sexta-feira, 29 de abril de 2016

'Era de ouro' pode chegar ao fim para smarpthone

Os números podem variar, mas a tendência é clara: a 'era de ouro' de crescimento dos smartphones parece ter chegado ao fim. Com o aumento no uso dos aparelhos e as incertezas com relação à economia, o que começa a se desenhar é uma era "pós-smartphone", em que os telefones perderão o protagonismo dos últimos anos nos resultados dos fabricantes.
O cenário ficou claro com o resultado da Apple, que registrou a primeira queda na venda de iPhones desde o lançamento do primeiro modelo, em 2007. Foram 51,19 milhões de unidades vendidas, queda de 16,3% em comparação com 61,17 milhões um ano antes. O iPhone representa quase sete de cada dez dólares vendidos pela Apple. Por isso, a queda tem gerado tensão entre investidores.
O desempenho fraco também foi registrado por LG e Sony. Até a chinesa Xiaomi, que vinha registrando crescimentos estelares nos últimos anos, desacelerou. No caso Sony, particularmente, o impacto foi duplo. Além de vender menos os seus próprios smartphones, a empresa sofreu com a menor demanda pelos sensores para câmeras digitais que ela vende para outros fabricantes. "O mercado de smartphones já não é uma fonte de crescimento acelerado", disse o principal executivo de finanças da Xiaomi, Kenichiro Yoshida.
Os smartphones começaram a ser vendidos há 20 anos com os primeiros modelos avançados da Nokia. Mas foi só a partir de 2007, com o iPhone, que o segmento realmente deslanchou. Desde então, as vendas vinham crescendo a cada trimestre, chegando a 1,4 bilhão de unidades globalmente em 2015, segundo a empresa de pesquisa IDC.
Mas em relatórios divulgados ontem, IDC, Strategy Analytics e Juniper Research reportaram números para o 1º trimestre considerados os mais fracos da história. O pior desempenho foi o da Juniper , com recuo de 6%, para 320 milhões de unidades vendidas. De acordo com a Strategy, a queda foi de 3%, para 334,6 milhões de unidades, puxadas pela queda nas vendas da Apple e da Samsung, que respondem por quase 40% do mercado.
Para a IDC, o que se mostra é estabilidade, com 334,3 milhões de unidades entre janeiro e março, ante 334,9 milhões um ano antes. A empresa destacou o amadurecimento do mercado chinês como um dos fatores para o resultado. "O apetite por smartphones diminuiu dramaticamente na medida em que a explosão de adoção já passou de seu auge", relatou a companhia.
Em valores absolutos, o número de smartphones vendidos ao redor do mundo continuará a crescer. Segundo a IDC, serão 1,9 bilhão de unidades em 2020. Mas outras categorias de dispositivos é que passarão a ser as grandes estrelas dos resultados daqui em diante. Na lista estão produtos inteligentes como pulseiras, relógios, drones, etc.
A Sony, por exemplo, tem dado mais foco no console de videogame PlayStation. Até o fim do ano, óculos de realidade virtual serão lançados para complementar a experiência do usuário, o que pode acelerar ainda mais o avanço da empresa. A Apple já começou a explorar outras categorias com o lançamento de seu relógio inteligente. Mesmo longe de ser um sucesso de vendas, o Watch representa uma nova possibilidade. Especialistas dizem que, no futuro, a dona do iPhone também lançará uma TV e até um carro sem motorista.
Maior vendedora de smartphones do mundo, a Samsung sofreu com o mercado de smartphones ao longo dos últimos dois anos, mas parece estar colocando a casa em ordem. O Galaxy S7, o mais novo aparelho top de linha da marca, lançado em fevereiro, está com demanda acima de seus antecessores nos primeiros meses de venda. Resta saber se o desempenho se repete ao longo do ano.

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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Com Ilan no BC, mercado vê chance de Selic cair mais cedo

A possibilidade de o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, vir a assumir o Banco Central é vista pelo mercado financeiro como sinal de que os juros podem cair mais cedo. Ilan foi um dos primeiros analistas do mercado a prever corte de juros este ano. E segue até agora com um dos cenários mais ousados para a política monetária: corte da Selic a partir de julho, com a taxa caindo para 12,25% no fim de 2016 e para 10% no ano que vem.
Diante desses elementos, o mercado financeiro especula que a confirmação de Ilan pode significar um viés mais "dovish" - favorável ao alívio monetário - ao Banco Central do que num cenário em que outro ex-BC, o sócio do Banco Brasil Plural, Mário Mesquita, venha a ser escolhido. Mas no caso dos ex-diretores do BC, Goldfajn está mais para "dovish" dentro do seu oposto "hawkish".
Ilan é um dos nomes que têm sido levados por assessores do vice-presidente Michel Temer a gestores de recursos em conversas que têm por objetivo "testar" possibilidades para a equipe econômica. A definição dessa equipe - não só o ministro da Fazenda e o presidente do BC, mas também o comando dos bancos públicos - é vista no mercado como o primeiro sinal para uma reação otimista ou pessimista dos ativos financeiros. E o nome de Ilan agrada. "É o melhor BC em tempos!", comemora um profundo conhecedor de política monetária e do papel dos bancos centrais que dobrou a partir da crise financeira de 2008/2009.
O nome de Mesquita também tem sido ventilado como uma possibilidade para o BC. E, a julgar pelo conteúdo de seus relatórios recentes, sua gestão seria marcada ainda por muita cautela na condução da política monetária.
Analistas que têm contato mais próximo a Ilan advertem que o mercado pode estar exagerando na avaliação sobre o que seria um BC conduzido por ele. Isso porque, ao definir seus cenários de corte de juros, o economista do Itaú coloca na conta o "efeito Tombini", ou seja, está levando em consideração a história do atual BC de sempre fazer as escolhas de política monetária mais flexível. O próprio Ilan teria em mente que, com outro BC, a resposta dos juros ao atual quadro de inflação poderia ser mais lenta.
O cenário do Itaú também chama a atenção pelo pessimismo em relação à atividade e seu efeito sobre os preços. A projeção para o PIB em 2016 é de retração de 4% - a mediana do mercado, de -3,88%. E, para a inflação, de 6,9% neste ano e de 5% em 2017. O Brasil Plural também conta com uma queda do PIB da mesma ordem, mas espera um IPCA mais alto, de 7,3% este ano e de 5,5% no próximo.
A atenção ao quadro recessivo vem marcando os relatórios do Itaú desde o fim do ano passado. Os documentos alertavam para os "potenciais efeitos desinflacionários em setores mais intensivos em mão de obra, como o de serviços" - exatamente aquele onde os preços mostraram maior resistência.
Em dezembro de 2015, quando a ata do Copom começou a preparar o mercado para um aperto monetário no curto prazo por causa da inflação alta, o Itaú dizia que o cenário levaria o comitê a manter a Selic em 14,25% pelos próximos meses. E foi exatamente isso que aconteceu. O Copom não subiu os juros em janeiro, contrariando sua própria sinalização. Tentou, com sua comunicação, evitar apostas em um alívio monetário no curto prazo, baseadas na piora dos indicadores de atividade. Ainda assim, os relatórios assinados por Ilan mantinham no radar a ideia de redução de juros ainda este ano. No último relatório do Itaú, a projeção era de corte já a partir de julho.
Em 20 de abril, relatório do Itaú afirmava que "os dados de atividade seguiram fracos, o que levou o Copom a revisar para baixo a projeção de crescimento do PIB este ano. Esses movimentos nas variáveis exógenas devem levar a uma queda nas projeções de inflação estimadas pelo modelo do BC."
Para o Brasil Plural, o problema é que a recessão atual, com uma fortíssima contração do investimento, pode estar ocasionando uma importante destruição de capacidade produtiva. "Estimamos no Brasil Plural que ao final da recessão o PIB terá contraído 9% em termos cumulativos e o investimento, 34%. Nessas circunstâncias, o crescimento potencial, que muitos julgam estar na casa de 2% a 3%, pode ser ainda menor, o que implica o risco de a reaceleração inflacionária começar em patamares de crescimento relativamente baixos - no momento, o consenso do mercado é que, após contrair 3,5% em 2016, o PIB registre expansão de parcos 0,5% em 2017 e 1,5% em 2018", diz o texto.
Em outro relatório, divulgado no dia 20, Mesquita disse que a Selic ficaria estável no encontro do Copom encerrado ontem, mas que o rumo nos próximos meses dependerá justamente da definição de quem estará à frente do BC. Ele reconhece, entretanto, que o viés da política monetária é de estabilidade ou, eventualmente, de queda. O tom mais "hawkish" - inclinado ao aumento de juros - foi identificado também em declarações que teriam sido feitas pelo economista em evento em São Paulo, de que apesar da queda da inflação ainda é preciso trabalhar duramente para "atingir o centro da meta" de 4,5%.
Ilan Goldfajn é um renomado acadêmico. PhD pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), ingressou, em 1999, no Departamento da PUC-Rio, onde atuou até o fim de 2008. Integrou a partir de 2000, a diretoria da instituição sob o comando de Arminio Fraga. Na função de diretor de Política Econômica, ele substituiu o economista Sérgio Werlang e permaneceu no posto até julho de 2003. Naquele ano, compôs a equipe de Henrique Meirelles que presidiu a instituição durante os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). O economista Afonso Bevilaqua - também cotado para a presidência do BC neste momento - substituiu.
Mário Mesquita assumiu a diretoria de Política Econômica do BC entre 2007 e 2010, na gestão de Henrique Meirelles, também é um nome forte e bem visto pelo mercado. Doutor em economia pela Universidade de Oxford, ele é visto como um firme defensor do regime de metas de inflação, com baixa tolerância a desvios desse objetivo. No BC, ele também foi diretor de estudos especiais, entre 2006 e 2007. No mercado, foi economista-chefe do Banco ABN Amro, entre 2000 e 2006.

