segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Crédito público desacelera mais

A carteira de crédito dos bancos públicos fechou outubro com o menor ritmo de crescimento desde o começo de 2002, última vez que essas carteiras encolheram. A taxa de expansão, medida em 12 meses, foi de 12,5% no mês passado, totalizando R$ 1,760 trilhão, ou 56% do mercado, que soma R$ 3,156 trilhões.
Mesmo crescendo acima da média do mercado, que é de 8,1% também em 12 meses, tal comportamento deixa claro o desmanche ou esgotamento da política de usar os bancos públicos como motor do crédito e alavanca para o crescimento econômico.
Segundo dados do Banco Central, no fim de 2008, quando essas instituições foram chamadas a fazer política anticíclica, a taxa de crescimento da carteira, sempre na medição em 12 meses, beirava os 40%. Durante todo o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o ritmo médio de crescimento foi de 24%.
O menor ímpeto dos bancos públicos se verifica em qualquer métrica, considerando ou não a fatia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que atualmente é de cerca de 35%. De fato, o BNDES puxa a média para baixo.
Essa perda de força capta não só a piora do quadro econômico, que começa em 2014 e se agrava de forma aguda em 2015, mas toda a deterioração fiscal que eliminou o espaço para a realização de novos aportes de capital nas instituições seja por emissão de títulos ou instrumentos híbridos de capital e dívida. Entre 2008 e 2014, mais de R$ 500 bilhões foram injetados no BNDES, Caixa Econômica Federal e outras instituições.
Medida em 12 meses até outubro, a carteira do BNDES tem crescimento de 10,1%, somando R$ 623,303 bilhões. Esse é o menor crescimento desde o começo da série disponibilizada pelo BC apenas sobre o BNDES, que começa em março de 2007. Em meados de 2009, o banco de fomento mostrava taxas de expansão de quase 50% na sua carteira, nas medições em 12 meses.
Considerando os bancos públicos, mas tirando o BNDES da conta, a carteira cresce 13,9% nos 12 meses até outubro, também o menor ritmo da série histórica disponibilizada pelo BC. A média do primeiro mandato de Dilma foi de 19%, com picos de expansão de 40% em 12 meses no fim de 2012.
Olhando os bancos privados, o quadro é mais desanimador. O crescimento em 12 meses é de 3,1%, menor desde setembro de 2003, quando as carteiras encolheram. Abrindo por controle de capital, a carteira de crédito dos bancos privados nacionais tem expansão de 1,5% nos 12 meses encerrados em outubro, somando R$ 940,529 bilhões, menor ritmo desde o começo dos anos 2000. Entre os estrangeiros, o crescimento, na mesma base de comparação é de 6,5%, concentrando R$ 455,819 bilhões.
Com tal desempenho de bancos privados e públicos, é natural que o movimento seja de desaceleração geral do crédito, que encolheu 0,1% em outubro. Os dados do mês têm influência da greve dos bancários, que dificultou a tomada de crédito em linhas, como consignado e imobiliário, e também pode ter impedido o pagamento de compromissos em dia.
Mas independentemente disso, esse quadro de retração da economia, do emprego e da renda deve levar o BC a rever para baixo a projeção de crescimento para o estoque de crédito, que está em 9% para 2015, quando atualizar suas projeções em dezembro.
Esses mesmos vetores fazem a autoridade monetária acreditar em continuidade do movimento de alta na inadimplência. "É esperado algum aumento da inadimplência em função do ciclo econômico que temos hoje", disse o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha, ao apresentar os dados de outubro na sexta-feira.
"Mas ela está moderada em comparação com períodos anteriores", disse, lembrando que um dos pontos que explica essa moderação é a postura dos bancos, que estão mais rigorosos na concessão de crédito em comparação com anos anteriores.
"Esse moderado crescimento da inadimplência encontra um sistema financeiro capitalizado e provisionado, sem que traga impactos em termos de solidez e estabilidade do sistema financeiro", disse.
A inadimplência média do sistema subiu de 3,1% para 3,2% no mês passado, maior taxa desde julho de 2013. Em dezembro, o percentual era de 2,7%. Considerando os recursos livres, a taxa de calotes da pessoa física subiu a 5,8% no mês passado, maior desde novembro de 2013. No encerramento de 2014, o percentual era de 5,3%. Mas entre maio e outubro de 2012, essa taxa esteve acima de 7%.
No segmento pessoa jurídica, a inadimplência total subiu de 2,4% para 2,5%, maior da série. Com recursos livres, o percentual subiu de 4,1% para 4,3%, também maior da série.

