse Andy Toburen, gestor de empréstimos de curto prazo de alto rendimento da Chartwell Investment Partners, que administra US$ 8,1 bilhões em ativos. "Se ocorrerem repentinamente, acabará sendo demais."
As empresas têm se apressado para se beneficiar dos baixos custos do crédito nos Estados Unidos, antes que o Federal Reserve (o BC americano) eleve as taxas de juros a partir do zero atual pela primeira vez desde a crise financeira de 2008. Foi vendido quase US$ 1,1 trilhão em bônus com grau de investimento neste ano, o que faz com que 2015 reúna todas as condições para se tornar um ano recorde.
Mais recentemente, no entanto, surgiram alguns pontos de tensão. Apenas um emissor corporativo de bônus com classificação de alto risco ("junk") conseguiu vender papéis neste mês. Esse ritmo, se mantido, transformará este mês no outubro mais lento já registrado, segundo dados reunidos pela Bloomberg. O estancamento ocorre após um terceiro trimestre que impôs aos investidores em bônus de alto rendimento um prejuízo de 4,9%, constituindo-se no pior período de três meses desde 2011, segundo dados do índice do Bank of America Merrill Lynch.
A turbulência está fazendo com que os baixos custos do dinheiro percam força rapidamente. Para manter em carteira títulos de empresas - desde os de maior risco até os dotados de sólido perfil de crédito -, o investidor médio exigiu neste mês um rendimento adicional de não menos que 2,75 pontos percentuais, o patamar mais elevado dos últimos três anos.
Os compradores de bônus têm se mostrado especialmente preocupados com os efeitos da queda dos preços das commodities, que deixou as mineradoras e as petrolíferas em dificuldades para administrar as quantidades recordes de dívida que assumiram para custear a produção.
Os investidores resgataram líquidos US$ 8,9 bilhões dos fundos americanos de alto rendimento neste ano, enquanto que os fundos mútuos e os fundos de índice (negociados em bolsa) americanos que compram empréstimos alavancados computaram cerca de US$ 11,7 bilhões em retiradas líquidas, segundo a empresa de pesquisa Lipper. Por outro lado, a criação de obrigações garantidas por outros títulos e valores, os maiores compradores de empréstimos de alto rendimento, desacelerou.
Todos esses fatores começam a desestabilizar as operações com títulos de maior risco. A Fullbeauty Brands, uma varejista de confecções para usuários de tamanhos grandes, está oferecendo um dos maiores descontos deste ano para concluir sua transação de captação de empréstimos de US$ 1,2 bilhão destinada a financiar sua compra pela Apax Partners, segundo fontes a par do negócio.
A empresa canadense de alimentos SunOpta e a fabricante de peças de maquinário NN cancelaram operações com bônus neste mês, após encontrar dificuldades para atrair o interesse dos investidores, o que significa que agora dependerão de seus bancos para obter financiamento complementar para respaldar aquisições.
A Dell, classificada como "junk", está captando nada menos que US$ 49,5 bilhões para financiar sua aquisição da EMC, o maior negócio do setor tecnológico de todos os tempos, segundo documento encaminhado aos reguladores na terça-feira. A AB InBev está operando com cerca de dez bancos para providenciar não menos que US$ 70 bilhões em financiamento para sua tomada de controle da SABMiller, de US$ 106 bilhões.

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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O gestor que consegue lucrar na bolsa

