quinta-feira, 28 de abril de 2016

Com Ilan no BC, mercado vê chance de Selic cair mais cedo

A possibilidade de o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, vir a assumir o Banco Central é vista pelo mercado financeiro como sinal de que os juros podem cair mais cedo. Ilan foi um dos primeiros analistas do mercado a prever corte de juros este ano. E segue até agora com um dos cenários mais ousados para a política monetária: corte da Selic a partir de julho, com a taxa caindo para 12,25% no fim de 2016 e para 10% no ano que vem.
Diante desses elementos, o mercado financeiro especula que a confirmação de Ilan pode significar um viés mais "dovish" - favorável ao alívio monetário - ao Banco Central do que num cenário em que outro ex-BC, o sócio do Banco Brasil Plural, Mário Mesquita, venha a ser escolhido. Mas no caso dos ex-diretores do BC, Goldfajn está mais para "dovish" dentro do seu oposto "hawkish".
Ilan é um dos nomes que têm sido levados por assessores do vice-presidente Michel Temer a gestores de recursos em conversas que têm por objetivo "testar" possibilidades para a equipe econômica. A definição dessa equipe - não só o ministro da Fazenda e o presidente do BC, mas também o comando dos bancos públicos - é vista no mercado como o primeiro sinal para uma reação otimista ou pessimista dos ativos financeiros. E o nome de Ilan agrada. "É o melhor BC em tempos!", comemora um profundo conhecedor de política monetária e do papel dos bancos centrais que dobrou a partir da crise financeira de 2008/2009.
O nome de Mesquita também tem sido ventilado como uma possibilidade para o BC. E, a julgar pelo conteúdo de seus relatórios recentes, sua gestão seria marcada ainda por muita cautela na condução da política monetária.
Analistas que têm contato mais próximo a Ilan advertem que o mercado pode estar exagerando na avaliação sobre o que seria um BC conduzido por ele. Isso porque, ao definir seus cenários de corte de juros, o economista do Itaú coloca na conta o "efeito Tombini", ou seja, está levando em consideração a história do atual BC de sempre fazer as escolhas de política monetária mais flexível. O próprio Ilan teria em mente que, com outro BC, a resposta dos juros ao atual quadro de inflação poderia ser mais lenta.
O cenário do Itaú também chama a atenção pelo pessimismo em relação à atividade e seu efeito sobre os preços. A projeção para o PIB em 2016 é de retração de 4% - a mediana do mercado, de -3,88%. E, para a inflação, de 6,9% neste ano e de 5% em 2017. O Brasil Plural também conta com uma queda do PIB da mesma ordem, mas espera um IPCA mais alto, de 7,3% este ano e de 5,5% no próximo.
A atenção ao quadro recessivo vem marcando os relatórios do Itaú desde o fim do ano passado. Os documentos alertavam para os "potenciais efeitos desinflacionários em setores mais intensivos em mão de obra, como o de serviços" - exatamente aquele onde os preços mostraram maior resistência.
Em dezembro de 2015, quando a ata do Copom começou a preparar o mercado para um aperto monetário no curto prazo por causa da inflação alta, o Itaú dizia que o cenário levaria o comitê a manter a Selic em 14,25% pelos próximos meses. E foi exatamente isso que aconteceu. O Copom não subiu os juros em janeiro, contrariando sua própria sinalização. Tentou, com sua comunicação, evitar apostas em um alívio monetário no curto prazo, baseadas na piora dos indicadores de atividade. Ainda assim, os relatórios assinados por Ilan mantinham no radar a ideia de redução de juros ainda este ano. No último relatório do Itaú, a projeção era de corte já a partir de julho.
Em 20 de abril, relatório do Itaú afirmava que "os dados de atividade seguiram fracos, o que levou o Copom a revisar para baixo a projeção de crescimento do PIB este ano. Esses movimentos nas variáveis exógenas devem levar a uma queda nas projeções de inflação estimadas pelo modelo do BC."
Para o Brasil Plural, o problema é que a recessão atual, com uma fortíssima contração do investimento, pode estar ocasionando uma importante destruição de capacidade produtiva. "Estimamos no Brasil Plural que ao final da recessão o PIB terá contraído 9% em termos cumulativos e o investimento, 34%. Nessas circunstâncias, o crescimento potencial, que muitos julgam estar na casa de 2% a 3%, pode ser ainda menor, o que implica o risco de a reaceleração inflacionária começar em patamares de crescimento relativamente baixos - no momento, o consenso do mercado é que, após contrair 3,5% em 2016, o PIB registre expansão de parcos 0,5% em 2017 e 1,5% em 2018", diz o texto.
Em outro relatório, divulgado no dia 20, Mesquita disse que a Selic ficaria estável no encontro do Copom encerrado ontem, mas que o rumo nos próximos meses dependerá justamente da definição de quem estará à frente do BC. Ele reconhece, entretanto, que o viés da política monetária é de estabilidade ou, eventualmente, de queda. O tom mais "hawkish" - inclinado ao aumento de juros - foi identificado também em declarações que teriam sido feitas pelo economista em evento em São Paulo, de que apesar da queda da inflação ainda é preciso trabalhar duramente para "atingir o centro da meta" de 4,5%.
Ilan Goldfajn é um renomado acadêmico. PhD pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), ingressou, em 1999, no Departamento da PUC-Rio, onde atuou até o fim de 2008. Integrou a partir de 2000, a diretoria da instituição sob o comando de Arminio Fraga. Na função de diretor de Política Econômica, ele substituiu o economista Sérgio Werlang e permaneceu no posto até julho de 2003. Naquele ano, compôs a equipe de Henrique Meirelles que presidiu a instituição durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). O economista Afonso Bevilaqua - também cotado para a presidência do BC neste momento - substituiu.
Mário Mesquita assumiu a diretoria de Política Econômica do BC entre 2007 e 2010, na gestão de Henrique Meirelles, também é um nome forte e bem visto pelo mercado. Doutor em economia pela Universidade de Oxford, ele é visto como um firme defensor do regime de metas de inflação, com baixa tolerância a desvios desse objetivo. No BC, ele também foi diretor de estudos especiais, entre 2006 e 2007. No mercado, foi economista-chefe do Banco ABN Amro, entre 2000 e 2006.

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