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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Para economistas, vem aí a 'hora da verdade'

O primeiro trimestre de 2016 é aguardado com ansiedade por analistas econômicos e políticos. Será uma espécie de "hora da verdade". Nesse período, o mercado de trabalho mostrará plenamente os efeitos da recessão, os preços estarão ainda altos e a "dominância política" deverá persistir, impedindo que a agenda fiscal avance no Congresso.
Com esse cenário, a "sensação térmica" da população sobre a economia pode piorar sensivelmente no início do ano, avaliam economistas do Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima, que se reuniram ontem no Valor: Luiz Fernando Figueiredo, Fernando Honorato Barbosa, Carlos Kawall, Marcelo Carvalho e Denise Pavarina.
Eles consideram que esse cenário será importante tanto para o Banco Central quanto para o quadro político. Quando a sensação de bem-estar da população efetivamente se deteriorar, restará ver de que forma isso afetará os preços e os ânimos. Entre os que acompanham a política, existe a sensação de que, se o governo superar o primeiro trimestre, a hipótese de impeachment da presidente Dilma Rousseff perderia força.

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terça-feira, 24 de novembro de 2015

ONU acelera mudanças em energia, diz IBP

A ambiciosa meta global de limitar o aquecimento do planeta em dois graus Celsius, traçada pela Organização das Nações Unidas (ONU), pode provocar a redução, de 81% para 73%, da participação dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) na matriz energética mundial até 2030. A mesma meta possibilitará a antecipação da fatia das fontes renováveis, da 14% para 17%, em 2025. No cenário normal, esse percentual seria alcançado apenas em 2030.

As projeções fazem parte do estudo "Tendências para o Setor de Energia no Longo Prazo", do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), desenvolvido pela consultoria Catavento e divulgado ontem, às vésperas da 21ª Conferência do Clima (COP-21), que começa na segunda-feira, em Paris.

"Se as políticas governamentais oriundas da COP-21, e do que vier depois, forem levadas a cabo, anteciparemos em cinco anos, pelo menos, a penetração de renováveis na matriz energética global e, ao mesmo tempo, reduziremos o ritmo do aumento da demanda por energia", afirma Clarissa Lins, economista e sócia da Catavento.

De acordo com o estudo, caso o teto de aumento do aquecimento global em dois graus Celsius seja alcançado, metade das emissões de gases do efeito estufa evitadas serão provenientes da redução do consumo de energia. Dessa forma, o consumo global de energia em 2025 será de 15 bilhões de toneladas de óleo equivalente (Btoe), contra 15,9 bilhões, no cenário de referência.

O documento, elaborado a partir da pesquisa com 23 especialistas do setores de energia e meio ambiente e do levantamento de dados de 35 instituições mundiais, ressalta o esforço que a indústria mundial de petróleo e gás terá de fazer para se adaptar ao novo contexto global. O fato é que a recente redução do preço do petróleo não inviabilizará investimentos em fontes de energia mais limpas, ainda que mais caras. O motivo é que existe uma pressão da sociedade por energia mais limpa e eficiente.

Cristina destaca que, apesar de a participação do petróleo permanecer relevante na matriz mundial, na margem, a fonte indica uma fatia menor em relação às outras alternativas energéticas. Na área de energia elétrica, por exemplo, a participação de combustíveis fósseis em capacidade adicional de geração cairá de 49,6%, em 2013, para apenas 18,7%, em 2030, de acordo com projeções indicadas no estudo setorial.

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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Bandeira verde pode dar alívio maior para inflação em 2016

A demanda menor por energia, aliada a uma possível melhora do regime de chuvas no próximo verão, pode ajudar na recuperação dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, permitindo o desligamento de mais termelétricas em 2016 e, consequentemente, a redução dos preços de energia. Mesmo entre economistas que esperam novo estouro do teto da meta de inflação em 2016, a percepção é que as contas de luz serão um alívio importante ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, depois de terem subido mais de 50% em 2015.

