segunda-feira, 25 de abril de 2016

'Gerenciamento de lucro' aumenta na crise

Investidores e analistas fundamentalistas devem redobrar a atenção dedicada aos balanços das companhias brasileiras já divulgados sobre 2015 e também aos trimestrais que devem sair nos próximos dias e ao longo de 2016.
Embora intuitivamente já se pudesse imaginar isso, um estudo acadêmico publicado neste mês no "Journal of Accounting in Emerging Economies" confirma que, durante os momentos de crise econômica, há uma crescimento estatisticamente significativo do uso de práticas que literatura a chama de "gerenciamento de resultados" por parte das empresas.
Isso significa que aumenta a probabilidade de que gestores dessas companhias tomem decisões discricionárias que melhorem ou piorem os lucros divulgados, como realização de baixas contábeis, constituição ou reversões de provisões, revisão de estimativa de vida útil ativos, adoção de novas práticas contábeis quando a norma permite escolha, e assim por diante.
O gerenciamento de resultado não é tratado como fraude, segundo Eduardo Flores, um dos pesquisadores que assina o artigo. "É o uso de flexibilidade da norma para obtenção de benefício privado em detrimento da qualidade da informação contábil", diz ele.
A literatura, ainda segundo o pesquisador, aponta motivos teóricos e lógicos tanto para se melhorar os números como também para jogá-los para baixo de maneira artificial em época de crise econômica. "Em momentos que se sai de um ciclo próspero, quando as empresas se endividam e os investidores se acostumam com certo patamar de rentabilidade, é tentador para os gestores corporativos quererem 'mexer no balanço' para manter os números dentro do traçado observado nos últimos períodos", Flores, que assina o trabalho pela USP e pela Fecap ao lado de Elionor Weffot, Aldy da Silva, e também do professor Nelson Carvalho, este último atual presidente do conselho de administração da Petrobras e membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).
Na perspectiva contrária, estariam empresas que, nos anos de bonança, deixaram de reconhecer todas as perdas e provisões que deveriam, inflando os resultados, o que é insustentável ao longo do tempo, já que em algum momento há uma convergência necessária entre os resultados pelo regimes de caixa e competência. Neste caso, o gestor aproveitaria a "desculpa da crise" para arrumar a casa.
Para verificar a existência desse fenômeno, os pesquisadores não têm como investigar o caso de cada companhia e nem comprovar que a intenção da direção da empresa era mesmo gerenciar ou não o resultado.
O que se faz então é usar a variação do volume de lançamentos contábeis discricionários sem efeito caixa - que sempre existem na contabilidade por competência, diga-se - como uma aproximação dessa prática de jogar o lucro mais para cá ou mais para lá, a depender da intenção.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a intensidade do gerenciamento de resultado é maior durante os períodos de crise a partir da análise de milhares de balanços trimestrais de empresas dos Estados Unidos, de 1998 a 2010, e do Brasil, entre 1998 e 2009 - antes da mudança completa do padrão contábil para o modelo IFRS.
No Brasil, foram tratados como crise os anos de 1999, 2002 e 2008. Nos EUA, 2001 e 2008.

Leia mais em:  http://www.valor.com.br//empresas/4534789/gerenciamento-de-lucro-aumenta-na-crise

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