Enquanto o Ibovespa amargava prejuízo anualizado de 6,47% nos últimos cinco anos, uma família de fundos de ações entregava 15,33%, melhor retorno entre carteiras abertas para o período. Superava até mesmo o Certificado do Depósito Interfinanceiro (CDI), referencial para aplicações conservadoras, de 10,17% anualizados. O desempenho foi obtido pela estratégia chamada pelo BTG Pactual de Absoluto, com R$ 10 bilhões em ativos.
Escolher empresas boas, e não necessariamente baratas, é o mantra do responsável pela área de renda variável do BTG, José Zitelmann, que entrou no banco ainda quando era Pactual em 1998, como estagiário. De fato, as maiores posições do Absoluto hoje são nomes conhecidos: Lojas Renner, Ambev, BRF, Cielo e Equatorial.
Selecionar companhias de qualidade é o que faz Zitelmann dormir tranquilamente em tempos de desaceleração econômica e Bovespa em queda. Ele só se preocupa com a dificuldade crescente de encontrar essas empresas, por questões que fogem de seu controle. "Fazia muito tempo que não víamos a parte política fazendo tanto preço", disse em entrevista ao Valor. A seguir, os principais trechos.
Valor: Qual é o segredo para ter bom desempenho em anos como os últimos cinco, tão ruins para bolsa?
José Zitelmann: Não tem segredo. A fórmula é ser fiel à nossa filosofia de investimento: concentração, conhecimento e qualidade. O primeiro ponto é concentração nas empresas que julgamos que vão ter desempenho interessante independentemente do cenário macroeconômico. As dez maiores posições são 70% a 80% do fundo. O segundo é que sejam empresas de qualidade, líderes no seu segmento, com 'management' competente. E o terceiro é o conhecimento, ter um histórico com a empresa. Isso evitou que cometêssemos alguns erros ao longo do caminho, com setores ou empresas novas, como as 'startups' de óleo, não só OGX. Nunca fomos investidores grandes dessas empresas. Quando vemos os erros que cometemos - lógico que cometemos erros, mas eles foram minimizados - foi porque flexibilizamos algum ponto dessa filosofia.
Valor: E como certificar que a empresa tem qualidade?
Zitelmann: Qualidade tem a ver com o histórico. É uma empresa com 'turn over' baixo? Os administradores já estão lá há algum tempo ou é uma empresa que todo o tempo está trazendo alguém novo? Não existe bala de prata. Gostamos muito dessas empresas que focam no que podem controlar. É um conjunto de pequenas iniciativas que fazem a empresa ir bem. Empresas de qualidade são as que têm preocupação com recursos humanos, com gente, que é o que no fundo faz a empresa.
Valor: Que empresas brasileiras representam bem essa filosofia e foram importantes para o fundo?
Zitelmann: Renner é uma delas. Você diria: mas o varejo está sofrendo. Renner é uma empresa que, por meio do ganho de 'share', tem conseguido desempenho bastante superior ao das concorrentes. Também citaria Ambev, pela administração e execução. Cielo tem resiliência de negócio, dinâmica própria, com crescimento interessante em diferentes cenários econômicos. Outra empresa é BRF, líder no setor e vinda de um movimento transformacional, a fusão. Fizemos em setembro um evento com a pergunta: será que as empresas que estão se saindo bem nesse tempo de crise têm algo em comum? Convidamos Renner, Ambev e Raia Drogasil. Elas têm em comum a simplicidade. O Galló [José Galló, presidente das Lojas Renner] fala muito isso: ser simples é mais difícil do que ser complexo. Elas também focam no que está no seu controle. Câmbio e juros são dados. Você vai controlar a qualidade do seu produto, como chega no seu cliente.
Valor: Renner, Drogasil e Ambev são hoje as maiores participações?
Zitelmann: Não. Engraçado. Drogasil é uma empresa que admiramos, já foi do fundo, mas este ano não estamos praticamente investidos neles. E erramos. Achamos que o 'valuation' já considerava tudo aquilo que víamos de bom e, na verdade, foi melhor ainda. Mas essa é outra característica. As empresas boas te surpreendem positivamente.
Valor: Quais são as maiores posições do fundo hoje?
Zitelmann: Lojas Renner, Ambev por meio da ABI [ Anheuser-Busch InBev ], BRF, Cielo e Equatorial.
Valor: São posições antigas?
Zitelmann: Essas aí estão sempre presentes. Cielo, por exemplo, em algum momento do ano passado diminuímos, mas voltamos ao longo deste ano. Em geral as posições não mudam, o que muda às vezes é o peso de uma ou outra.
Valor: Mas como escolher o momento certo para comprar ou vender essas empresas de qualidade?
Zitelmann: O momento de comprar é quando você acha que tem algum catalisador. E o que é o melhor catalisador? É a surpresa de resultado. As coisas estão ligadas. Da empresa boa você espera que te surpreenda: os resultados tendem a vir acima do que o mercado está esperando. O momento é quando a empresa está em uma avaliação atrativa e você está vislumbrando que ela vai apresentar resultados melhores do que as pessoas estão esperando.
Valor: Mas como avaliar isso?
Zitelmann: Pelo conhecimento. Conhecemos as empresas há bastante tempo, o setor, a dinâmica, você vai falando com eles, faz suas análises.
Valor: Vocês evitam empresas ligadas ao governo, como Petrobras?
Zitelmann: Neste horizonte, de cinco anos, não me lembro de termos. Voltando à filosofia: empresas de qualidade, com 'management' alinhado. Nas empresas do governo, a meritocracia não é tão presente. Elas têm às vezes outros propósitos, não necessariamente a maximização de valor para o acionista. Acabamos menos presentes.
"Fazia muito tempo que não víamos a parte política fazendo tanto preço. Hoje o que domina é a agenda política"
Valor: Quando olhamos o perfil das maiores posições do fundo, tem uma exposição grande ao consumo, sendo que estamos em um momento de desaceleração econômica...
Zitelmann: Por isso que eu não gosto de rotular. Para nós, é muito mais importante a empresa do que o setor. Apesar de ser afetado pela questão macroeconômica, varejo é um setor que tem uma dinâmica de consolidação. Se você pegar as cinco maiores empresas de vestuário aqui no Brasil, elas ainda têm um percentual de mercado muito baixo, menor de 20%. Nos Estados Unidos, está acima de 50%, 60%.
Valor: Como você recebeu a notícia da perda de grau de investimento pela S&P?
Zitelmann: Lógico que é ruim e pior foi a forma como ocorreu. Fica a impressão de que poderia ser evitado. A forma como o governo lidou foi muito infeliz: mandar o orçamento com déficit para o Congresso acabou precipitando isso. Agora, se você olhar variáveis como o CDS [credit default swap], você vê que no momento do 'downgrade' elas nem mexeram muito. Hoje o pior não é nem a questão do investment grade, mas a dinâmica política. Você não vê luz no fim do túnel. A crise política domina o cenário. Fazia muito tempo que não víamos a parte política fazendo tanto preço. A parte política fazer menos preço mostra um maior desenvolvimento, uma maior institucionalização dos países. Realmente regredimos nisso aí. Hoje o que domina é a agenda política.