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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Eletrobras lança sistema para reduzir perdas na distribuição

A Eletrobras inaugurou ontem um "centro de inteligência" com o objetivo zerar, até 2018, as perdas de R$ 500 milhões anuais com furto de energia em suas seis distribuidoras. A central de monitoramento é sediada em Brasília, onde os técnicos da estatal podem acompanhar, por meio de telões, o conjunto de dados colhidos automaticamente pelos medidores inteligentes que são conectados por redes de telecomunicações sem fio.
A dificuldade financeira das distribuidoras da Eletrobras é explicada, em boa parte, pelo registro recorrente de ligações clandestinas e pela baixa eficiência das redes elétricas, causada pela falta de investimento. Algumas áreas atendidas pelas empresas do grupo estatal, como a região de Manaus, têm até 32% de perdas.
Ao todo, a Eletrobras conta com seis distribuidoras que foram federalizadas na década de 1990 e exigiram investimentos pesados para operarem no azul. São concessionárias que atendem Estados das regiões Norte e Nordeste: Amazonas Energia, Eletroacre, Boa Vista Energia (RR), Ceal (AL), Cepisa (PI) e Ceron (RO). Todas elas integram um plano de venda de controle para empresas de capital privado.
O diretor Comercial das Distribuidoras Eletrobras, Luiz Armando Crestana, considera que o sistema de medição inteligente inaugura uma nova etapa da gestão dos ativos de distribuição da estatal. "O Centro de Inteligência da Medição pode ser considerado um sistema anti-fraude, mas vai funcionar, na verdade, como um mecanismo de proteção de receita", afirmou Crestana.
Nessa fase inicial, a Eletrobras mantém instalados 150 mil medidores eletrônicos, em uma área que representa 60% do consumo total das seis distribuidoras. Por enquanto, a prioridade é levar os medidores inteligentes aos grandes consumidores, como indústria e estabelecimentos comerciais de grande porte.
O diretor da Eletrobras explicou que mudanças abruptas no consumo, com indício de perda ou furto de energia, são percebidas pelos técnicos no mesmo instante.
O investimento no novo projeto de medição foi da ordem de R$ 260 milhões. Somente a sala de monitoramento custou R$ 15 milhões. O gasto com cada medidor foi de cerca de R$ 800.
Crestana explicou que todo recurso aplicado no projeto pode ser recuperado via tarifa de energia, pela rubrica de investimentos na eficiência da rede de distribuição. A instalação do sistema ficou a cargo da Siemens, que ganhou concorrência da estatal. Até março do próximo ano, a Eletrobras precisará validar todas as ferramentas eletrônicas. A partir daí, iniciará a fase de "operação assistida" em que a estatal assumirá a operação com apoio da empresa de tecnologia contratada pelo período de três anos.
O diretor da Eletrobras avalia que a tecnologia adotada permite a cobrança diferenciada, com base no horário de consumo, o que vem sendo estudado e deve ser implementado nos próximos anos.


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terça-feira, 26 de abril de 2016

Setor de startups financeiras cresce e chega a 130 empresas no Brasil

O movimento das startups de serviços financeiros, as fintechs, começou a ganhar força no Brasil no fim de 2014 e tem crescido de forma acelerada. Já são mais de 130 empresas com atuação em segmentos como pagamentos, gerenciamento financeiro, empréstimos e negociação de dívidas, entre outros serviços financeiros. O número representa um crescimento de 30% em relação à pesquisa anterior, de setembro.
Os dados são da FintechLab, uma iniciativa da agência de inovação Clay Innovation para acompanhar o setor, que também inclui negócios nas áreas de captação de investimento, seguros, eficiência financeira, segurança, conectividade e bitcoin/blockchain.
Entre os principais nomes do setor estão o cartão de crédito Nubank, o aplicativo de gestão financeira Guia Bolso, o site de investimento Magnetis e o f(x) (lê-se éfê de xis), de empréstimos para empresas de médio porte.
No levantamento mais recente, uma entre cada cinco empresas afirma ter mais de 20 funcionários. Do total, 70% estão em funcionamento, ou seja, têm clientes e receita. Metade das 130 companhias tem receita superior a R$ 1 milhão. Um avanço significativo em relação ao ano passado, quando o percentual era de 30%. Somadas, as companhia chegam a uma receita de R$ 173 milhões, o equivalente ao resultado operacional do 16º maior banco brasileiro, segundo o Banco Central (Bacen).
Os números das fintechs no Brasil ainda são minúsculos frente ao tamanho que o setor tem tomado globalmente. Nos EUA, a estimativa é que existem pelo menos duas mil startups de serviços financeiros divididas entre as costas leste e oeste do país. Segundo a revista "The Economist", globalmente, fundos de investimento aplicaram US$ 15 bilhões em fintechs ao longo de 2015.
Mas o avanço das iniciativas no país tem chamado a atenção dos investidores. Dois terços das empresas já receberam algum aporte de capital, sendo que 38% receberam valores superiores a R$ 1 milhão. A FintechLab estima que, em 2015, foram investidos aproximadamente R$ 200 milhões nas fintechs brasileiras. Para 2016, o montante pode chegar a R$ 450 milhões. O número será impulsionado pela venda do sistema de pagamentos Moip à alemã Wirecard e pelo investimento de R$ 200 milhões recebido pela Nubank em janeiro. Em sua quarta rodada de investimento, a companhia de menos de dois anos foi avaliada em US$ 500 milhões.
"Em qualquer mercado que tenha concentração em poucos bancos, você tem uma oportunidade muito grande. As fintechs têm vantagem de ter estruturas flexíveis, com custo menor e conseguem repassar esse ganho para o usuário", disse David Vélez, fundador da Nubank. Segundo pesquisa da PwC, em um prazo de cinco anos, as fintechs poderão tomar, em média, 23% dos negócios que hoje são feitos por instituições financeiras ao redor do mundo.
Grandes bancos estão de olho. O Itaú montou o Cubo, um prédio em São Paulo com capacidade para abrigar 50 startups. Também investe no Sinergia, um espaço semelhante no Uruguai. O Bradesco, criou o InovaBRA, programa de com atuação em áreas de interesse do banco. O Santander vai trazer ao Brasil o braço de investimentos InnoVentures. A primeira atividade ocorre em 5 de maio, quando serão selecionadas três empresas para receber recursos.

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segunda-feira, 25 de abril de 2016

'Gerenciamento de lucro' aumenta na crise

Investidores e analistas fundamentalistas devem redobrar a atenção dedicada aos balanços das companhias brasileiras já divulgados sobre 2015 e também aos trimestrais que devem sair nos próximos dias e ao longo de 2016.
Embora intuitivamente já se pudesse imaginar isso, um estudo acadêmico publicado neste mês no "Journal of Accounting in Emerging Economies" confirma que, durante os momentos de crise econômica, há uma crescimento estatisticamente significativo do uso de práticas que literatura a chama de "gerenciamento de resultados" por parte das empresas.
Isso significa que aumenta a probabilidade de que gestores dessas companhias tomem decisões discricionárias que melhorem ou piorem os lucros divulgados, como realização de baixas contábeis, constituição ou reversões de provisões, revisão de estimativa de vida útil ativos, adoção de novas práticas contábeis quando a norma permite escolha, e assim por diante.
O gerenciamento de resultado não é tratado como fraude, segundo Eduardo Flores, um dos pesquisadores que assina o artigo. "É o uso de flexibilidade da norma para obtenção de benefício privado em detrimento da qualidade da informação contábil", diz ele.
A literatura, ainda segundo o pesquisador, aponta motivos teóricos e lógicos tanto para se melhorar os números como também para jogá-los para baixo de maneira artificial em época de crise econômica. "Em momentos que se sai de um ciclo próspero, quando as empresas se endividam e os investidores se acostumam com certo patamar de rentabilidade, é tentador para os gestores corporativos quererem 'mexer no balanço' para manter os números dentro do traçado observado nos últimos períodos", Flores, que assina o trabalho pela USP e pela Fecap ao lado de Elionor Weffot, Aldy da Silva, e também do professor Nelson Carvalho, este último atual presidente do conselho de administração da Petrobras e membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).
Na perspectiva contrária, estariam empresas que, nos anos de bonança, deixaram de reconhecer todas as perdas e provisões que deveriam, inflando os resultados, o que é insustentável ao longo do tempo, já que em algum momento há uma convergência necessária entre os resultados pelo regimes de caixa e competência. Neste caso, o gestor aproveitaria a "desculpa da crise" para arrumar a casa.
Para verificar a existência desse fenômeno, os pesquisadores não têm como investigar o caso de cada companhia e nem comprovar que a intenção da direção da empresa era mesmo gerenciar ou não o resultado.
O que se faz então é usar a variação do volume de lançamentos contábeis discricionários sem efeito caixa - que sempre existem na contabilidade por competência, diga-se - como uma aproximação dessa prática de jogar o lucro mais para cá ou mais para lá, a depender da intenção.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a intensidade do gerenciamento de resultado é maior durante os períodos de crise a partir da análise de milhares de balanços trimestrais de empresas dos Estados Unidos, de 1998 a 2010, e do Brasil, entre 1998 e 2009 - antes da mudança completa do padrão contábil para o modelo IFRS.
No Brasil, foram tratados como crise os anos de 1999, 2002 e 2008. Nos EUA, 2001 e 2008.

