quinta-feira, 14 de abril de 2016

Empresas reforçam venda de dólares


Após fundos de investimento iniciarem em março o desmonte de posições compradas em dólar no mercado doméstico (apostando na queda), diante da perspectiva de mudança de governo, agora já se começa a ver empresas reduzindo as suas alocações na moeda americana. Só na terça-feira, as companhias não financeiras venderam o equivalente a US$ 2,61 bilhões em derivativos cambiais negociados na BM&F, o que foi determinante para que o dólar fechasse em baixa mesmo depois da intervenção recorde do Banco Central, que vendeu US$ 8 bilhões em contratos de swap cambial reverso, que equivalem a uma compra da moeda americana no mercado futuro, em um único dia.
Segundo profissionais, esse movimento prosseguiu ontem, o que contribuiu para o dólar encerrar em queda de 0,40% a R$ 3,4757 e renovar a mínima do ano, apesar do aumento das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio.
A autoridade monetária voltou a atuar de forma agressiva no mercado, vendendo 105 mil contratos de swap cambial reverso, o equivalente a uma compra futura de dólar, de US$ 5,250 bilhões, de um total de 180 papéis ofertados por meio da realização de cinco leilões.
Com isso, o BC reduziu em US$ 15,650 bilhões o estoque em contratos de swap cambial tradicional, que foram ofertados para dar proteção aos agentes do mercado - o saldo caiu para US$ 86,4 bilhões. A autoridade monetária tem aproveitado a menor demanda pela moeda americana para acelerar o desmonte do estoque desses derivativos cambiais.
As empresas têm diminuído a demanda por hedge diante da forte queda do dólar em relação ao real, sustentada pelo aumento das chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A percepção é que isso abriria espaço para a adoção de políticas econômicas mais austeras, e também pela melhora da aversão a risco no exterior. Além disso, algumas companhias têm optado por pagar parte das dívidas externas que estão vencendo. Em janeiro, a taxa de rolagem das dívidas externas de empresas brasileiras foi de 17%, e ficou em 55% em fevereiro.
Em abril até dia 12, o dólar acumulava baixa de 3,02%. Nesse mesmo período, as empresas não financeiras, reduziram o equivalente a US$ 5,14 bilhões em posições compradas em dólar na BM&F, considerando as aplicações em contratos futuros e cupom cambial (que representa os juros em dólar). Desde o começo do ano, as vendas somam US$ 5,80 bilhões. Ou seja, praticamente todo o desmonte começou agora em abril. Trata-se de uma queda de 81% das posições compradas em dólar neste mês, que passaram de US$ 6,361 bilhões em 30 de março para US$ 1, 225 bilhão em 12 de abril.
Em abril, as empresas venderam mais dólares do que investidores institucionais (fundos de investimento, por exemplo), que no período se desfizeram de US$ 4,52 bilhões e mantinham, no dia 12, uma posição líquida comprada em dólar de US$ 19,370 bilhões na BM&F.
No ano, contudo, os fundos ainda lideram a ponta vendedora de dólar, reduzindo sua posição comprada na moeda americana em US$ 11,63 bilhões. Isso mostra que essa categoria de investidores começou esse movimento mais cedo.
Vale lembrar que a maior parte das posições de hedge cambial das empresas é realizada via contratos a termo de moedas na Cetip.
Segundo um gestor, o ajuste "tardio" das empresas é justificável, já que decisões sobre alterações estruturais de posições de "hedge" por parte das companhias costumam demandar mais tempo, envolvendo diversas esferas.
De acordo com o profissional de tesouraria de um banco estrangeiro, "faz muito sentido" rumores que circulam no mercado sobre empresas específicas que operam nos mercados de derivativos, tanto de câmbio quanto de juros. "É difícil acreditar que o mercado queira vender US$ 8 bilhões para o BC em um dia sem pensar que isso é uma demanda específica, de um ou mais 'players'", diz esse profissional.
Segundo Sérgio Machado, chefe de vendas da mesa de renda fixa do BNP Paribas no Brasil, algumas empresas nacionais podem estar deixando de renovar algumas posições de hedge cambial que estão vencendo, diante da incerteza no cenário político local. "As empresas podem estar esperando um momento melhor para rolar essas posições de hedge."
Já em relação às multinacionais, Machado lembra que as companhias têm uma política de hedge definida pela matriz e não têm reduzido suas posições por conta da mudança no cenário político.
Outro fator que reflete na menor demanda por proteção é o fato dos importadores terem reduzido o hedge cambial, depois de aproveitar a queda de 10% do dólar em março para travar os custos. "Em março, chegamos a ver um movimento de compra de dólar por parte de importadores quando a moeda caiu abaixo de R$ 4 e nesta semana esse movimentou diminuiu", diz Fernando Pierri, superintendente executivo de tesouraria do Santander.
Em março, as operações de compra de dólar via contratos a termo por parte de empresas registradas na Cetip somaram US$ 17, 8 bilhões, acima dos US$ 16,196 bilhões de fevereiro, mas mostram queda de 20,22% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo o sócio-diretor da Capitânia, que presta serviços de consultoria financeira para empresas, Rodrigo Zuniga, algumas companhias que não tinham hedge têm optado por fazê-lo por meio de opções de compra de dólar, em que a empresa paga um "prêmio" para comprar a moeda americana em determinada data de exercício e, se o dólar, cai, não precisa exercer a posição. "As empresas pagam uma taxa por esse seguro para proteger os passivos em dólar e ao mesmo tempo limitar as perdas", diz.
O dólar abaixo de R$ 3,50 já começa a incomodar os exportadores, sobretudo os de papel e celulose. Segundo o executivo de uma grande empresa do setor de agronegócios, os embarques de carnes ainda estão com margens positivas, mas a preocupação no segmento é crescente, principalmente em virtude do risco de o dólar cair mais se o impeachment de Dilma for aprovado pelo Congresso. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)

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