Valor: Como a questão política faz preço hoje na bolsa?
Zitelmann: Você não vira a página. As empresas não investem, a atividade econômica não consegue se recuperar. A bolsa talvez tenha um amortecedor, que é o câmbio. Algumas empresas acabam se beneficiando por um lado, por terem receitas em dólar. Elas têm um amortecedor nesse sentido. Acho que a bolsa também já vinha sofrendo. Desde 2010, a bolsa só cai.
Valor: Essa queda recente pode ter chegado a criar oportunidades?
Zitelmann: As coisas estão baratas. Mas o ponto é o seguinte: qual é o cenário? Se for esse cenário pelos próximos três anos, vai piorar mais. Ou seja, as coisas estão baratas, mas podem ficar mais baratas.
Valor: Se outras agências de avaliação de risco chegarem a tirar o grau de investimento do Brasil, pode ter uma fuga de bolsa?
Zitelmann: Acho que isso já vai ter sido antecipado. Continua esse movimento ruim.
Valor: O estrangeiro não vai evitar tirar o dinheiro agora que a bolsa e o real já caíram muito?
Zitelmann: Acho que outro rebaixamento pode afastar alguns fundos mais passivos, que só saem quando duas agências tiram o grau de investimento. Sem dúvida não é bom. O mercado também já está em um nível de preço que considera o risco de ter um segundo rebaixamento bastante alto, então não deveria ser surpresa.
Valor: Os estrangeiros que investem no Absoluto ficaram ansiosos?
Zitelmann: São estrangeiros de longo prazo. É lógico que estão preocupados, mas às vezes mais no sentido de saber se é hora de aumentar, se já caiu demais.
Valor: Como vocês reagem em um momento de manada para não decidir também vender ativos?
Zitelmann: Nesses 18 anos o que aprendi é que você tem que ter suas convicções, mas respeitar muito o mercado. A pior coisa que o gestor pode ter é arrogância com o mercado. Na maioria das vezes esses movimentos de manada acabam sendo oportunidades. E como ver se é ou não? Tem que fazer aquela velha pergunta: nosso 'case' está mudando? Renner, por exemplo, já bateu R$ 115 este ano, está agora em R$ 95. É lógico que a vida está mais difícil. A taxa de juros está mais alta, então pode ter alguma inadimplência na parte financeira. Mas, se olhar os resultados que ela vem apresentando, não parece ter um mudança drástica. Se não está tendo mudança e o papel veio de R$ 115 para R$ 95, parece que as coisas estão um pouco exageradas. Costumamos analisar respeitando muito o mercado, sem arrogância, a fim de saber se a queda da ação está mais do que refletindo a piora do resultado da empresa.
Valor: No caso da Renner, chegaram a comprar mais?
Zitelmann: Não, porque já temos posição bastante razoável. Temos quase 10% da Renner. Mas, se estressar muito, podemos comprar, estamos sempre analisando.
Valor: Mas, falando em respeitar o mercado, em alguns momentos você tem que assumir que é hora de sair. Como é isso?
Zitelmann: Temos uma frase que falamos muito aqui no banco: é proibido morrer no nosso negócio. Temos as convicções, a concentração, mas não dá para ir ao 'all win'. Esse é o segredo do negócio. Nós vemos que está errado não é pelo movimento de mercado. Lógico que o movimento de mercado pode te despertar para isso, mas vemos se mudou a tese. Você sai do investimento só se mudou a tese. Voltamos lá atrás: quando investimos, o que estávamos vendo? Isso e isso. Mudou alguma coisa? Sim. Achávamos que a empresa estava indo para um lado e está indo para outro. Então vamos só administrar a saída. Agora, se aconteceu uma coisa na China e não mudou nada aqui, é só um movimento de fluxo, na maioria das vezes tendemos a ver isso como oportunidade.
Valor: Sobre China, sentimos algumas turbulências este ano vindas das bolsas de lá. Vocês têm estudado mais o país?
Zitelmann: Sempre estudamos muito. No ano passado, foi até tema da nossa carta. Tínhamos uma visão muito negativa para minério de ferro, que acabou se concretizando. Achávamos que seria a primeira vez com sobreoferta de minério, que teria uma redução da demanda de China e isso acabou acontecendo. Hoje até estamos um pouco menos negativos, vemos o mercado de minério um pouco mais equilibrado. Continua a sobreoferta para final de 2016, 2017, mas no curto prazo vemos o mercado um pouco mais balanceado.
Valor: Significa que já dá para comprar ações da Vale?
Zitelmann: Talvez não tenha a mesma visão negativa que a gente tinha. Daí para dizer que dá para comprar já é forte.
Valor: Vale vocês não tiveram nos últimos anos?
Zitelmann: Nos fundos que podíamos, chegamos a ficar com posição 'short' em Vale relevante [vendida, que ganha com a baixa].
Valor: Não poder montar posições vendidas em parte dos fundos dificulta muito hoje?
Zitelmann: Não. Acho que o alfa [diferencial de retorno em relação ao mercado] vem menos dos shorts e mais dos acertos nas posições 'long' [compradas, ou que ganha com a alta do papel].
Valor: Como vocês fazem para se blindar de reagir como o restante do mercado? Imagino que acompanhem notícia o dia inteiro...
Zitelmann: O que me blinda é minha filosofia, investir nessas empresas, saber que tem alguém trabalhando lá por mim. Eu tenho certeza que o pessoal dessas empresas está focado em como vão fazer as coisas deles melhores, sem inventar, focados no cliente. Essas empresas vão se sobressair. Estamos lançando agora o Absoluto Global, com a mesma filosofia, que investe em empresas globais, gerido por um time baseado em Nova York. O que nos dá segurança é que acreditamos na nossa filosofia, seja aqui ou no mercado americano.
Valor: O Absoluto abriu para captação em dezembro 2007 e em 2008 já veio a crise, com um prejuízo de 31,86%. Como foi viver isso?
Zitelmann: Foi um ano ruim.
Eu gosto de olhar o fundo assim: 2008 e 2009 são anos espelhos, com 30% para baixo em 2008 e 90% para cima em 2009. Tanto em 2008 poderíamos ter ido melhor quanto em 2009 não esperava que fôssemos tão bem. A partir de 2010 entramos em um período que acho muito bacana do fundo. Em todos os anos fomos significativamente melhores do que o mercado. Vender produtos no Brasil com esse CDI é difícil, mas falamos que vale a pena. Nossa meta é 150% do CDI. Mas tem que aguentar um pouquinho de volatilidade.
Valor: Em 2008, não deu um pouco de desespero?
Zitelmann: Talvez um ou dois dias sim. É natural. O medo de morrer é o que te mantém vivo.
Valor: Você sempre quis ser gestor de recursos?
Zitelmann: Eu sempre gostei de ação. Meu pai tinha e gostava, foi uma coisa meio de casa. Ele trabalhava no mercado financeiro também, era de banco, foi do Banco Econômico...
Valor: Você chegou a investir em bolsa antes de se formar?
Zitelmann: Não fiz essa besteira. Talvez já tivesse desistido. As pessoas querem sempre comprar ação que vai dobrar e não existe isso. Prefiro uma ação que vai dar 15% ao ano e com o tempo dobra. Eles perguntam: o que está muito barato? Gostamos de comprar empresa boa, não empresa barata.