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quarta-feira, 20 de abril de 2016

BC se ausenta do mercado e dólar tem queda de quase 2%

Depois de uma rodada de intervenção agressiva no câmbio, em que comprou apenas neste mês US$ 32,293 bilhões via contratos de swap cambial reverso (que equivalem a aquisições no mercado futuro), o Banco Central alterou a sua forma de atuação. Após ter ficado fora do mercado ontem, a autoridade monetária anunciou a venda de 20 mil contratos de swap cambial reverso para hoje, que equivalem a uma compra futura de US$ 1 bilhão.
Sem a atuação do BC no mercado, o dólar caiu 1,96% ontem, para R$ 3,5269, acompanhando o movimento no exterior, sustentado pelo alívio da aversão a ativos de risco e recuperação d das commodities. Essa foi a primeira vez, desde o dia 1º, que a autoridade monetária deixou de ofertar contratos de swap cambial reverso.
O BC já reduziu em US$ 27,803 bilhões o estoque de swaps cambiais tradicionais a vencer no curto prazo, por meio das vendas de swaps reversos desde 21 de março. Na prática, os contratos de swap reverso representam a operação inversa dos contratos tradicionais e têm um efeito de anular o estoque desses papéis.
Com isso, a autoridade monetária renovará apenas 17,81% do lote de US$ 10,385 bilhões em contratos de swap cambial tradicional que vence em maio. Além disso, ele zerou os lotes de US$ 10,152 bilhões e US$ 11,057 bilhões que vencem em junho e julho e não precisará fazer os leilões de rolagem nos próximos dois meses, considerando a liquidação dos contratos de swap reverso que foram vendidos até 18 de abril.
A autoridade monetária tem aproveitado a disposição dos investidores em reduzir as posições compradas na moeda americana para acelerar a redução do estoque em contratos de swap cambial tradicional. Incluindo na conta os papéis cujos vencimentos já foram liquidados, o BC já reduziu o estoque nesses instrumentos cambiais de US$ 108,113 bilhões em 1º de março para US$ 76,095 bilhões no dia 18 de abril.
Segundo analistas, o fato de o real não ter descolado de seus pares no exterior teria levado o BC a ficar fora do mercado ontem. Além disso, o especialista em câmbio da corretora Icap, Italo Abucater, chama a atenção para a questão da moeda americana não ter rompido o piso dos R$ 3,50. Embora ressalte que não há piso para o dólar, o BC tem intensificado a atuação no mercado quando a moeda americana cai abaixo desse nível.
Para alguns agentes do mercado, o fato de o BC não ter vendido o lote integral de 80 mil contratos no leilão de segunda-feira e o dólar não ter cedido mostra que o apetite para venda de dólares para prazos maiores pode ter diminuído. Investidores anteciparam a redução das posições compradas em dólar antes da aprovação do impeachment da presidente, Dilma Rousseff, na Câmara no domingo.
O BC deve regular o tamanho do estoque de acordo com a demanda do mercado e, por isso, reduziu a venda inicial de contratos de swap cambial reverso hoje de 80 mil para 20 mil contratos.
O avanço no processo de impeachment da presidente e a expectativa de que uma mudança de governo abriria espaço para a implementação de reformas econômicas e fiscais têm sustentado o desmonte de posições compradas em dólar e sustentado a queda dos juros.
Ontem os investidores ajustaram as posições no mercado de juros após a forte queda verificada na segunda-feira. Com a curva de juros refletindo a probabilidade de corte da taxa Selic de 1,5 ponto neste ano, quedas adicionais das taxas dos contratos futuros de juros de curto prazo dependem de uma definição em relação ao cenário político e sobre qual será a equipe econômica nos próximos meses. O DI para janeiro de 2017 subiu de 13,48% para 13,52%, enquanto o DI para janeiro de 2021 subiu de 12,86% para 12,9%.

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terça-feira, 19 de abril de 2016

Turista estrangeiro sustenta hotéis de luxo no Brasil

A desvalorização do real frente ao dólar, de mais de 40% nos últimos 18 meses, a recessão e a incerteza política estão mudando o perfil de hóspedes de hotéis de luxo no Brasil. Em redes como Emiliano, Fasano, Hyatt, Hilton e Unique, os turistas estrangeiros respondem hoje por mais de 60% das diárias. Há um ano, essa fatia era de 50%, em média.
No Emiliano, marca hoteleira paulistana, os hóspedes brasileiros, que chegaram a ser 65% da ocupação no boom da economia verde-amarela, há cinco anos, perderam presença para os estrangeiros, agora donos de dois terços das reservas.
O sócio da marca, Gustavo Filgueiras, comanda o hotel Emiliano em São Paulo e está preparando a abertura do segundo empreendimento, no Rio. Ele diz que não se arrepende da aposta feita na capital carioca, apesar da crise econômica e dos gastos terem subido de R$ 120 milhões para R$ 140 milhões, exatamente por causa do maior potencial de atrair hóspedes de fora do país nesse destino. "Além de São Paulo, apenas no Rio esse tipo de empreendimento se justifica porque tem a demanda doméstica, mas principalmente um forte apelo entre os turistas estrangeiros", disse o empresário.
Filgueiras diz que a hotelaria de luxo no Brasil não passou incólume pela recessão, que atingiu a economia em 2015 e segue neste ano - a taxa de ocupação recuou 7%, derrubando a receita média do setor em 13,2%, segundo o Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil. Mas é um segmento que pode se aproveitar do câmbio porque pode cotar a diária em dólar. "Por isso, a diária média foi preservada", disse.
O dono do Fasano, Rogerio Fasano, que tem duas unidades - uma em São Paulo e outra no Rio - faz coro. "O fator câmbio favorece a demanda dos estrangeiros", diz. "Em épocas de crise, as marcas consolidadas tendem a sofrer menos", observa. Segundo ele, o fato de a marca operar hotéis pequenos, com 60 a 80 quartos, impede maior oscilação na ocupação, mesmo com menor demanda corporativa local.
Para a diretora geral do Unique, Melissa Fernandes, a estabilização da oferta hoteleira ante o tímido crescimento da demanda na capital paulista e a desvalorização do real frente ao dólar permitiram ao hotel de luxo, localizado próximo ao Parque do Ibirapuera, na zona sul da cidade, um crescimento de 7% em receita média por quarto disponível no ano passado.
A executiva observa que a cidade de São Paulo pode ainda se aproveitar dos Jogos Olímpicos, de 5 a 21 de agosto, no Rio. "Deve haver um escoamento de grupos para São Paulo devido à limitada oferta hoteleira no Rio, menor que a demanda, mesmo com a construção de novos hotéis", diz Melissa.
O diretor geral do Hyatt, Silvio Araújo, afirma que a queda de demanda local corporativa ao longo do ano passado já foi atenuada pelo incremento das reservas por parte de clientes estrangeiros, incluindo o turismo de lazer. "No fim, a diária média cresceu em reais pois a demanda internacional é vendida em dólar", disse o executivo do Hyatt, que está abrindo no Rio o segundo empreendimento de luxo no país, da categoria Grand Hyatt. "Grande parte de nosso resultado em 2016 será baseado no desempenho de agosto e setembro por causa dos Jogos 2016 e dos estrangeiros", disse Araújo.
Além de atrair mais gente - um milhão de turistas, sendo metade disso de estrangeiros -, além de centenas de milhares de atletas, profissionais de mídia, patrocinadores e outros realizadores do evento, os Jogos no Rio já encareceram a tarifa média.
Segundo o Trivago, segunda maior plataforma de viagens do mundo na internet -, a diária média para o período todo de Jogos Olímpicos é de R$ 1.272,00. Para comparar, no Carnaval deste ano, que foi de 6 a 9 de fevereiro, o preço médio das diárias em hotéis no Rio de Janeiro ficou em R$ 718.
Mesmo com os Jogos no Rio e a maior demanda estrangeira, hotéis de luxo no Brasil não descartam as campanhas promocionais para ocupar os empreendimentos, especialmente com pacotes de fim de semana. A meta é atrair as famílias dos hóspedes mais frequentes.
"Conseguimos aumentar a taxa de ocupação com as promoções, mas a briga está grande na tarifa", afirma o presidente e controlador do Maksoud, Henri Maksoud Neto, que em 2015 conseguiu elevar em 19% a receita média graças à maior presença estrangeira.
A taxa de ocupação do Maksoud cresce, em parte, devido a um acordo comercial fechado com o grupo francês Accor - a maior rede de hotéis que atua no Brasil. A Accor colocou o Maksoud em sua plataforma de hotéis que podem receber turistas no Brasil. Este canal de vendas e os hóspedes que reservam quartos pela internet, em diversos sites, elevaram em mais de 15% as reservas de estrangeiros no ano passado no Maksoud.
No Hilton São Paulo, que já tinha mais de 50% dos hóspedes vindos de fora do país, a demanda ficou estagnada desde 2014, disse a diretora de desenvolvimento e negócios, Fernanda Lemos. "Mas temos trabalhado em várias frentes de negócios para evitar retração de demanda", disse ela, referindo-se a incremento de campanhas, ofertas e mesmo renovação de infraestrutura, como no lobby do hotel e nos dois restaurantes do endereço.

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segunda-feira, 18 de abril de 2016

CGI vê oportunidade de expansão no país na microgeração e em solar

O grupo canadense de serviços de tecnologia de informação CGI está de olho em dois movimentos do setor elétrico brasileiro: a expansão do mercado livre e o crescimento da microgeração distribuída a partir de painéis fotovoltaicos instalados em residências. Segundo a empresa, que tem faturamento anual global de US$ 10,3 bilhões de dólares canadenses (cerca de R$ 30,5 bilhões) e encomendas mundiais de 20 bilhões de dólares canadenses (R$ 56 bilhões), os dois movimentos vão exigir investimentos em sistemas de processamentos de dados, uma das principais áreas de atuação da companhia.