Para saber a magnitude da queda, é preciso saber qual a bandeira tarifária (ver reportagem Cor de bandeira tarifária para dezembro será definida dia 27), que vai vigorar após o verão. Se for amarela, como esperam muitos analistas macroeconômicos, a alta da tarifa de energia elétrica no próximo ano deve ficar bem mais modesta: a previsão mais pessimista é de avanço de 12%. Se São Pedro colaborar, algo que não ocorreu nos últimos três verões, a bandeira pode ficar verde, como apostam alguns especialistas do governo e do setor. Neste caso, a ajuda aos preços seria bem maior: o acréscimo extra a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos passaria dos atuais R$ 4,50 para zero.

O cenário tarifário só não é mais favorável por causa da seca no Nordeste, que reduziu fortemente o nível dos reservatórios da região, e da relicitação de 29 hidrelétricas marcada para o fim deste mês, cujo bônus de outorga a ser pago pelos investidores, de R$ 17 bilhões, será repassado ao consumidor, ao longo da concessão, de 30 anos.

A previsão de Wilson Ferreira Junior, presidente da CPFL Energia, é que as tarifas de energia terão queda real de 8% nos próximos dois anos. Uma redução nominal das tarifas dos consumidores do mercado cativo não deve acontecer no curto prazo, mas o mercado livre já deve contar com preços mais baixos de energia já a partir de 2016, avalia.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê uma queda média de 2,5% no consumo de energia em novembro na comparação anual. "Essa redução está contribuindo para um reequilíbrio mais rápido da relação entre oferta e demanda de energia", afirma João Carlos Mello, presidente da Thymos Energia.

As pressões de baixa no consumo de energia "podem pedir um acionamento menor das termelétricas, supondo que os reservatórios se recuperem a partir de abril", afirma Claudio Sales, do Instituto Acende Brasil.

É o desligamento das termelétricas que deve permitir a mudança nas bandeiras. "Hoje é pessimista acreditar que as bandeiras não vão mudar de cor no ano que vem", diz Fabio Romão, da LCA Consultores. Romão estima que a inflação das contas de luz vai diminuir de 52% para 4,1% entre 2015 e 2016. A desaceleração será influenciada pelo "El Niño", que vai trazer chuvas mais intensas aos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste, e pela continuidade da recessão, que reduz o consumo de energia.

Esses dois fatores devem fazer com que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mude a bandeira tarifária de vermelha para amarela no início do segundo trimestre, diz Romão. Caso o sinal para o consumo migre para verde, a projeção da LCA para a alta de eletricidade no próximo ano ficaria menor, assim como a do IPCA, atualmente em 6,03%, mas o economista ressalta que ainda é preciso incorporar nos números os efeitos da Medida Provisória 688, que prevê repasses ao consumidor dos custos com o chamado déficit hidrológico (risco de falta de geração de energia que é coberto pelas geradoras hidrelétricas).

Marcio Milan, da Tendências Consultoria, também ainda não incluiu os possíveis impactos da nova regra -- já aprovada na Câmara e que será avaliada pelo senado - em sua estimativa de alta de 12% para a eletricidade residencial no próximo ano, mas avalia que o impacto é de alta. Com a MP, diz, passivos que hoje são das geradoras devem ser repassados às distribuidoras e chegar ao consumidor.

Aprovada pela Câmara dos Deputados na última semana, a MP 688, que trata da repactuação do risco hidrológico, determina que, a partir de 2016, a conta das bandeiras tarifárias vai arcar com parte do custo do déficit de geração hídrica das hidrelétricas (medido pelo fator GSF, na sigla em inglês). Na prática, na hipótese de um regime de chuvas desfavorável neste verão, aliado a um reaquecimento da economia e do consumo de energia, os consumidores arcarão com o custo do déficit das hidrelétricas, por meio das bandeiras tarifárias.

No começo deste mês, porém, Tiago Correia, diretor da Aneel, afirmou que a bandeira verde deve ser acionada no início do período seco de 2016, entre abril e maio, quando será possível contar com a recuperação dos reservatórios de grandes hidrelétricas se confirmada as expectativas de chuvas. Segundo Correia, é possível que o sinal mude diretamente de vermelho para verde.

Tatiana Pinheiro, do Santander, trabalha com cenário de inflação pressionada em 2016, de 7% - 0,5 ponto percentual acima do teto da meta, de 6,5% - mas observa que os preços de energia não serão os responsáveis. Em seus cálculos, as contas de luz terão alta de 6,5%, previsão que considera a passagem da bandeira vermelha para amarela no começo do ano. "Talvez em algum momento do segundo semestre possamos ter bandeira verde", cogita.