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terça-feira, 13 de outubro de 2015

Controle da inflação vai depender menos do BC, dizem analistas

O controle da inflação nos próximos anos pode depender cada vez menos do Banco Central e da política monetária, avaliam alguns economistas ouvidos pelo Valor. Diante do aumento do déficit nominal - que alcançou 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nos 12 meses encerrados em agosto - e da dificuldade em colocar as contas públicas no rumo, analistas argumentam que o BC está praticamente de mãos atadas para lidar com a piora das expectativas de inflação para 2016 e 2017.

Isso porque novas altas de juros, em vez de tornar a dívida mais atrativa, aumentariam o risco de calote por piorarem ainda mais o balanço das contas públicas, com efeitos adversos sobre a percepção de risco do país. Essa deterioração levaria a uma nova rodada de desvalorização cambial, com efeitos negativos sobre as expectativas inflacionárias.

O Brasil, dizem, se já não está nesta situação, que costuma ser descrita na literatura econômica como dominância fiscal, pode estar muito próximo a ela. Para esses analistas, a política fiscal é hoje o instrumento correto para reduzir a inflação e é necessário um plano consistente de ajuste das contas públicas para o longo prazo.

Tiago Berriel, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), explica que a situação de dominância fiscal ocorre quando o mercado - e os detentores de dívida - deixam de acreditar que o governo fará maior esforço fiscal, apesar do aumento do endividamento público. "Implicitamente, a gente sempre assume que o objetivo da política fiscal é estabilizar a relação entre dívida e PIB. Se em algum momento os agentes econômicos acreditarem que essa reação deixou de existir, estamos em dominância fiscal."

Com aumento da aversão ao risco, os investidores se desfazem de títulos públicos e correm para ativos mais seguros, como o dólar. A desvalorização cambial aumenta a inflação, que acaba corroendo o valor nominal da dívida. Ou seja, a inflação passa a ser determinada pelo lado fiscal da economia.

Essa realidade, afirma, não é óbvia no caso brasileiro atual, mas é uma possibilidade real. "As expectativas fiscais precisam ser muito ruins para prazos mais longos", comenta. O problema, diz, é que o superávit primário necessário para estabilizar a dívida é cada vez maior - algo como 3% do PIB hoje, diante da piora das projeções para o crescimento potencial e a situação fiscal difícil - e um ajuste fiscal dessa magnitude é considerado cada vez mais improvável diante do impasse político.

José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), afirma que, provavelmente, o Brasil está em situação de dominância fiscal. O raciocínio, diz Senna, é que para levar a inflação para a meta, ainda que somente em 2017, a alta da Selic teria que ser de tal magnitude - algo como 4 pontos - que agravaria ainda mais a crise fiscal. "Ou seja, o BC já perdeu o controle pleno da inflação", que depende cada vez mais da condução da política fiscal, diz.

O quadro, lembra Senna, não é inédito no Brasil. Na década de 80, a penúria das contas públicas brasileiras era tal que o processo de hiperinflação só seria debelado com o Plano Real, em 1994. O economista observa que a situação era muito distinta da atual, com taxas de inflação muito mais elevadas e regime cambial indexado ao diferencial de preços externos e internos, mas que ainda assim o diagnóstico a ser feito pode ser o mesmo.

Olivier Blanchard, hoje economista-chefe do FMI, defendeu que o Brasil viveu sob dominância fiscal entre 2002 e 2003. Em artigo de 2004, ele afirmou que, como o aumento de juros ampliava as chances de não pagamento da dívida, os títulos públicos ficavam menos atrativos e a o câmbio se desvalorizava, agravando a crise fiscal, já que parte da dívida era denominada em dólar. As altas de juros geravam mais, e não menos, inflação.

Para Aloísio Araújo, professor da Escola de Economia e Finanças da FGV, as implicações desse processo hoje são diferentes, porque o Brasil é credor externo líquido, com R$ 370 bilhões em reservas cambiais. Apesar do aumento da dívida bruta nos últimos anos, com forte impacto adverso da política de swaps cambiais do BC, o endividamento líquido, que considera os ativos da União, ficou praticamente estável nos últimos meses.

Para Araújo, que também é professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), a situação ainda tem que piorar um pouco para que se possa falar em dominância fiscal. "Se a dificuldade para acertar as contas for episódica, agravada pela forte recessão, não acredito que estamos sob dominância fiscal. Mas é preciso voltar a fazer superávits primários", diz.

Para Monica de Bolle, autora de proposta polêmica para lidar com a questão (ver texto abaixo), não há dúvidas de que o Brasil está sob dominância fiscal, num quadro em que o déficit nominal saltou seis pontos percentuais em menos de dois anos e a relação entre dívida e PIB "pode chegar rapidamente a 80% a 90%" - em agosto, essa proporção ficou em 65,3% do PIB.

Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), diz que não é a situação fiscal que está pressionando a taxa de câmbio e as expectativas para a inflação. "O ajuste fiscal funcionou bem para que as expectativas convergissem para a meta nos próximos anos, apesar de seu caráter contraproducente sobre a atividade e a arrecadação. O que aconteceu é que o BC reagiu desproporcionalmente ao aumento de preços, dado pela realinhamento de tarifas", diz. Essa alta piora o déficit nominal e as expectativas para estabilização da dívida.

Apesar das avaliações divergentes, a maioria dos economistas concorda que o momento é de uma posição mais cautelosa por parte do BC. Para Senna, do Ibre, "não há um mínimo de disposição na área econômica para subir juros nesse momento". Ele diz que o BC, ao traçar um ciclo de alta de juros, precisa estar convencido de que sua estratégia vai dar certo, o que não é viável agora, já que "há chance altíssima de um aperto monetário confirmar a tese de dominância fiscal".

O ambiente político, com forte recessão e aumento do desemprego, também é bem pouco favorável ao arrocho das condições monetárias, afirma ele, apesar da piora das projeções de inflação para 2016. Nas últimas quatro semanas, as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram 0,36 ponto percentual, para 5,94%.