O setor elétrico é uma dos principais segmentos atendidos pela CGI no Brasil, onde atua desde 1999. Com a expansão do mercado livre, devido à migração de clientes em busca de preços mais baixos, a CGI vê oportunidade de crescimento da demanda por sistemas de gestão de faturamento e medição de consumo, entre outros.

Com relação à microgeração distribuída, a empresa aposta no aumento da instalação de painéis fotovoltaicos nas residências, o que demandará tecnologias de redes inteligentes, conhecidas como "smart grid", uma das áreas de atuação do grupo. "É uma área de oportunidade para nós, porque é uma competência nossa", explicou Ricardo Saltini, principal executivo da companhia no Brasil.

"O Brasil tem um potencial enorme. É um país com um mercado interno enorme e com capacidade de exportação fenomenal", acrescentou José Carlos Gonçalves, vice-presidente da CGI para Europa do Sul e América do Sul. O executivo esteve no Brasil em março para reuniões internas e de relacionamento com clientes.

Perguntado sobre a crise política e econômica do país, Gonçalves disse que o plano da companhia para o Brasil está mantido. "Não temos medo da situação econômica [brasileira]. Creio que não haja um brasileiro que não esteja preocupado com a situação hoje, mas estamos aqui no longo prazo".

O executivo ressaltou que quatro dos cinco maiores bancos do Brasil utilizam sistema de cobrança e recuperação de crédito desenvolvido pela CGI. Além dos setores financeiro e elétrico, a companhia também tem fornece produtos e serviços para as áreas industrial, petrolífera e de telecomunicação.

No Brasil, a CGI possui 500 funcionários em dois escritórios. Em nível global, o grupo, que adquiriu a britânica Logica em 2012, tem 65 mil funcionários distribuídos por 400 escritórios, em 40 países.


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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Juro é posição favorita para ganhar com impeachment

Se os movimentos do câmbio e da bolsa, caso aprovado o impeachment da presidente Dilma Rousseff, são um mistério para os gestores de fundos, a convicção cresce sobremaneira quando o assunto é juro. A expectativa de que a credibilidade de um novo governo, somada a uma inflação em queda, vai criar uma janela para o corte na taxa Selic ainda não refletida nos preços é hoje a tese mais forte nos multimercados, próxima da unanimidade.

A tese do juro em queda toma aos poucos o lugar da convicção soberana até então: de valorização do dólar ante o real. Os principais gestores de multimercados reduziram a posição na moeda americana desde o começo do ano. Há um entendimento de que a troca de governo deveria favorecer a valorização do real, mas raros se sentiram confortáveis para montar a estratégia, que aparece muito pequena em poucas carteiras, dadas as intervenções do Banco Central no mercado de câmbio e o entendimento de que a economia americana segue forte.

Enquanto a história do dólar perdia espaço, gestoras como Verde Asset, SPX, Ibiuna, Kapitalo, Bozano, Flag e Opportunity aumentavam as posições em juros prefixados e indexados à inflação, segundo o Valor apurou. E assim essa virou a principal posição de vários desses fundos.

"Achamos que o melhor ajuste para se estar alocado no Brasil hoje é em juro", diz Bruno Bak, gestor responsável pelos fundos multimercados da gestora do Opportunity, que somam R$ 5,3 bilhões. "O fundamento aponta para um ciclo de corte que pode ser significativamente mais profundo do que o mercado precifica", afirma Virgilio Castro Cunha, um dos sócios responsáveis pelos fundos macro da Bozano Investimentos. "O ganho de credibilidade deve ser quase instantâneo e o câmbio em patamar mais baixo aponta para a queda da Selic", diz Sérgio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do Banco Central, atual gestor da Flag Asset Management.

As duas mais renomadas gestoras de multimercados, Verde e SPX, com R$ 35,8 bilhões sob gestão, estão na mesma toada. Em conversas com alocadores, segundo fontes, a equipe da SPX, com R$ 8,5 bilhões em multimercados, tem repetido que o juro agora é o ativo mais óbvio. O entendimento é que a inflação tem dado sinais inequívocos de desaceleração, com um alívio vindo do câmbio e preços administrados já ajustados - com exceção da gasolina, que joga a favor da tese de menor nível de preços. A casa zerou neste ano a posição em dólar em relação ao real, mantendo 15% do fundo na moeda americana contra uma cesta de outras divisas.

E a Verde Asset trocou parte das posições em dólar neste começo do ano por NTN-Bs, títulos que pagam uma taxa prefixada mais a variação da inflação e ganham valor quando as expectativas para os juros se ajustam para baixo. A tese é que, com a ajuda do real mais fraco, o Banco Central teria um cenário mais favorável para cortar juro.

A questão em que não há consenso entre os gestores, por outro lado, é como se posicionar para ganhar com a queda dos juros. Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, tem defendido há meses uma alocação em NTN-Bs. Já a SPX, pelo entendimento de que a inflação vai ceder, montou uma posição prefixada, em que se posiciona em uma taxa nominal.

Para se ter uma ideia, a decisão dos gestores seria equivalente à da pessoa física que poderia escolher ontem no Tesouro Direto, sistema de venda on-line de títulos, entre comprar uma LTN com vencimento em 2019 e travar a taxa prefixada de 13,1% ao ano ou escolher uma NTN-B de mesmo prazo, que paga 6,26% mais a variação da inflação no período. De forma simplificada, se a inflação for menor do que diferença entre os dois prêmios, 6,84%, o maior retorno é de quem se posicionou no prefixado. Do contrário, melhor seria ter optado pelo papel indexado.

Historicamente, quando se passa por um cenário de descompressão rápida de prêmios de risco com a atividade muito fraca, a inflação cede rapidamente, defende Cunha, da Bozano, que, por isso, prefere ficar prefixado. Ele tem alternado a posição entre os vencimentos de 2019 e 2021.

Bak, do Opportunity, tem as duas posições, mas a maior é na NTN-B para 2050, que, para ele, pode ganhar bastante valor no caso de um impeachment. "A questão fiscal é muito ruim e nós não somos muito otimistas, mas, se o governo for na direção certa de endereçar essa questão, o prêmio de risco pode fechar muito", afirma.

Enquanto têm as principais apostas no mercado de juros, muitos multimercados com estratégia macro têm optado por montar estruturas com opções em câmbio e principalmente em bolsa, segundo David Kim, que seleciona fundos para compor o portfólio de investidores na gestora de patrimônio More Invest. Nesses casos a perda é limitada, diz, mas o ganho pode ser significativo para o caso de os ativos engatarem um novo rali. E nenhum gestor quer correr grandes riscos neste momento.

Os gestores têm sido cautelosos mesmo para montar grandes posições em juros, que podem ser reforçadas à medida que crescer a possibilidade de troca do governo. Para Cunha, da Bozano, caso haja o impeachment, o investidor internacional vai engrossar o coro dos gestores locais, em um forte fluxo para a renda fixa brasileira.

Para Guilherme Ferraioli, que monta portfólios para clientes de alto patrimônio na Consenso Investimentos, o investidor deve ficar atento à oportunidade. "Uma das grande fontes de retorno historicamente dos fundos multimercados macro brasileiros é a posição aplicada em juros", afirma. O caso mais recente foi em 2012, quando o BC promoveu cortes sucessivos na Selic, até levá-la a um dígito. Naquele ano, os multimercados macro renderam em média 18,14%, bem acima dos 8,40% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referencial para aplicações conservadoras.

Leia mais em:  http://www.valor.com.br/financas/4524571/juro-e-posicao-favorita-para-ganhar-com-impeachment

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Empresas reforçam venda de dólares