Para que a bandeira verde seja acionada antes disso, é necessária uma combinação entre um período de chuvas mais farto e temperaturas mais brandas no verão. De qualquer forma, diz, a tarifa de eletricidade terá uma variação mais alinhada com a inflação no próximo ano, quadro bem diferente de 2015.

O triênio de forte ajuste para baixo da economia deve contribuir para esse cenário, comenta Fabio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da GO Associados. "O ano de 2015 foi de ajuste dos preços administrados. O de 2016 começará sob novas bases, com as tarifas de energia elétrica já corrigidas". Por isso, diz, a alta desses preços observada no próximo ano deve ser residual, podendo ficar abaixo da sua estimativa atual para a variação do IPCA no período, em 6,2%.

Para o professor Nivalde Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel/UFRJ), a bandeira tarifária deve mudar de cor em 2016, devido à queda da demanda, mas que isso pode não se traduzir em redução da conta de luz já no próximo ano, por causa das complexidades da tarifa brasileira. Ele teme ainda que as bandeiras sejam usadas para outros fins além daquele previsto inicialmente: sinalizar ao consumidor que termelétricas mais caras foram acionadas devido a uma menor oferta de energia hidrelétrica.

Em entrevista recente ao Valor, Romeu Rufino, diretor-geral da Aneel, disse que as tarifas deverão variar "dentro da normalidade" em 2016. Segundo ele, como boa parte do custo de geração de termelétricas mais caras já foi repassado ao consumidor, não há volume significativo desse custo a ser aplicado nas tarifas das distribuidoras no ano que vem.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Aneel planeja grande leilão de transmissão

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende realizar o "maior leilão de transmissão da história" em fevereiro de 2016, licitando projetos que envolvem de R$ 15 bilhões a R$ 16 bilhões em investimentos, afirmou ontem José Jurhosa, diretor da agência.

Os montantes envolvidos podem ainda ser maiores, uma vez que alguns dos oito lotes que não tiveram interessados ontem podem ser adicionados à lista.

O leilão de transmissão realizado ontem teve interessados em apenas quatro lotes, dos doze disponibilizados. Os investimentos previstos nos projetos eram da ordem de R$ 7,5 bilhões, mas só foram licitadas obras envolvendo cerca de R$ 3,5 bilhões.

Apesar da falta de interesse na disputa, a Aneel não pretende melhorar as taxas de retorno oferecidas, que já considera atrativas. A agência não considera também facilitar o financiamento, apesar da reclamação dos agentes de que este foi um dos principais impedimentos no certame de ontem. Haverá uma revisão da composição e dos prazos dos lotes.

"A Aneel continua entendendo que o leilão não foi sucesso total, porque não vendemos tudo, mas não deixou de ser, pois vendemos cerca de 50% do oferecido", afirmou Jurhosa.

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terça-feira, 17 de novembro de 2015

O Brasil se encontra em dominância fiscal?

Uma das principais discussões e motivo de controvérsia entre os economistas nas últimas semanas é se o Brasil está ou não em dominância fiscal. Antes de responder a esta pergunta, é fundamental definir o que os economistas têm chamado de dominância fiscal, pois divergências quanto à definição têm gerado confusão no debate econômico.

A definição original aplicada ao Brasil sobre dominância fiscal remete ao artigo de Olivier Blanchard de 2004, "Fiscal Dominance and Inflation Targeting: Lessons from Brazil". Em uma situação normal, um aperto de política monetária reduz a inflação e um dos canais é a apreciação real do câmbio, dado que o diferencial de juros estimula a entrada de capital. Sob dominância fiscal, por outro lado, uma elevação dos juros acaba causando uma depreciação cambial. Isto ocorre em resposta ao aumento do risco decorrente da elevação da dívida pública. Na sequência, o efeito inflacionário via câmbio é maior que do que a desinflação via contração da atividade econômica. O resultado final é que uma elevação dos juros causa aumento da inflação.

De fato, observamos ao longo de 2015 um aperto monetário razoável, elevação do risco país, elevação da dívida pública, forte depreciação cambial e elevação da inflação. Todas estas características remetem a um quadro de dominância fiscal em sua versão original. Entretanto, para que a dominância fiscal se verifique desta forma, a causalidade dos fatos é muito relevante. E há algumas evidências que nos mostram que não foi o aperto monetário que causou esta dinâmica.