"Não adianta subir juros com um déficit fiscal desse tamanho, é algo que já venho falando há algum tempo", diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Para ele, o BC reconheceu, de certa forma, esse cenário no Relatório Trimestral de Inflação, ao piorar as projeções para inflação em 2016 sem sinalizar novos aumentos de juros. "É uma questão de tempo até reconhecer que não será possível entregar inflação na meta no ano que vem". O economista estima que o IPCA atingirá em 6,5% em 2016.

A sinalização recente do BC, diz Berriel, que também é responsável pela área macroeconômica da Pacífico Gestão de Recursos, indica prudência. Se o país estiver sob dominância fiscal, o BC não estará acelerando o processo. Ao mesmo tempo, caso haja resolução do impasse político e a situação fiscal caminhe, a distensão dos preços dos ativos, especialmente do câmbio, tende a melhorar as projeções de inflação.

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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Votorantim investe pesado em geração

Em meio à retração da economia, o grupo Votorantim decidiu fazer uma investida agressiva fora de seu negócio principal. O conglomerado, que fatura quase R$ 30 bilhões por ano, graças principalmente a seus braços de metais, cimentos e celulose, aposta na sua experiência na gestão de energia, um de seus principais insumos, para crescer.
Com a indústria em queda e os preços da eletricidade cada vez mais altos, a estratégia é fortalecer a Votorantim Energia (VE). Criada em 1996 para gerir os ativos próprios de geração, a empresa passará agora a investir em projetos para abastecer terceiros.
A meta é chegar a 1 gigawatt (GW) de capacidade fora da autogeração até 2023 e atingir um resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 1 bilhão no mesmo período - hoje, o lucro operacional da VE, considerando apenas a comercialização, gira entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões.
"Os negócios do grupo Votorantim são bons, mas são cíclicos. Os acionistas viram a necessidade de ter um negócio mais constante que garantisse mais estabilidade ao fluxo de caixa", afirma Fábio Zanfelice, que assumiu a presidência da VE há quatro meses, após quase 14 anos de carreira na CPFL, dos quais os últimos dois liderando a comercializadora do grupo paulista.
O executivo veio com a missão de fazer o braço de energia olhar não apenas para dentro do grupo Votorantim, mas para todo o mercado, além de capturar as possíveis sinergias de seu parque gerador de 2,6 mil MW - todos sob o guarda-chuva das empresas industriais. "É uma reinvenção do modelo de negócio. Vamos aproveitar a expertise que temos na gestão de grandes volumes de energia", ressalta. Hoje, o consumo próprio da Votorantim soma 1,8 mil MW médios, equivalente ao consumo do Estado da Bahia.
A empreitada teve início com a entrada no setor de geração eólica, com um complexo no Piauí com potência instalada de 206 MW, que demandará R$ 1,1 bilhão em investimentos. A companhia tem ainda a opção de compra para construir mais dois complexos na região de mesmo tamanho, o que alçaria sua capacidade a cerca de 600 MW.
O radar está voltado, inicialmente, para energia eólica e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) - neste último nicho, a companhia já avalia potencial de 300 MW, espalhadas por cerca de 15 projetos, conta Zanfelice. "Esses projetos estão em fase de estudo, são preliminares. Ainda não temos outorga", acrescenta.
O investimento em energia solar também é uma possibilidade, mas apenas mais à frente. A ordem é evitar riscos, como manda a cartilha mais conservadora de investimentos do grupo Votorantim. "Queremos ver primeiro como esse mercado vai se desenvolver, não queremos assumir riscos", pondera.
A prioridade, afirma o executivo, é na construção de projetos a partir do zero. Mas, apesar disso, a VE não descarta a compra de projetos. Nessa frente, as atenções estão voltadas principalmente para compra de participações em usinas nas quais as controladas do grupo já estão presentes por meio de consórcios e podem exercer direito de preferência no caso de eventual saída de sócios. Nesse caso, sob o controle integral da Votorantim, as unidades podem ser repassadas para a VE, na forma de aumento de capital, diz Zanfelice.
Um exemplo é a hidrelétrica de Igarapava, em Minas Gerais, com capacidade de 210 MW, onde a Votorantim Metais tem 24% do capital. A CSN colocou à venda sua fatia de 18%. Questionada, a informação foi que "a Votorantim Energia segue atenta as oportunidades".
A empresa pretende focar seus contratos no mercado livre, modalidade em que são firmados contratos bilaterais entre geradores e clientes, sem a intermedição da distribuidora. "Com os fortes reajustes da energia no mercado regulado, tem havido uma grande migração de clientes para o livre e essa tendência deve continuar nos próximos anos", aposta o executivo.
Apesar disso, a VE vendeu, quase toda a energia que será gerada pelo seu primeiro complexo eólico em um leilão realizado em agosto voltado ao mercado regulado, voltado para as distribuidoras. Foram comercializados 93 MW médios, dos 104 MW médios de garantia física do projeto.
O movimento, no entanto, foi uma questão de oportunidade. "Com a queda no consumo de energia, os preços no mercado de curto prazo estão muito voláteis. E preferimos ter um contrato de 20 anos garantido para erguer nosso primeiro projeto com segurança", explica.
Cerca de 10 MW médios foram "poupados" para serem voltados a investidores interessados na autoprodução - modelo que pode ser replicado em outros projetos. "Temos muitos interessados. Por enquanto, a demanda dos clientes é maior que a oferta", garante. Mas, a empresa pode voltar aos leilões e alguns projetos eólicos já estão cadastrados o A-5, previsto para janeiro. Tudo dependerá do preço-teto estabelecido pelo governo.
Apesar de o volume de recursos necessário para atingir a meta de 1 gigawatt ser elevada - se mantido o investimento por MW do complexo do Piauí, superariam a cifra de R$ 5 bilhões -, a VE descarta sócios ou uma abertura de capital por enquanto. "Queremos criar musculatura antes de ir a mercado ou trazer um sócio. Hoje, o foco é 100% o grupo Votorantim", garante.
Além de investir na geração, Zanfelice quer também ampliar o escopo no negócio de comercialização. Nesse nicho desde 2013, a VE já se tornou a terceira maior comercializadora do país, com volume de 350 MW médios comercializados e uma carteira de 100 clientes. No médio prazo, a ideia é partir também para uma oferta mais ampla de serviços, especialmente em eficiência energética.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4261570/votorantim-investe-pesado-em-geracao