Após fundos de investimento iniciarem em março o desmonte de posições compradas em dólar no mercado doméstico (apostando na queda), diante da perspectiva de mudança de governo, agora já se começa a ver empresas reduzindo as suas alocações na moeda americana. Só na terça-feira, as companhias não financeiras venderam o equivalente a US$ 2,61 bilhões em derivativos cambiais negociados na BM&F, o que foi determinante para que o dólar fechasse em baixa mesmo depois da intervenção recorde do Banco Central, que vendeu US$ 8 bilhões em contratos de swap cambial reverso, que equivalem a uma compra da moeda americana no mercado futuro, em um único dia.
Segundo profissionais, esse movimento prosseguiu ontem, o que contribuiu para o dólar encerrar em queda de 0,40% a R$ 3,4757 e renovar a mínima do ano, apesar do aumento das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio.
A autoridade monetária voltou a atuar de forma agressiva no mercado, vendendo 105 mil contratos de swap cambial reverso, o equivalente a uma compra futura de dólar, de US$ 5,250 bilhões, de um total de 180 papéis ofertados por meio da realização de cinco leilões.
Com isso, o BC reduziu em US$ 15,650 bilhões o estoque em contratos de swap cambial tradicional, que foram ofertados para dar proteção aos agentes do mercado - o saldo caiu para US$ 86,4 bilhões. A autoridade monetária tem aproveitado a menor demanda pela moeda americana para acelerar o desmonte do estoque desses derivativos cambiais.
As empresas têm diminuído a demanda por hedge diante da forte queda do dólar em relação ao real, sustentada pelo aumento das chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A percepção é que isso abriria espaço para a adoção de políticas econômicas mais austeras, e também pela melhora da aversão a risco no exterior. Além disso, algumas companhias têm optado por pagar parte das dívidas externas que estão vencendo. Em janeiro, a taxa de rolagem das dívidas externas de empresas brasileiras foi de 17%, e ficou em 55% em fevereiro.
Em abril até dia 12, o dólar acumulava baixa de 3,02%. Nesse mesmo período, as empresas não financeiras, reduziram o equivalente a US$ 5,14 bilhões em posições compradas em dólar na BM&F, considerando as aplicações em contratos futuros e cupom cambial (que representa os juros em dólar). Desde o começo do ano, as vendas somam US$ 5,80 bilhões. Ou seja, praticamente todo o desmonte começou agora em abril. Trata-se de uma queda de 81% das posições compradas em dólar neste mês, que passaram de US$ 6,361 bilhões em 30 de março para US$ 1, 225 bilhão em 12 de abril.
Em abril, as empresas venderam mais dólares do que investidores institucionais (fundos de investimento, por exemplo), que no período se desfizeram de US$ 4,52 bilhões e mantinham, no dia 12, uma posição líquida comprada em dólar de US$ 19,370 bilhões na BM&F.
No ano, contudo, os fundos ainda lideram a ponta vendedora de dólar, reduzindo sua posição comprada na moeda americana em US$ 11,63 bilhões. Isso mostra que essa categoria de investidores começou esse movimento mais cedo.
Vale lembrar que a maior parte das posições de hedge cambial das empresas é realizada via contratos a termo de moedas na Cetip.
Segundo um gestor, o ajuste "tardio" das empresas é justificável, já que decisões sobre alterações estruturais de posições de "hedge" por parte das companhias costumam demandar mais tempo, envolvendo diversas esferas.
De acordo com o profissional de tesouraria de um banco estrangeiro, "faz muito sentido" rumores que circulam no mercado sobre empresas específicas que operam nos mercados de derivativos, tanto de câmbio quanto de juros. "É difícil acreditar que o mercado queira vender US$ 8 bilhões para o BC em um dia sem pensar que isso é uma demanda específica, de um ou mais 'players'", diz esse profissional.
Segundo Sérgio Machado, chefe de vendas da mesa de renda fixa do BNP Paribas no Brasil, algumas empresas nacionais podem estar deixando de renovar algumas posições de hedge cambial que estão vencendo, diante da incerteza no cenário político local. "As empresas podem estar esperando um momento melhor para rolar essas posições de hedge."
Já em relação às multinacionais, Machado lembra que as companhias têm uma política de hedge definida pela matriz e não têm reduzido suas posições por conta da mudança no cenário político.
Outro fator que reflete na menor demanda por proteção é o fato dos importadores terem reduzido o hedge cambial, depois de aproveitar a queda de 10% do dólar em março para travar os custos. "Em março, chegamos a ver um movimento de compra de dólar por parte de importadores quando a moeda caiu abaixo de R$ 4 e nesta semana esse movimentou diminuiu", diz Fernando Pierri, superintendente executivo de tesouraria do Santander.
Em março, as operações de compra de dólar via contratos a termo por parte de empresas registradas na Cetip somaram US$ 17, 8 bilhões, acima dos US$ 16,196 bilhões de fevereiro, mas mostram queda de 20,22% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo o sócio-diretor da Capitânia, que presta serviços de consultoria financeira para empresas, Rodrigo Zuniga, algumas companhias que não tinham hedge têm optado por fazê-lo por meio de opções de compra de dólar, em que a empresa paga um "prêmio" para comprar a moeda americana em determinada data de exercício e, se o dólar, cai, não precisa exercer a posição. "As empresas pagam uma taxa por esse seguro para proteger os passivos em dólar e ao mesmo tempo limitar as perdas", diz.
O dólar abaixo de R$ 3,50 já começa a incomodar os exportadores, sobretudo os de papel e celulose. Segundo o executivo de uma grande empresa do setor de agronegócios, os embarques de carnes ainda estão com margens positivas, mas a preocupação no segmento é crescente, principalmente em virtude do risco de o dólar cair mais se o impeachment de Dilma for aprovado pelo Congresso. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)

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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Brasil terá déficits primários até 2019, prevê FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o Brasil terá déficits primários até 2019, projetando uma alta ininterrupta da dívida bruta até 2021, quando o indicador deverá atingir quase 92% do Produto Interno Bruto (PIB). As previsões mostram um quadro complicado para as contas públicas brasileiras nos próximos anos, com níveis de endividamento e de déficit nominal (que inclui gastos com juros) muito elevados. Pelo critério do Fundo, que inclui os títulos do Tesouro na carteira do Banco Central (BC), a dívida bruta brasileira fechou 2015 em 73,7% do PIB, muito acima dos 45,4% do PIB da média dos países emergentes.
No relatório Monitor Fiscal, o Fundo destaca o forte aumento do déficit nominal nos últimos anos, que saltou de 3% do PIB em 2013 para 10,3% do PIB em 2015. Essa piora se deveu à queda na receita, a um aumento forte dos gastos com juros e a uma “limpeza” de questões em “atraso” - uma provável referência à quitação das chamadas “pedaladas fiscais” realizada em dezembro, quando o Tesouro pagou R$ 55,6 bilhões que devia aos bancos públicos. Tudo isso ocorreu num cenário de aprofundamento da recessão e turbulência política, de acordo com o FMI. Para comparar, o déficit nominal médio dos emergentes foi de 4,5% do PIB em 2015.
Nesse cenário difícil, o país teve um déficit primário (que não inclui gastos com juros) de 1,9% do PIB em 2015, e o Fundo espera um número não muito diferente para 2016, projetando um rombo de 1,7% do PIB. No fim de março, o governo deixou claro que abriu mão da meta de superávit primário de 0,5% do PIB neste ano e indicou que, com os abatimentos, pode haver um déficit de 1,6% do PIB.
No documento divulgado nesta quarta-feira, o FMI diz que o governo brasileiro revisou os seus “objetivos iniciais para o orçamento para refletir receitas mais fracas, investimento mais elevado e custos crescentes com saúde”. O Fundo afirma ainda que, para ancorar perspectivas fiscais de médio prazo, as autoridades planejam introduzir um teto plurianual para o crescimento dos gastos, e têm discutido a necessidade de reforma da Previdência. O relatório nota, contudo, que o Brasil é um dos países em que o impasse político pode complicar a implementação de medidas ou desencorajar a adoção de políticas mais amplas.
Nas projeções do Fundo, o Brasil terá déficits primários cada vez menores até 2019, quando o rombo será de 0,3% do PIB. Apenas em 2020 o resultado será positivo, com um superávit primário estimado de 0,9% do PIB. Com perspectivas pouco animadoras para a economia e a expectativa de que o país não conseguirá economizar para pagar juros da dívida, o FMI vê o endividamento bruto saltando para 76,3% do PIB neste ano, 80,5% do PIB no ano que vem e atingindo 91,7% do PIB em 2021, a projeção mais distante apresentada no Monitor Fiscal. Pelo critério brasileiro, que exclui os títulos do Tesouro na carteira do BC, a dívida bruta em 2015 ficou em 66,2% do PIB, ainda assim muito mais elevada que a dos países emergentes.
Na visão do FMI, o déficit nominal do Brasil deve continuar elevado neste ano e também nos próximos, atingindo 8,7% do PIB em 2016, 8,5% do PIB em 2017 e 8,1% do PIB em 2018.
No Relatório sobre Estabilidade Financeira Global, também divulgado nesta quarta-feira, o FMI diz que a restauração da sustentabilidade fiscal no Brasil requer uma estratégia de ajuste das contas públicas que enfrente as fontes estruturais de pressão de gastos. “Embora esforços de consolidação fiscal possam gerar alguns ventos contrários de curto prazo, eles são necessários para uma virada na confiança e para um retorno do crescimento.”

Leia mais em: http://www.valor.com.br/brasil/4522435/brasil-tera-deficits-primarios-ate-2019-preve-fmi

terça-feira, 12 de abril de 2016

Ativos antecipam impeachment

Com a evolução do jogo político, os investidores já anteciparam grande parte do cenário de impeachment da presidente Dilma Rousseff. E alguns ativos já são negociados a preços muito próximos dos que analistas preveem como os mais adequados em uma situação de mudança de governo. É o caso do dólar, que terminou a segunda-feira abaixo de R$ 3,50, dentro do intervalo projetado por analistas ouvidos pelo Valor para o nível do câmbio numa hipótese de o afastamento da presidente ser confirmado, que vai de R$ 3,20 a R$ 3,50.
O Ibovespa e os juros futuros ainda têm, segundo as previsões, espaço para melhora. A expectativa dos entrevistados é que, caso o impeachment se confirme, a bolsa suba dos atuais 50.165 pontos para um intervalo entre 52 mil e 60 mil pontos. Para o DI de janeiro de 2021, a previsão é de taxa entre 12% e 13,25%, dos 13,65% atuais.
O que a sondagem demonstra, porém, é que o potencial de deterioração é muito mais elevado caso Dilma saia vitoriosa da votação. Nessa hipótese, os ativos voltariam às mínimas observadas este ano - ou até abaixo delas. Para o Ibovespa, as projeções vão de 35 mil a 46 mil. Já o dólar poderia subir para uma faixa entre R$ 3,90 e R$ 4,50. E o DI de janeiro de 2021, poderia alcançar taxa entre 14,70% e 16%.
As estimativas consideram o nível que os ativos podem atingir no curto prazo nos dois cenários. E têm como premissa que a permanência da presidente Dilma no Planalto impossibilitará reformas urgentes. Por outro lado, que um novo governo - provavelmente comandado pelo vice Michel Temer - tenha um discurso de compromisso fiscal e melhores condições de negociação com o Congresso."O mercado embute uma aposta em ganho de governabilidade", explica Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
A sondagem feita pelo Valor inclui pesquisa da XP Investimentos com participantes do mercado, realizada entre 30 de março e 4 de abril. Aponta que 95% dos participantes veem o dólar abaixo de R$ 3,60 com o evento, sendo que 48% acreditam que a moeda americana cairá para o nível entre R$ 3,20 e 3,40 com a mudança de governo. Para o Ibovespa, a maioria (53%) acredita que o índice deve ficar entre 55 mil e 60 mil pontos, sendo que para 25% dos entrevistados o Ibovespa poderia superar os 60 mil pontos. Para o DI janeiro/2021, 47% veem espaço para uma queda da taxa para 12,50%. Para 28%, esse recuo poderia ser até maior, a 12%.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/financas/4519800/ativos-antecipam-impeachment