Não podemos atribuir ao aperto monetário a piora do risco país e a consequente depreciação cambial

Primeiro, a dinâmica de aumento do risco país e de depreciação do câmbio tem relação direta com a política fiscal. Foi depois das revisões da meta de superávit primário em 22 de julho e 31 de agosto, com suas consequências sobre a dinâmica da dívida, que o risco país subiu, trazendo consigo a depreciação do real. Ou seja, não podemos atribuir ao aperto monetário a piora do risco e a consequente depreciação cambial.

Segundo, a elevação atual da inflação é um fenômeno de ajuste de tarifas públicas e não de repasse cambial. Os preços administrados em doze meses passaram de uma alta 1,5% ao final de 2013, ano em que houve contenção de tarifas, para 5,3% em dezembro de 2014, e para 16% no último dado disponível, de setembro de 2015. A inflação dos preços livres, que é onde a política monetária atua, está andando de lado. Foi de 7,3% em 2013, 6,7% em 2014 e está em 7,6% no último dado. Estimativas com o Simulador 4CAST indicam que os preços livres estariam em 6,5% não fosse o atual choque de preços administrados.

Adicionalmente, um ponto relevante colocado por Blanchard é que países com alta parcela de suas dívidas atreladas à moeda estrangeira têm maior probabilidade de estar em dominância fiscal. Apesar dos mais de US$ 100 bilhões em swap cambial e dos US$ 70 bilhões em dívida pública em moeda estrangeira, temos US$ 370 bilhões em reservas, o que faz do Brasil um credor líquido em moeda estrangeira. Neste caso, uma depreciação do real melhora a solvência do setor público, apesar da elevação do déficit nominal pelo pagamento dos swaps.

A maior parte dos economistas concorda que não há dominância fiscal em sua versão original. Ao menos não por enquanto.

A outra definição de dominância fiscal é que a dinâmica da dívida entra no conjunto de variáveis relevantes observadas pelo Banco Central. Com isso, como um aumento dos juros causa aumento da dívida pública, o Banco Central aumenta os juros numa magnitude menor do que ele deveria aumentar. Sob este conceito, é mais difícil afirmar se o país vive ou não sob dominância fiscal, o que explica a divergência de diagnóstico entre alguns economistas.

Algumas evidências nos sugerem que, mesmo sob este conceito, parece que o Brasil não está em dominância fiscal.
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O aperto monetário conduzido pelo Banco Central de outubro de 2014 a julho de 2015 foi maior e mais intenso do que os economistas previam no seu início. Em outubro do ano passado, o mercado esperava uma elevação dos juros para 12% ao longo de 2015, mas a taxa Selic subiu para 14,25%. Em termos de atividade, o mercado previa expansão do PIB de 1% em 2015 e de 2% em 2016, e agora as projeções são de retração de 3,1% e 2% respectivamente, uma mudança em nível de mais de 8 pontos percentuais. Quanto a inflação, o mercado previa 6,33% para 2015 e 5,5% para 2016, e agora projeta 10,04% e 6,5% respectivamente.

É fato que nas últimas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) o Banco Central manteve a taxa de juros estável, mesmo com elevação das expectativas de inflação para 2016, que agora ameaçam o cumprimento da banda. Este comportamento poderia fazer supor que estamos sob dominância fiscal neste segundo conceito. Entretanto, o comportamento da atividade econômica justifica plenamente esta ação por parte do Banco Central. O mercado projeta atualmente que o PIB vai se contrair por dois anos consecutivos, sendo a pior recessão desde a década de 1930, quando o PIB se retraiu 2,1% em 1930 e 3,3% em 1931.

Nestas condições, é razoável que o Banco Central não imponha ainda mais custos para a atividade econômica, e que, portanto, a convergência da inflação à meta seja feita de uma forma mais lenta. É verdade que o Banco Central poderia ser mais explícito em seus comunicados, mas isso é em parte o que ele quer dizer quando diz que a atual taxa de juros, e não uma taxa de juros maior, "é necessária para a convergência da inflação à meta no horizonte relevante da política monetária".

O sistema de metas de inflação é suficientemente flexível para reagir a situações conjunturais como a atual. A adoção de metas de inflação ajustadas, como feito em 2003 e 2004, poderia ajudar neste processo de convergência da inflação e de ancoragem das expectativas em horizontes mais longos, como 2017, para a qual as expectativas já começaram a se descolar do centro da meta.

Juan Jensen é sócio da 4E Consultoria e professor do Insper (jensen@4econsultoria.com.br).