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Aneel aprova edital para relicitação de 29 hidrelétricas

 A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta quarta-feira o edital do leilão que oferecerá ao mercado 29 usinas com contratos de concessão vencidos, marcado para 6 de novembro. As principais hidrelétricas do certame são operadas pelas empresas estaduais de energia Cemig, Copel e Cesp, que não aderiram ao plano de renovação antecipada das concessões anunciado em 2012 pela Media Provisória 579.
Ao aprovar o edital, a diretoria da Aneel reconheceu que a realização do leilão está condicionada à aprovação das regras pelo plenário do Tribunal de Contas da União (TCU). O diretor-geral da agência, Romeu Rufino, afirmou que a licitação foi agendada com base na indicação favorável feita pela área técnica da corte de contas.
No posicionamento prévio do tribunal, a área técnica exigiu que fossem feitos pequenos ajustes no edital. Uma das mudanças está relacionada à composição dos lotes formados por grupos de usinas. Isso deverá aumentar a atratividade do leilão, na visão do tribunal.
O governo exigiu que as vencedoras do certamente desembolsassem o total de R$ 17 bilhões como bonificação pela outorga. A maior parte (65%) desse valor deverá ser paga à vista, no ato de assinatura dos contratos. O restante (35%) deverá entrar no caixa do governo federal em até 180 dias.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/brasil/4260692/aneel-aprova-edital-para-relicitacao-de-29-hidreletricas

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Para atrair investidor, Aneel reduz exigências no leilão de transmissão

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abriu mãos de duras exigências que vinha fazendo em leilões de linhas de transmissão para viabilizar a contratação de empreendimentos considerados fundamentais para escoar energia de usinas que vão entrar em operação nos próximos anos. A agência resolveu ampliar o prazo para conclusão das obras, aumentar a receita dos projetos, excluir instalações auxiliares e indicar no edital que não deve punir o empreendedor pelo atraso causado por órgãos de licenciamento.

As novas regras constam no edital marcado para o dia 6 de novembro. O certame voltará a oferecer quatro lotes de empreendimentos que não despertaram o interesse dos investidores do setor quando foram licitados pelos parâmetros anteriores, no dia 26 de agosto.

O principal objetivo da autarquia é minimizar o risco da construção e da operação das novas linhas. "Todas as variáveis que estavam sob o controle da Aneel foram tratadas. Por isso, tivemos um avanço importante nesse edital com relação à questão da matriz de risco no segmento de transmissão", disse o diretor-geral do órgão regulador, Romeu Rufino.

Serão ofertados 12 lotes de empreendimentos, com extensão total de 4,6 mil quilômetros. A rede percorrerá os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Espirito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

A ampliação do prazo para entrada em operação foi uma das estratégias adotadas para atrair os investidores. O lote A, composto pelo trecho de rede que passa por Minas Gerais, teve o prazo ampliado de 48 meses para 60 meses. Esse foi um dos lotes rejeitados no leilão anterior.

Assim como a linha de Minas Gerais, os lotes B, C e H sofreram ajustes nas receitas máximas (RAP Máxima) fixadas no edital. Ontem, a diretoria acatou a proposta da área técnica de elevar a remuneração desses empreendimentos.

Um dos fatores que contribuíram para engordar a receita dos projetos foi o ajuste na taxa de câmbio. O indicador econômico afeta diretamente o custo de aquisição de equipamentos. Dessa vez, o órgão regulador considerou o valor do dólar em R$ 3,97, apurado já nas últimas semanas. Na previsão anterior, a agência usou a cotação da moeda americana no patamar de R$ 3,20.

Outra estratégia adotada foi reduzir o número de obras a serem executadas. Em três lotes, foram mantidas apenas as instalações prioritárias. A medida também veio no sentido de diminuir a pressão sobre os empreendedores no cumprimento dos prazos contratuais.

A Aneel também fez um ajuste nos critérios de reconhecimento do "excludente de responsabilidade". Trata-se dos pedidos feitos por empresas para não terem que arcar com as penalidades por atrasos. "É preciso ressaltar que isso não valerá para qualquer atraso. É evidente que a responsabilidade de obter o licenciamento continua sendo do agente", disse Rufino.

Com a mudança, a fiscalização da agência deixará de aplicar sanções quando houver a comprovação de que o atraso foi causado pelos órgãos de licenciamento (Ibama, Iphan e Funai). Na visão do diretor, esse era um dos fatores que contribuíam para afugentar investidores dos leilões de transmissão.

De acordo com as regras da Aneel, vence a disputa a empresa que, isoladamente ou em grupo, aceitar receber a menor receita anual (RAP) para construir e operar as instalações. A agência prevê investimento de R$ 7,5 bilhões, com criação de 17,8 mil empregos diretos.

A RAP Máxima dos projetos fixada no edital totaliza R$ 1,3 bilhão. Os contratos são de 30 anos, podendo ser prorrogados por igual período. A contagem do prazo é feita a partir da assinatura, prevista para 4 de março de 2016. O leilão será realizado na sede da BM&F Bovespa, em São Paulo. A disputa acontecerá às 14 horas - tradicionalmente, ocorre às 10 horas. No mesmo dia, o governo planeja realizar o leilão das 29 hidrelétricas com concessões vencidas.


