Maior geradora de energia hídrica do mundo, com cerca de 60 mil
megawatts (MW) instalados em operação - o equivalente a quase metade de
todo o sistema elétrico do Brasil -, 30 mil MW em construção, e
faturamento da ordem de US$ 10,2 bilhões (cerca de R$ 36 bilhões), a
China Three Gorges (CTG) tem planos de ampliar sua participação no
mercado brasileiro. Aqui, em apenas dois anos, tornou-se a segunda maior
geradora privada do país, com 6 mil MW, atrás da Tractebel (7 mil MW). A
estratégia é crescer via fusões e aquisições - principal caminho
adotado até o momento - ou mesmo com projetos de energia nova.
"Continuamos olhando para oportunidades de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições]", afirmou ao Valor
o presidente da CTG Brasil, Li Yinsheng, em sua primeira entrevista no
país. "Não depende muito de nós, depende das oportunidades. Neste ano, é
uma opção [fazer uma nova aquisição], mas não vai acontecer
necessariamente", completou o executivo, que comandou a aquisição da
concessão das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, devolvidas pela
paulista Cesp, em leilão realizado no fim de 2015.
Apesar de a CTG ter concluído seu primeiro negócio no Brasil - a
aquisição de 50% em dois projetos hidrelétricos da EDP Energias do
Brasil no Amapá - em 2014, Li explicou que a empresa estuda o setor
elétrico brasileiro há mais de 20 anos. "Começamos a pensar seriamente
em investimentos [no Brasil] seis anos atrás. Eventualmente decidimos
entrar em 2014. Mas as pessoas deveriam saber que olhamos para o Brasil
desde os anos 1990". O parque hidrelétrico brasileiro serviu de
referência para a construção de Três Gargantas, maior hidrelétrica do
mundo, de 22 mil MW, no rio Yangtzé, na China, principal ativo da
companhia.
Segundo Li, dentro da estratégia da CTG para o país, o primeiro passo
foi aprender o modelo brasileiro. A etapa seguinte, na qual a empresa
se encontra hoje, foi comprar alguns ativos operacionais. E a última
fase será o desenvolvimento de projetos greenfields (criados a partir do
zero), em leilões de energia nova.
Desde o primeiro acordo, fechado em 2014, a estatal chinesa já
investiu R$ 17 bilhões no Brasil. Com relação à concessão de Jupiá e
Ilha Solteira, a CTG Brasil desembolsou em janeiro 65% dos R$ 13,8
bilhões de bônus de outorga, dos quais parte com recursos próprios e o
restante com um financiamento da China. Para a segunda tranche, a ser
quitada em julho, a companhia ainda negocia as condições financeiras, e
há a possibilidade de financiamento de bancos do Brasil e dos Estados
Unidos, além da China.
Também para julho está prevista a conclusão da transição da operação
das duas hidrelétricas da Cesp para a CTG Brasil. A expectativa do grupo
chinês é ampliar seu contingente no país dos atuais 120 funcionários
para cerca de 400 colaboradores a partir do segundo semestre. "Esperamos
que, pelo menos, a maioria deles [dos funcionários das usinas] fique
conosco e também esperamos receber novos funcionários. A operação vai
continuar como está", explicou Li.
Com relação à parcela de 30% da energia de Jupiá e Ilha Solteira
destinada ao mercado livre, da ordem de 800 MW médios, Li disse que
parte foi comercializada em um leilão feito pela companhia no início de
março. Um segundo volume será ofertado em novo certame, previsto para
esta semana.
Questionado sobre quais ativos despertam o interesse da companhia
chinesa no Brasil, o executivo não quis citar nomes de empresas e de
projetos. Ele, porém, contou que a preferência do grupo continua sendo
projetos de grande porte, por fazer parte do "DNA" da companhia.
Perguntado sobre o eventual interesse em adquirir participação na
hidrelétrica de Belo Monte, de 11,2 mil MW, o presidente da CTG Brasil
disse não poder comentar oportunidades específicas, mas que a usina é um
"projeto bom".
Li também afirmou que a companhia avalia o projeto da hidrelétrica de
São Luiz do Tapajós (PA), de cerca de 8 mil MW, mas que ainda não
decidiu se a empresa participará de um eventual leilão, ainda sem data
marcada.
A respeito do interesse na Renova Energia, Li disse conhecer o
negócio, mas que está avaliando "oportunidades diferentes". Ele também
descarta as térmicas da Petrobras por não fazerem parte da estratégia do
grupo, focado em fontes hidrelétrica, eólica e solar.
Quanto ao cenário de crise política e econômica do país, o executivo
disse conhecer as dificuldades atuais, mas contou que a empresa tem uma
visão positiva do Brasil no longo prazo. Li também elogiou a Medida
Provisória (MP) 688/2015, que tratou da repactuação do risco
hidrológico. "A MP 688 foi uma coisa positiva, parcialmente restabeleceu
o equilíbrio no segmento [de geração hidrelétrica]. O risco hidrológico
foi alocado de forma comercial. Isso fez o setor ficar mais
sustentável".
Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4509248/ctg-busca-mais-aquisicoes-no-pais
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