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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

G-20 vê conflito global contra Estado Islâmico

O G-20, que reúne as 20 maiores economias do planeta, passou de diretório econômico a uma espécie de conselho de guerra durante a cúpula da Turquia iniciada ontem. Os líderes prometeram combate sem trégua ao terrorismo, no rastro dos atentados que, na sexta-feira, mataram 132 pessoas em Paris, ferindo outras 350, das quais, 99 estão em estado crítico.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi um dos primeiros a se manifestar. Ele prometeu "redobrar esforços" para "eliminar" o Estado Islâmico (Isis). Para Obama, os atentados do grupo em Paris "foram um ataque ao mundo civilizado". O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também foi enfático.
As declarações se sucederam no jantar de ontem entre os líderes, com todos afirmando que é preciso ter uma reação porque não foram ataques somente contra a França, mas, sim, contra o mundo ocidental. Na prática, os líderes do G-20 reconheceram que o conflito com o Isis deixou de ser regional e passou a ser global.
Para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o ataque a Paris mostra uma fase "inquietante e problemática" do terrorismo global. Somente nos últimos dias, o Isis assumiu os atentados da capital francesa, de Beirute (43 mortos) e de Bagdad (18), além da derrubada de avião russo no Egito (224).
O Valor apurou que Putin chegou a revelar aos colegas no G-20 fotografias que mostram longas filas de tanques de guerra do Isis na Síria, evidenciando a facilidade com que o grupo consegue se armar. A questão mais difícil no G-20 é como os países vão conseguir se unir para coordenar uma resposta também militar contra a organização terrorista. Entre negociadores habituados a discutir temas econômicos, o que está na mesa são medidas para impedir o financiamento do terrorismo, um tema que vem sendo tratado desde 2001. O Isis controla fatias de territórios na Síria e no Iraque, de onde obtém, com a venda de petróleo, renda mensal estimada em US$ 50 milhões.
Obama e Putin se reuniram por 35 minutos para discutir uma solução para o conflito na Síria. Um porta-voz informou que os dois concordaram sobre a necessidade de discussões de paz mediadas pelas Nações Unidas, entre o regime do ditador Bashar al-Assad e seus opositores, além de um cessar-fogo e uma transição política a ser conduzida pelos sírios.
Ontem, a França voltou a guerrear alvos do Isis na Síria. O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, disse que a conferência do clima das Nações Unidas, a CoP-21, que começa dia 30, está mantida. O presidente François Hollande quer ampliar por até três meses o estado de emergência.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dólar tem mínima em um mês ante real

O dólar comercial começou os negócios desta quarta-feira em queda livre, batendo mínima em um mês frente ao real, de R$ 3,7275. Os negócios no segmento à vista de ajustam à forte queda ocorrida no dólar futuro ontem, após notícia do Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, sobre uma aproximação do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles de líderes governistas, o que poderia abrir caminho para que Meirelles substituísse Joaquim Levy na chefia do Ministério da Fazenda.
Segundo a matéria, Meirelles está conversando com líderes políticos governistas sobre cenários econômicos para o Brasil. A aproximação de Meirelles ocorre com o apoio do ex-presidente Lula, e as conversas têm sido interpretadas por interlocutores como sondagens sobre um eventual ingresso de Meirelles no governo, substituindo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Meirelles é bem visto pelo mercado e seria uma garantia de que a condução da política econômica não voltaria a ser heterodoxa como no período imediatamente anterior à liderança de Levy na pasta. Além disso, Meirelles é tido como mais habilidoso politicamente do que Levy, o que facilitaria a aprovação no Congresso Nacional de medidas de ajuste fiscal vistas por investidores como essenciais para a retomada da confiança e do crescimento econômico.
Esse cenário se desenha em um momento em que investidores estrangeiros voltam a olhar para ativos brasileiros, na esteira de uma trégua na crise política, de busca por pechinchas e de um ambiente menos arisco para mercados emergentes de forma geral. Mais recentemente operadores têm citado fluxos pontuais que têm ajudado a amparar o real, mesmo dias de maior estresse no exterior. Por ora, esse movimento não é visto como ligado a melhora de fundamentos, mas sim de caráter tático, visando ganhos com o juro alto oferecido pelo Brasil, praticamente certos pela queda da volatilidade .
Às 9h33, o dólar comercial recuava 1,58%, a R$ 3,7325. O dólar para dezembro tinha alta de apenas 0,03%, a R$ 3,7695.
O real é a moeda de melhor desempenho ante o dólar nesta sessão, considerando as principais divisas globais. Mas outras moedas emergentes também mostram ganhos. A lira turca subia 0,7% em relação ao dólar, o peso mexicano avançava 0,19%, e o rand sul-africano tinha valorização de 0,16%.
O “efeito Meirelles” influencia ainda o mercado de juros futuros, que vê firme redução nos prêmios de risco.
O DI janeiro de 2017 caía a 15,440% ao ano, ante 15,520% no último ajuste. O DI janeiro de 2018 recuava a 15,660%, frente a 15,770% no ajuste de ontem.
Na ponta mais longa, o DI janeiro de 2021 cedia a 15,550%, em relação a 15,720% no ajuste da véspera. O DI janeiro de 2025 marcava também 15,550%, ante 15,740% no ajuste anterior.
(José de Castro | Valor)