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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Engie tem investimento previsto de no mínimo R$ 1 bi em 2016

O grupo franco-belga Engie (ex-GDF Suez) pretende manter o ritmo de investimentos em novos projetos no Brasil no próximo ano. O presidente da companhia no país, Mauricio Bähr, antecipou ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que a empresa tem pelo menos R$ 1 bilhão já comprometido para 2016. Ele afirmou ainda que a multinacional se prepara para um momento de transição energética no mercado brasileiro, onde espera reforçar sua presença em projetos de eficiência energética, a partir da divisão Cofely Emac.
Segundo o presidente da multinacional, o portfólio de investimentos da Engie no Brasil é "bem razoável" e deve se manter elevado, mesmo com a conclusão das obras da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em 2016.
"Temos investimentos já comprometidos para 2016 de pelo menos R$ 1 bilhão. Isso mantém ritmo parecido com o deste ano. O que [a usina de] Jirau deixa de representar em investimentos passa a ser substituído por Pampa Sul [termelétrica a carvão, de 340 MW, no Rio Grande do Sul]", afirmou o executivo.
Bähr destacou, ainda, a importância da construção do complexo eólico Santa Mônica (97,2 MW), no Ceará, negociado no último leilão A-3, e que a Engie está de olho em novas oportunidades de investimento. "Temos coisas no pipeline [em avaliação] para o A-5 de janeiro."
O executivo afirmou que por ora não há uma definição sobre a participação da empresa no leilão de Tapajós, sem data prevista para acontecer. Bähr disse que a Engie ainda está avaliando o projeto hidrelétrico e que o foco da companhia, no momento, é concluir primeiro a usina de Jirau.
A estratégia de crescimento do grupo no país passa não somente pela expansão do parque gerador, como também pelo foco em projetos de eficiência energética. "Estamos enxergando uma transição energética, momento em que se pensa em não só aumentar a oferta como também mais qualidade e eficiência. A prestação de serviços nessa transição energética vai representar uma oportunidade de diversificação, crescimento e complementação das nossas atividades no Brasil", afirmou.
Em setembro, a Engie fechou com o Aracaju Parque Shopping o primeiro contrato da sua subsidiária Cofely no Brasil. A subsidiária entrou no país há dois anos, após aquisição de 51% da brasileira Emac, especializada em sistemas de refrigeração. O contrato com o shopping por desempenho energético, de dez anos, prevê a operação da central de água gelada que abastecerá o shopping sergipano.
Diretor da Cofely Emac no Brasil, Philippe Roques, afirmou que a empresa estima fechar novos contratos a partir de 2016. A companhia, segundo o executivo, tem outros três acordos encaminhados e vê um espaço para captar de dois a três novos clientes por ano.
Roques admite que a crise econômica tornou a meta inicial de alcançar um faturamento de R$ 150 milhões no Brasil em 2016 "um pouquinho mais difícil", mas que o momento adverso é também de oportunidades. "Num momento de crise, a única forma de solucionar isso [queda de receitas] é diminuir os custos, buscar a eficiência", afirmou o diretor, que relata um aumento na busca por projetos de eficiência no país este ano.
O executivo cita que o custo do financiamento no Brasil é alto, mas que as barreiras para o desenvolvimento de projetos de eficiência energética no país são "basicamente culturais". "Os clientes não sabem o desempenho dos seus equipamentos. Isso é um pouco maior no Brasil que nos países vizinhos", compara.
Roques destaca, contudo, que o fato de a eficiência não ser tão enraizada torna o potencial de crescimento da empresa no país muito alto. No Brasil, explica, a Cofely consegue trabalhar em projetos com uma faixa de eficiência de 30% a 40%, enquanto na França, por exemplo, a média é de 20%.
A Cofely Emac faturou, em 2014, R$ 88 milhões, com base nas receitas de clientes incorporados com a aquisição da Emac. Este ano, a expectativa é fechar com um faturamento um pouco maior, de R$ 90 milhões. "Foi um ano muito difícil na parte da economia. Sentimos isso, mas ainda estamos em crescimento", comentou Roques.
Com faturamento global de € 15,8 bilhões, a Cofely responde por 20% das receitas da Engie. No Brasil, a empresa ainda dá seus primeiros passos e representa 2% dos negócios da holding.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4257140/engie-tem-investimento-previsto-de-no-minimo-r-1-bi-em-2016

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Estrangeiro antecipa corte de nota e reduz posição em bônus

Investidores estrangeiros têm reduzido suas posições em títulos soberanos brasileiros desde o rebaixamento da classificação de risco de crédito do Brasil pela Standard & Poor's, em 9 de setembro. A despeito de a desvalorização do real e o aumento do retorno desses papéis aumentarem o potencial de ganhos com os ativos, os gestores se mantêm cautelosos em ampliar a alocação. O grande problema, segundo eles, é a paralisia do governo no jogo da política, que dificulta o ajuste fiscal e traz risco de uma nova piora do mercado brasileiro.
Mesmo com as retiradas já observadas, há ainda um volume expressivo de recursos aplicados em ativos brasileiros, que pode sair caso o país seja rebaixado por uma segunda agência de rating.
O J.P. Morgan prevê que estejam aplicados em bônus soberanos e corporativos brasileiros cerca de US$ 20 bilhões, que poderão ser forçados a sair caso o Brasil tenha um segundo "downgrade" para o nível "junk" (especulativo). Esse volume se refere a alocações em papéis brasileiros em índices de renda fixa que aplicam exclusivamente em ativos com grau de investimento e que servem de "benchmark" para o mercado.
Já a gestora Ashmore calcula uma saída de até US$ 8 bilhões de bônus brasileiros, soberanos e corporativos, tomando como base apenas os quatro principais índices de renda fixa geridos pelo J.P. Morgan e Barclays. Segundo a Ashmore, a alocação em Brasil nesses quatro índices somava US$ 16 bilhões, mas estima que boa parte disso já foi retirada.
O banco de investimento Jefferies Group , por exemplo, encerrou a posição em valor relativo de curto prazo nesses papéis após o aumento dos spreads da dívida externa brasileira, quando alcançaram níveis exagerados. Os títulos chegaram a ser negociados com prêmios mais altos do que os de muitos países com rating mais baixos.
Os investidores também se mostram cautelosos em relação aos títulos públicos no mercado local. "Não é apenas uma questão de 'valuation' [valor dos papéis], mas o risco de sofrer mais perdas. Ninguém quer aumentar as suas posições, a menos que acreditem que o pior já passou em termos do risco de eventos negativos. Houve uma recuperação dos níveis descontados, mas os ganhos sustentáveis exigem compromisso político com a disciplina fiscal", diz Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa do Jefferies. Segundo ela, há alta probabilidade de um segundo corte do rating soberano neste ano, inclusive da Moody's, que colocaria a nota do Brasil em grau especulativo. Isso pode, segundo ela, forçar uma venda residual por parte de investidores que seguem índices que só podem ter na carteira papéis com grau de investimento.
Para a Aberdeen, o impacto desse evento seria marginal, nos fundos com mandatos dedicados a ativos com esse selo. A maioria dos fundos da gestora, porém, não tem restrição. "A decisão das agências de rating não tem impacto direto em nossas decisões de investimento, uma vez que fazemos nossa própria avaliação dos fundamentos soberanos e dos preços", afirma Viktor Szabo, gestor sênior de investimentos da Aberdeen. No último mês, a gestora reduziu a exposição no real, avaliando a moeda como a mais vulnerável entre os ativos brasileiros, mas mantém uma posição acima da média do mercado nos bônus brasileiros em moeda local e em dólar.