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Mercado reduz previsão de inflação em 2016, mas vê recuo maior do PIB


As expectativas dos economistas para a inflação continuaram a melhorar e agora o mercado vê a taxa do próximo ano abaixo do teto estipulado para o período. Enquanto isso, as previsões para a atividade econômica foram no sentido contrário e continuaram a piorar, de acordo com o boletim Focus, divulgado hoje pelo Banco Central (BC).
A mediana das previsões para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano caiu pela quinta semana consecutiva, de 7,28% para 7,14%. E a mediana para 2017 recuou para 5,95% após oito semanas estacionada em 6%. Assim, pela primeira vez em dois meses, os economistas acreditam que a inflação do ano que vem ficará abaixo do teto da meta estipulada para o período, de 6%. A meta para 2016 é de 6,5%.
No Focus, a estimativa para a inflação em 12 meses também abrandou, de 6,48% para 6,43%. Entre os analistas Top 5, os que mais acertam as previsões, a mediana para o avanço do IPCA deste ano saiu de 7,18% para 7,06%, mas a de 2017 seguiu em 6,20%.
Na sexta-feira passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA de março subiu 0,43%, menos que o 0,45% esperado. Em 12 meses, marcou alta de 9,39%, menor taxa desde junho de 2015. A inflação de serviços, mais resistente, ficou em torno de 7,70% no período, excluídas as passagens aéreas, item retirado do cálculo por ser muito volátil. Para economistas consultados pelo Valor, enfim, há sinais de que a forte queda da demanda doméstica está chegando aos preços.
Enquanto isso, as expectativas para a atividade continuam a se deteriorar. No Focus, a mediana das estimativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) foi de retração 3,73% para queda de 3,77%, a 12ª revisão consecutiva. Para 2017, a estimativa permanece sendo de crescimento de apenas 0,30%.
Juros
A queda na expectativa de inflação para 2017 foi acompanhada de um recuo na aposta para os juros no período.
O Focus mostra que os economistas esperam um recuo dos atuais 14,25% para 13,75% na taxa Selic até o fim deste ano, igual à estimativa contemplada anteriormente. Os analistas consultados pelo BC esperam que a autoridade monetária inicie o processo de redução em outubro e não mais em dezembro deste ano.
A Selic continuaria a recuar até chegar a 12,25% no fim de 2017, ante 12,50% previstos no documento passado.

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sexta-feira, 8 de abril de 2016

Panamá é buraco negro financeiro, diz especialista

O Panamá é um dos últimos "buracos negros" das finanças internacionais e vai sofrer crescente pressão para acabar com a opacidade das operações bancárias em seu mercado, que outros paraísos fiscais já tiveram que abandonar.
É o que sinaliza o diretor de tributação da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Pascal Saint-Amans, em entrevista ao Valor. Ele não se mostrou surpreso com a dimensão do Panamá Papers, revelado pelo vazamento de 11,5 milhões de e-mails, contratos e extratos de contas bancárias do escritório de advocacia Mossack Fonseca.
Para Saint-Amans, o segredo bancário para encobrir evasão fiscal está em regressão no mundo e o que resta acabou se concentrando no Panamá nos últimos tempos, pela recusa desse país em aplicar os padrões internacionais de transparência fiscal.
Em outros paraísos fiscais, a maioria dos clientes do setor financeiro offshore (fortunas geridas fora do país de origem) aceitou regularizar sua situação com o fisco. Quem não o fez escondeu a fortuna com ajuda do Panamá.
Para ele, o sigilo financeiro a clientes que buscam esconder ativos é mantido em boa parte pela forte pressão das firmas de advocacia sobre o governo do Panamá.
O economista Gabriel Zucman, professor na Universidade da Califórnia e autor do livro "The Hidden Wealth of Nations" (a riqueza oculta das nações), que trata das atividades financeiras em paraísos fiscais, calcula que 8% da fortuna financeira global de pessoas físicas estão em paraísos fiscais.
Isso representa US$ 7,6 trilhões, depositados em centros offshore, sendo um terço na Suíça, mas também em Hong Kong, Cingapura, Luxemburgo e outros lugares.
Certos economistas calculam que os governos perdem US$ 200 bilhões por ano em receita fiscal com a evasão de dinheiro que vai para os centros offshore.
Saint-Amans reconhece que há muita batalha pela frente. Ele exemplifica que somente as Ilhas Virgens Britânicas têm registradas 850 mil empresas de fachada, criadas para clientes por bancos e escritórios de advocacia com o objetivo de dissimular o real beneficiário dos ativos. No Panamá, a estimativa é que existem 100 mil dessas empresas da fachada.
O que difere no caso do Panamá é que se trata do último centro financeiro de certa importância que ainda utiliza ações ao portador, consideradas a última capa de opacidade que, com os trustes, só existem nesse país e na Suíça. Só que a Suíça também tende a desmontá-la, enquanto o governo panamenho ignora as regras globais que vão entrar em vigor em 2017.
A manutenção de uma total opacidade e recusa de cooperar só se compara com Líbano, Bahrein e Vanuatu, que porém são centros financeiros menos importantes.
Saint-Amans nota que esses paraísos fiscais escondem não só o dinheiro da evasão fiscal, como servem também para lavagem de dinheiro da corrupção, de cartéis da droga, de grupos terroristas etc.
Há dois meses, o Panamá foi removido da "watch list" do Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), entidade que estabelece padrões para combater a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo. Para isso, contou com a ajuda essencial da França. Agora, o governo francês foi o primeiro a pedir para o Panamá voltar a ser incluído na lista de paraísos fiscais que precisam ser desmantelados.
Saint-Amans diz que, se não apareceram muitos americanos na lista da Mossack Fonseca, é porque o Panamá tem um acordo com Washington e é obrigado a dar todas as informações ao fisco.
Além disso, a OCDE comemora a decisão recente do governo de Barack Obama de desmontar até o fim deste ano a estrutura de "single member LLC (Limited Liability Company)", empresa de responsabilidade limitada detida por uma só pessoa, normalmente estrangeiros. Estados americanos considerados como paraíso fiscal, como Delaware, Wyoming e Nevada, podem hoje dissimular a identidade do beneficiário real desde que ele não tenham atividade nos EUA.
Segundo Saint-Amans, 96 países já aceitaram adotar a partir de 2017-18 a troca automática de informações. Por esse padrão, os governos obterão dados de suas instituições financeiras e os trocarão com outros países, para frear a evasão fiscal e ajudar a identificar quem esconde dinheiro em paraísos fiscais. Ou seja, o Panamá não vai resistir muito tempo.

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quinta-feira, 7 de abril de 2016

FMI tende a revisar PIB brasileiro para baixo

O Brasil deverá sofrer nova redução nas projeções para a sua economia pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e a expectativa é de que isso ocorra às vésperas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
As novas projeções serão divulgadas no início da semana que vem, e o impeachment deverá ser votado pela Câmara dos Deputados no fim da semana.
A expectativa é que elas indiquem uma queda no PIB em torno de 4% em 2016. Alguns especialistas apostam que o FMI poderia rebaixar a estimativa para 3,8% negativos, mas gestores de bancos de investimento e analistas acham que pode surgir um número ainda pior.
A perspectiva anterior do Fundo, divulgada em janeiro, indicou forte redução, de 3,5%. Dilma disse ter ficado estarrecida com trechos daquele relatório, que apontou não apenas fatores externos - caso da desaceleração da atividade econômica na China e da queda no preço das commodities - como provocadores de dificuldades para países emergentes como o Brasil. O FMI apontou a incerteza política vivida no país e o prolongamento das investigações na Petrobras como motivos para a recessão.
Esses fatores internos que dificultam o desenvolvimento da economia nacional se intensificaram, nos últimos meses, com novas revelações nas investigações da Operação Lava-Jato e o aumento da crise política que levou à retomada do processo de impeachment.
O Brasil ainda será avaliado num relatório específico, que deve ser divulgado em breve. Trata-se do comunicado sobre o artigo IV do país - uma avaliação que o Fundo faz sobre os países membros. A última avaliação foi em 10 de abril de 2015 e a nova está prestes a ser publicada.
Os fluxos de capital para as economias emergentes seguem contidos e em desaceleração, de acordo com os dados obtidos no quarto trimestre de 2015, após cinco anos de queda sustentada. De acordo com o capítulo 2 do relatório "Panorama Econômico Mundial", do FMI, as menores entradas brutas de capital e as maiores saídas em relação ao PIB dos emergentes contribuem para a desaceleração nesse grupo de países, de que o Brasil faz parte, entre de 2010 a 2015.
A principal explicação é a deterioração das perspectivas de crescimento nas economias emergentes. Essa situação traz preocupações por duas razões, segundo o FMI. A primeira é que os fluxos de capital poderiam ajudar os investimentos e o crescimento das economias. A segunda é que os períodos de quedas prolongadas, nos ciclos de fluxos nas décadas de 1980 e de 1990, estiveram vinculados a um elevado número de crises de dívidas.
Por causa dessa segunda preocupação, o FMI fez uma análise para compreender os fatores que determinaram a desaceleração dos fluxos de capitais desde 2010, de maneira a verificar as diferenças com o período em que houve crises de dívida nas décadas anteriores.
O relatório diz que boa parte da desaceleração pode ser atribuída à contração do diferencial de crescimento entre as economias emergentes e as avançadas. Os efeitos macroeconômicos menos adversos na situação atual podem ser atribuídos aos reforços na melhoria da estrutura de políticas desses países, como mais reservas cambiais, menos dívida em moeda estrangeira e maior flexibilidade na taxa de câmbio.
Segundo o FMI, os países que apresentam maior flexibilidade cambial conseguiram se proteger no atual ciclo de fluxos de capitais do que em outros períodos de desaceleração. O Fundo enumera as crises em cada país de acordo com os anos em que ocorreram. O Brasil aparece em gráficos de 1983, 1999 e 2001.
O relatório diz que a depreciação do câmbio, se ordenada, pode amortecer de forma mais eficaz o impacto no consumo e no emprego, o que reduz as desacelerações do crescimento e os riscos de crise da dívida. E sugere a adoção de políticas fiscais que ajudem a reduzir a dívida pública, bem como políticas macroprudenciais, flexibilidade na taxa de câmbio e gestão prudente das reservas.
A instituição conclui que a desaceleração atual afeta de maneira menos drástica os emergentes do que o observado nas últimas décadas do século 20, mas adverte que esses países devem fortalecer as suas políticas para atrair mais capitais, o que auxiliaria o crescimento.