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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Mercado já espera recessão de quase 2% em 2016

Pela quinta semana consecutiva, os analistas do mercado financeiro ampliaram a estimativa de queda para a atividade econômica no país no ano que vem. Eles também reduziram a previsão, pela 17ª semana, para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de acordo com o boletim Focus, do Banco Central. Na pesquisa, são coletadas semanalmente as projeções de cem analistas financeiros para indicadores chave da economia nacional.

A mediana das projeções para o PIB em 2016 teve queda acentuada, de retração de 1,51% para recuo de 1,90%. Para 2015, a queda saiu de 3,05% para 3,10%.

Na semana passada, a recessão deu sinais de piora. O IBGE informou que a produção industrial caiu 1,3% em setembro, fechando o terceiro trimestre com queda mais acentuada (-9,5%) que o segundo (-6,5%) na comparação com o mesmo período do ano passado. A estimativa do mercado para a produção industrial em 2015 também piorou, indo de retração de 7% para 7,40% de uma semana à outra. Para 2016, a projeção seguiu em diminuição de 2%.

Inflação

Segundo o Focus, os analistas elevaram as estimativas para o IPCA em 2015, de 9,91% para 9,99% e,em 2016, de 6,29% para 6,47%. Ou seja, já esperam inflação no teto da meta (6,5%) no próximo ano.

Entre os analistas Top 5 - os que mais acertam as previsões -, a expectativa do IPCA deste ano subiu de 10,03% para 10,16%, mas a de 2016 caiu de 7,33% para 6,98%.

Os analistas também elevaram a estimativa para o IPCA em 2018 de 4,91% para 5% e continuam a ver a convergência da inflação para a meta de 4,5% apenas em 2019. Para 2017, a mediana das estimativas de inflação permaneceu em 5%.

Juros

Diante da inflação cada vez mais alta e de um discurso mais duro do Banco Central, a expectativa dos analistas do mercado financeiro é de que o juro básico da economia não vai recuar tanto em 2016 quanto o esperado há algumas semanas.

De acordo com o boletim, a mediana das estimativas para a taxa Selic no fim do ano que vem subiu novamente, desta vez de 13% para 13,25%. Há um mês, a expectativa era de que o juro terminasse o ano em torno de 12,50%. A média das estimativas para a Selic, que subiu de 13,95% para 14,06%, mostra como aumentou a expectativa do mercado em geral para o juro no próximo ano. Os analistas Top 5 também elevaram sua aposta, de 12,75% para 13% (mediana de médio prazo).

Para 2015, ambos os grupos - geral e Top 5 - mantiveram a avaliação de que a autoridade monetária vai manter a Selic em 14,25% na última reunião do ano, a ser realizada no fim deste mês.

Na semana passada, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes, deixou claro que o BC fará o necessário para levar a inflação à meta de 4,5% em 2017, não importa o cenário econômico. Na ata da última reunião do Copom, o colegiado não havia citado data para a convergência da inflação. O BC disse que não vê o IPCA estourando teto da meta, de 6,5% em 2016, embora muitas estimativas do mercado já estejam acima disso.

O BC decidiu reforçar o recado sobre o juro diante dos chamados “eventos não econômicos”. Entre eles, as medidas de ajuste, que seguem emperradas no Congresso, e a falta de clareza quanto à meta fiscal de 2015 e 2016.