Leia mais Em: http://www.valor.com.br/financas/4255000/estrangeiro-antecipa-corte-de-nota-e-reduz-posicao-em-bonus

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Produção de energia eólica cresce 57% em setembro

A produção das usinas eólicas em setembro registrou um aumento de 57,7% em relação ao mesmo período do ano passado, informou a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Entre os dias 1º e 29 do mês, o vento foi responsável por entregar 2.991 MW médios. Por outro lado, a produção das hidrelétricas apresentaram queda de 3,6%, com a geração de 41.485 MW médios no mês. Somada a produção de todas as fontes da matriz, 61.347 MW médios de energia foram entregues ao Sistema Interligado Nacional no período, o que representou uma queda de 1,8% quando comparado com setembro de 2014. A CCEE estima que as hidrelétricas integrantes do Mecanismo de Realocação de Energia gerem na próxima semana o equivalente a 91,6% de suas garantias físicas, ou 42.481 MW médios em energia elétrica.
Em setembro, o consumo nacional de energia foi de 59.357 MW médios, queda 1,9% na comparação anual. Na análise por mercado, o consumo cativo registrou 45.235 MW médios, uma diminuição de 0,7%. Já os agentes livres consumiram 14.122 MW médios, ou seja, 5,3% a menos do que no mesmo período do ano passado. Entre os segmentos industriais que adquirem energia no mercado livre, apesar da redução na maioria, cinco setores registraram elevação. O maior aumento ocorreu na extração de minerais metálicos (4,3%), que foi seguido pelas empresas químicas (3,1%), de telecomunicações (1,5%), comércio (1%) e alimentícios (0,8%).
A análise dos dados de agentes autoprodutores, ou seja, empresas que investem em usinas próprias devido à grande demanda por eletricidade, aponta aumento de 12,4% na geração e queda de 2% no consumo em setembro. O setor de transporte (-10,7%), metalurgia e produtos de metal (-10,5%) e alimentícios (-6,7%) foram os que mais contribuíram com os índices. Mesmo com a redução, empresas que atuam nos segmentos extração de minerais metálicos (+7,8%), de serviços (+4,6%) e madeira, papel e celulose (3,5%) ampliaram o consumo em relação ao mesmo período do ano passado.

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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Mercado livre reduz conta da indústria em R$ 23 bilhões, afirma Abraceel

O mercado livre atual, que representa cerca de 25% da demanda de energia no país, proporcionou uma economia de R$ 23 bilhões nos últimos 11 anos. Esse montante financeiro representa uma economia de 17% para os consumidores de energia no ambiente livre de contratação em comparação com o mesmo volume de energia se este estivesse sendo consumido no mercado cativo com base na tarifa média das 20 maiores distribuidoras que atuam no país nesse mesmo período de tempo.
Esse dado foi apresentado pela Associação Brasileira de Comercializadores de Energia durante o 3º Encontro Nacional de Consumidores Livres, realizado em São Paulo. Segundo o presidente executivo da Abraceel, Reginaldo Medeiros, esse é custo Brasil que foi evitado pela indústria nacional nesse período. E isso, destacou ele, porque o Brasil ainda figura no 14º lugar do ranking mundial de portabilidade da conta, e em penúltimo lugar quando a comparação é feita apenas com 12 países da América Latina.
“Sem o mercado livre, a tarifa teria sido R$ 23 bilhões maior do que realmente foi pago nesse período, esse foi o tamanho da competitividade que o mercado livre entregou para a indústria brasileira”, ressaltou Medeiros.
Se o mercado fosse totalmente livre hoje a diferença de preços segundo dados da consultoria Dcide e a tarifa das mesmas 20 maiores distribuidoras do país estaria em 40% mais baixo considerando apenas a parcela da tarifa da energia, sem a parte do transporte do insumo. Esse dado, relatou o executivo da Abraceel, é um retrato do atual momento  tomando como base o índice semanal de preços do mercado livre para os próximos quatro anos. Esse patamar de valores para as fontes convencional e incentivada está em R$ 190/MWh para o primeiro semestre de 2016 e em cerca de R$ 160/MWh no período de quatro anos.
Medeiros lembrou que essa relação pode mudar de acordo com a expectativa de preços para o mercado livre. Mas que a tendência para a tarifa das distribuidoras deverá incorporar ainda itens como a conta ACR, a taxa de inflação entre outros componentes que pressionam o valor das tarifas no médio e longo prazo, além das incertezas acerca de outros riscos. “Só tem uma forma de redução de preço para o consumidor final: otimizar o portfólio de compra a menores custos e isso está no mercado livre porque há competição entre as  empresas. A única barreira à liberalização do mercado é a vontade política. Não precisa de nada apenas de um decreto”, concluiu ele.

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