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quarta-feira, 6 de abril de 2016

A difícil tarefa de fiscalizar os paraísos fiscais

Os esforços internacionais para reprimir a evasão de impostos e a lavagem de dinheiro têm se tornado uma tarefa parecida com a de enxugar gelo, à medida que os usuários de estruturas offshore secretas passam dos tradicionais paraísos fiscais para lugares mais exóticos.
O chamado "Panama Papers", escândalo revelado esta semana pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês) e outros grupos de mídia, mostra como alguns clientes do escritório de advocacia Mossack Fonseca & Co., com sede na Cidade do Panamá, supostamente foram capazes de lavar dinheiro, driblar sanções e evitar o pagamento de impostos.
O surgimento do escândalo fiscal no Panamá "não é uma surpresa", diz Pascal Saint-Amans, diretor da área fiscal da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade internacional que tem ajudado a coordenar a luta global contra a evasão fiscal.
"Nós vemos um progresso muito significativo em direção à transparência por parte de todos os paraísos fiscais [...] exceto do Panamá e de Vanuatu," diz ele.
A firma Mossack Fonseca afirmou esta semana que suas operações eram "irrepreensíveis" e que nunca foi acusada de nenhuma prática ilegal.
Governos em todo o mundo desenvolvido aceleraram sua ofensiva contra a evasão fiscal na esteira da crise financeira na década passada e da grande recessão, motivados pela necessidade de fechar brechas orçamentárias e responder a sérios escândalos envolvendo o vazamento de documentos.
Outros vazamentos recentes envolveram a unidade suíça de private banking do banco HSBC Holdings PLC, que supostamente prestou serviços para sonegadores de impostos, e um punhado de documentos que revelaram como Luxemburgo ajudou empresas multinacionais a reduzir suas despesas com impostos.
A repressão constante incentivou as pessoas a buscar alternativas aos paraísos fiscais "ainda mais distantes e mais exóticas", diz Marc Sanders, um dos diretores da consultoria fiscal internacional Taxand.
Suíça, Luxemburgo e outras jurisdições têm enfrentado contínua pressão resultante de uma avalanche de nova legislação surgida no pós-crise dos dois lados do Atlântico. O governo dos Estados Unidos liderou o ataque em 2010, com a aprovação do Ato de Conformidade Fiscal de Contas Estrangeiras (Fatca, na sigla em inglês), que exige que instituições financeiras estrangeiras comuniquem a identidade de seus clientes americanos e todos os ativos que possuem.
Isso levou a uma série de acordos entre as autoridades americanas e os bancos suíços.
A União Europeia rapidamente seguiu o exemplo, sendo bem-sucedida em pressionar países, incluindo Suíça e Luxemburgo, a compartilhar informações sobre as contas mantidas pelos seus cidadãos no exterior. Em meados do ano passado, a UE apresentou uma lista de 30 jurisdições fiscais que "vergonhosamente" não estavam cooperando com os esforços, elaborada com base em dados de países individuais do bloco.
"Mesmo jurisdições britânicas estão sob pressão", diz Ronen Palan, professor da City University of London que já escreveu vários livros sobre paraísos fiscais. Ele citou as Ilhas do Canal, arquipélogo no canal da Mancha, na costa francesa, que incluem as jurisdições de Jersey e Guernsey.
Comparativamente, "o Panamá é independente e não está tentando concorrer com os outros" na tarefa de supostamente agir como esperado pelas autoridades, diz Palan.
Saint-Amans diz que o Panamá, que não é membro da OCDE, tem sido lento em pôr em ação iniciativas recentes, inclusive a troca de informações bancárias entre autoridades de forma automática ou atendendo a pedidos, além de uma convenção de assistência multilateral em questões fiscais.
"Eles decidiram, de uma forma ou de outra, continuar a ser uma jurisdição bem secreta", diz Saint-Amans.
Autoridades do governo panamenho não foram localizadas imediatamente para comentar.
Em um longo comunicado publicado on-line, o escritório Mossack Fonseca citou que a Força Tarefa de Ação Financeira (FATF, da sigla em inglês) - órgão intergovernamental criado em 1989 para ajudar a combater a prática de lavagem de dinheiro - removeu em fevereiro o Panamá da sua lista de jurisdições que não estavam colaborando.
Na época, a FATF elogiou o Panamá por ter feito um "progresso significativo" em resolver deficiências estratégicas no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Um porta-voz da FATF não pôde ser localizado imediatamente para comentar.
Ontem, porém, depois das notícias divulgadas esta semana, as autoridades fiscais francesas voltaram a incluir o Panamá na sua lista de países que não estão cooperando.
Outras jurisdições podem se beneficiar da repressão aos tradicionais paraísos fiscais do Ocidente.
Palan afirma estar vendo "sinais de movimento em direção à Ásia" em dados globais de poupança e contas bancárias publicados pelo Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais. "A migração é claramente para Cingapura, Dubai e Hong Kong", diz.
Ainda assim, os esforços globais para combater a evasão fiscal incentivaram mais de 500 mil pessoas a revelar suas contas no exterior nos últimos anos e arrecadaram 50 bilhões de euros (US$ 57 bilhões) adicionais em impostos, estima Saint-Amans.
E a pressão não está diminuindo. Em novembro, os líderes das 20 maiores economias do mundo se comprometeram a rever as regras para combater a evasão fiscal. Os governos da Holanda e do Reino Unido têm sinalizado que vão introduzir registros públicos mostrando quem são os donos efetivos de empresas. E a UE tem como meta elaborar sua própria "lista negra" de paraísos fiscais que não estão cooperando.
Mas a assinatura de acordos ainda não significa que pode ser declarada vitória sobre os paraísos fiscais, dizem especialistas.
"As zonas livres de impostos existiam até na Roma Antiga", diz Sanders. "Provavelmente, sempre haverá países que vão querer cooperar com esses tipos de estruturas."

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terça-feira, 5 de abril de 2016

Anistia mobiliza bancos e investidor

Quem tem dinheiro não declarado no exterior, desde que de origem lícita, tem até 31 de outubro para regularizar esses recursos e até trazê-los para o Brasil. Contados a partir de ontem, bancos e advogados terão 210 dias para convencer os clientes a aderir ao programa, que é visto como uma oportunidade única. O grande argumento é que regras globais de troca de informações financeiras vão aumentar a dificuldade em manter dinheiro sonegado fora do país nos próximos anos.
Um dos primeiros textos do projeto de lei estimava os ativos brasileiros não declarados no exterior em US$ 400 bilhões e a arrecadação entre R$ 100 e R$ 150 bilhões. Mas instituições financeiras ouvidas pelo Valor apostam que a quantia pode ser até maior.
A expectativa é que esse dinheiro movimente as áreas de "private banking" dos grandes bancos e as gestoras especializadas em alta renda. Parte dos recursos deve ser usada por empresários que veem seus negócios em dificuldade, com acesso escasso ao crédito. Outra destinação pode ser a compra de imóveis no país, uma vez que o setor passa por um período de baixa. Segundo executivo de uma instituição financeira, o dinheiro no exterior faz às vezes de um "bilhete premiado esquecido na gaveta", em um momento em que empresas e investidores se veem em busca de liquidez.
O primeiro passo é preencher a Declaração de Regularização Cambial e Tributária (Dercat), disponível desde ontem no site da Receita Federal. Não é preciso enviar documentos que comprovem o caminho do dinheiro, mas sim descrever o que será declarado e sua origem. É necessário, porém, pagar os 30% devidos ao Leão, somados o imposto e a multa. Ontem, a Receita Federal esclareceu que é possível usar o próprio patrimônio fora para arcar com esse custo.
Ainda restam questões sobre o programa. Uma delas é como proceder se o saldo no exterior já tiver sido maior antes de 31 de dezembro 2014, data usada para cálculo do imposto, devido a saques.
Os grandes bancos montaram estruturas especiais para tratar do tema. O Itaú Unibanco e o Bradesco criaram time com especialistas em repatriação de diversas áreas do banco, incluindo jurídico e compliance. A ideia é orientar os interessados em trazer o dinheiro ao Brasil ou em transferi-lo a uma unidade do banco no exterior. "Estamos incentivando os clientes a participar, desde que o dinheiro seja lícito", diz João Albino, diretor de "private banking" do Bradesco.