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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Poucas e boas

Elas estão em minoria, representam apenas 14 ações de um grupo de 63 que compõem o Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira. Mas fazem a diferença. Em um ano de juros básicos no patamar de 14,25%, o maior em nove anos, não tem sido nada fácil atrair o interesse de investidores para a renda variável.
Esses 14 papéis têm se destacado, contudo, ao apresentar um desempenho superior à variação de 10,77% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referencial das aplicações conservadoras, neste ano. O risco, nesses casos, foi compensado pelo retorno. E quatro das 14 ações foram recomendadas para a Carteira Valor de novembro. São elas: Raia Drogasil ON, novidade deste mês, com valorização anual de 59,5%; Klabin Unit (53,4%); Suzano Papel e Celulose PNA (48,5%); e Ambev ON (20,1%).

"O investidor procura quem tem geração de caixa futuro previsível, principalmente empresas de serviços financeiros e de alimentos e bebidas, ou receita dolarizada com custo em real", diz Leonardo Milane, estrategista da Santander Corretora.
Roberto Indech, analista da área de estratégia da Rico Corretora, endossa. "Quais são os setores que se beneficiam neste ano na bolsa? São os das exportadoras." Nessa lista, além das companhias de papel e celulose, destacam-se em 2015 nomes como Braskem e JBS, com alta da ordem de 30%, e Embraer, com avanço de 16,3%.
Apesar da perda de 0,16% no mês passado, a Carteira Valor segue com ganho de 1,79% em 2015, portanto acima do Ibovespa, que cai 8,28% no ano, embora tenha subido 1,8% em outubro.
Além de Raia Drogasil, entraram no portfólio deste mês as ações ordinárias da Cetip e da Hypermarcas. Com quatro votos cada, lideram as recomendações de novembro, ao lado de Cetip, Itaú Unibanco PN, Ambev ON, BB Seguridade ON e Valid ON. Cielo ON e Suzano Papel e Celulose PNA foram as apostas de três corretoras cada, enquanto as units da Klabin receberam dois votos, mesmo número de Raia Drogasil e Hypermarcas.

Ainda que defenda uma das melhores opções de investimento em 2015, as ações da Suzano pesaram em outubro, com queda de nada menos que 14,2%. Ao fim de outubro, a empresa, segunda maior produtora mundial de celulose de eucalipto, informou que a escassez de chuvas no sul da Bahia a levou a antecipar em uma semana a parada programada para manutenção da linha 1 da fábrica de Mucuri.
Apesar da baixa no mês passado, a Guide Investimentos incluiu os papéis em seu portfólio. O analista Rafael Ohmachi diz enxergar uma forte demanda por papel e celulose vinda do mercado externo, com destaque para Europa, e vê no processo de desalavancagem um fator positivo para a Suzano. Para ele, a queda das ações foi exagerada e o cenário segue favorável.
Já a equipe da Citi Corretora preferiu continuar com as units da Klabin na carteira. Dentre os aspectos positivos, a casa menciona a aceleração no crescimento da receita nos últimos três trimestres e a expectativa de forte crescimento para o Ebitda nos próximos três anos, por conta do início das operações de sua nova planta de celulose em 2016.

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terça-feira, 3 de novembro de 2015

BM&FBovespa e Cetip conversam sobre possível fusão e ações disparam

A BM&FBovespa mantém “tratativas preliminares” com a Cetip para uma possível fusão, informou a Bolsa nesta terça-feira. O objetivo das conversas é formular uma proposta de combinação das duas companhias aos conselhos de administração, para posterior avaliação dos acionistas.
“Não se pode assegurar que tais tratativas resultarão em uma oferta ou transação de qualquer natureza”, acrescentou a BM&Bovespa. “Não existe, neste momento, qualquer proposta sobre a estrutura econômica ou societária ou sobre outros termos e condições de uma eventual transação.”
A fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip deve ocorrer com aporte de capital e também com troca de ações. Segundo uma fonte de mercado, provavelmente ficará no mercado a ação da BM&F e será oferecida uma relação de troca para os acionistas da Cetip. Para fechar o negócio, a BM&FBovespa utilizará os R$ 450 milhões que entraram em caixa após a venda, no mês passado, de 20% da fatia que a bolsa detinha no CME Group, principal mercado de derivativos do mundo.
As ações da Cetip e da BM&FBovespa estavam entre os destaques de alta do Ibovespa nesta manhã. Enquanto o índice da Bolsa paulista subia  1,43% às 10h38, Cetip ON ganhava 7% e BM&FBovespa avançava 6%.

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