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segunda-feira, 4 de abril de 2016

CTG busca mais aquisições no país

Maior geradora de energia hídrica do mundo, com cerca de 60 mil megawatts (MW) instalados em operação - o equivalente a quase metade de todo o sistema elétrico do Brasil -, 30 mil MW em construção, e faturamento da ordem de US$ 10,2 bilhões (cerca de R$ 36 bilhões), a China Three Gorges (CTG) tem planos de ampliar sua participação no mercado brasileiro. Aqui, em apenas dois anos, tornou-se a segunda maior geradora privada do país, com 6 mil MW, atrás da Tractebel (7 mil MW). A estratégia é crescer via fusões e aquisições - principal caminho adotado até o momento - ou mesmo com projetos de energia nova.
"Continuamos olhando para oportunidades de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições]", afirmou ao Valor o presidente da CTG Brasil, Li Yinsheng, em sua primeira entrevista no país. "Não depende muito de nós, depende das oportunidades. Neste ano, é uma opção [fazer uma nova aquisição], mas não vai acontecer necessariamente", completou o executivo, que comandou a aquisição da concessão das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, devolvidas pela paulista Cesp, em leilão realizado no fim de 2015.
Apesar de a CTG ter concluído seu primeiro negócio no Brasil - a aquisição de 50% em dois projetos hidrelétricos da EDP Energias do Brasil no Amapá - em 2014, Li explicou que a empresa estuda o setor elétrico brasileiro há mais de 20 anos. "Começamos a pensar seriamente em investimentos [no Brasil] seis anos atrás. Eventualmente decidimos entrar em 2014. Mas as pessoas deveriam saber que olhamos para o Brasil desde os anos 1990". O parque hidrelétrico brasileiro serviu de referência para a construção de Três Gargantas, maior hidrelétrica do mundo, de 22 mil MW, no rio Yangtzé, na China, principal ativo da companhia.
Segundo Li, dentro da estratégia da CTG para o país, o primeiro passo foi aprender o modelo brasileiro. A etapa seguinte, na qual a empresa se encontra hoje, foi comprar alguns ativos operacionais. E a última fase será o desenvolvimento de projetos greenfields (criados a partir do zero), em leilões de energia nova.
Desde o primeiro acordo, fechado em 2014, a estatal chinesa já investiu R$ 17 bilhões no Brasil. Com relação à concessão de Jupiá e Ilha Solteira, a CTG Brasil desembolsou em janeiro 65% dos R$ 13,8 bilhões de bônus de outorga, dos quais parte com recursos próprios e o restante com um financiamento da China. Para a segunda tranche, a ser quitada em julho, a companhia ainda negocia as condições financeiras, e há a possibilidade de financiamento de bancos do Brasil e dos Estados Unidos, além da China.
Também para julho está prevista a conclusão da transição da operação das duas hidrelétricas da Cesp para a CTG Brasil. A expectativa do grupo chinês é ampliar seu contingente no país dos atuais 120 funcionários para cerca de 400 colaboradores a partir do segundo semestre. "Esperamos que, pelo menos, a maioria deles [dos funcionários das usinas] fique conosco e também esperamos receber novos funcionários. A operação vai continuar como está", explicou Li.
Com relação à parcela de 30% da energia de Jupiá e Ilha Solteira destinada ao mercado livre, da ordem de 800 MW médios, Li disse que parte foi comercializada em um leilão feito pela companhia no início de março. Um segundo volume será ofertado em novo certame, previsto para esta semana.
Questionado sobre quais ativos despertam o interesse da companhia chinesa no Brasil, o executivo não quis citar nomes de empresas e de projetos. Ele, porém, contou que a preferência do grupo continua sendo projetos de grande porte, por fazer parte do "DNA" da companhia.
Perguntado sobre o eventual interesse em adquirir participação na hidrelétrica de Belo Monte, de 11,2 mil MW, o presidente da CTG Brasil disse não poder comentar oportunidades específicas, mas que a usina é um "projeto bom".
Li também afirmou que a companhia avalia o projeto da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós (PA), de cerca de 8 mil MW, mas que ainda não decidiu se a empresa participará de um eventual leilão, ainda sem data marcada.
A respeito do interesse na Renova Energia, Li disse conhecer o negócio, mas que está avaliando "oportunidades diferentes". Ele também descarta as térmicas da Petrobras por não fazerem parte da estratégia do grupo, focado em fontes hidrelétrica, eólica e solar.
Quanto ao cenário de crise política e econômica do país, o executivo disse conhecer as dificuldades atuais, mas contou que a empresa tem uma visão positiva do Brasil no longo prazo. Li também elogiou a Medida Provisória (MP) 688/2015, que tratou da repactuação do risco hidrológico. "A MP 688 foi uma coisa positiva, parcialmente restabeleceu o equilíbrio no segmento [de geração hidrelétrica]. O risco hidrológico foi alocado de forma comercial. Isso fez o setor ficar mais sustentável".

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sexta-feira, 1 de abril de 2016

NTN-B antecipa queda da inflação

Uma espécie de convergência entre o cenário traçado pelo Banco Central para a inflação e as expectativas do mercado financeiro parece começar a se desenhar. Enquanto o BC elevou para níveis considerados mais realistas sua projeção para o IPCA em 2016, a inflação implícita das NTN-Bs, títulos públicos atrelados ao IPCA, vem em trajetória firme de queda, o que aproximou as duas estimativas de forma não vista desde o começo do governo Dilma.
Analistas veem nesse movimento uma correção dos dois lados: enquanto o BC tem que assumir em suas projeções a deterioração das expectativas ocorrida no começo deste ano e as surpresas negativas com a inflação corrente em janeiro, o mercado assume que exagerou lá atrás. Ainda que não seja possível atribuir essa convergência à melhora da credibilidade da política monetária, esse movimento ajuda o Banco Central no esforço de retomar a confiança. "É muito cedo para falar em retomada de confiança, mas é um ponto positivo nessa direção", afirma o diretor de Tesouraria do Santander Luiz Masagão.
O BC elevou no Relatório de Inflação do primeiro trimestre a projeção para o IPCA em 2016 de 6,2% para 6,6%. Já a NTN-B com vencimento em janeiro de 2017 embutia uma inflação ao redor de 7%. Um trimestre atrás, essa taxa estava em 9,07%. No primeiro trimestre do ano passado, quando o BC estimava uma inflação de 4,9% para este ano, as NTN-Bs projetavam 6,87%. "Havia uma visão unânime no mercado de que a inflação superaria o teto da meta este ano, o que justificou uma disparada na inflação implícita das NTN-Bs", explica Masagão, do Santander. "Mas as coletas de preço vieram mais baixas, o dólar cedeu e o mercado começou a antecipar uma correção, que demora mais tempo a ser acompanhada por economistas."
Ele destaca que, enquanto a pesquisa Focus tende a ser mais "engessada", uma vez que a mudança de modelos de inflação depende de ajustes em diversas variáveis por tempo prolongado, investidores reagem mais rapidamente, tentando pegar o início do movimento. "A [inflação] implícita tende a andar na frente. Nossa expectativa é que a Focus acompanhe o movimento do mercado", diz.
A queda da inflação implícita vem ocorrendo desde meados de fevereiro, mas ganhou velocidade no começo de março. E a surpresa com o comportamento do câmbio teve influência direta. "O mercado esperava um dólar perto de R$ 4,40 e R$ 4,50 este ano, mas está vendo uma cotação ao redor de R$ 3,60", diz Ricardo Rossi, analista de renda fixa da Votorantim Corretora. "É uma queda importante, que coloca em dúvida a projeção de inflação dos analistas", afirma, lembrando que sua projeção ainda aponta para um IPCA ao redor de 7% no fim deste ano.
Rossi entende que essa mudança no câmbio reflete tanto a melhora das condições globais de liquidez como também das perspectivas para os fundamentos domésticos. "Claro que para ficar confiante em uma inflação dentro da meta é preciso que haja uma agenda de reformas. Mas já há razão para considerar que as [taxas de inflação] implícitas estavam exageradas", diz.
Para o sócio gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, há uma questão técnica a ser considerada. Cresceu a demanda por juros prefixados, derrubando essas taxas - este ano, o contrato de DI de janeiro para 2017 cedeu 1,90 ponto percentual -, enquanto o juro da NTN-B não caiu na mesma intensidade, porque perdeu parte de seu apelo com a mudança no cenário de inflação. Como a inflação implícita é calculada a partir da diferença dessas duas taxas, ela diminuiu de forma expressiva.
Rossi, da Votorantim, destaca ainda como elemento importante nessa reavaliação do cenário de inflação a mudança de postura do BC. Em janeiro, uma reviravolta abrupta na comunicação da autoridade monetária afetou em cheio as expectativas. No primeiro dia da reunião de política monetária, usando como argumento um relatório negativo divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Tombini, esvaziou as expectativas de aumento de juros. O receio de que a manobra tivesse caráter político levou os agentes a considerar um corte de juros no curto prazo e, assim, pioraram as projeções para o IPCA. No dia seguinte à decisão do Copom de manter a Selic, a inflação implícita da NTN-B para 2017 bateu a máxima de 9,6%.
Mas, em fevereiro, Tombini retomou um discurso mais cauteloso e afirmou que "não há espaço para flexibilização monetária", frase incorporada pelo Relatório de Inflação. "A mensagem de manutenção de juros, sem dúvida, ajudou nesse movimento de queda da implícita", afirma Rossi.
"Embora seja inegável que o cenário de inflação esteja melhorando, principalmente por causa do câmbio mais valorizado, vale a pena aguardar mais um pouco para mexer nos juros", afirma o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks. "Ele ainda tem uma briga a vencer com a Focus mas já está fazendo efeito sobre a implícita. Se ele cortar agora, pode atrapalhar esse processo."

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