quarta-feira, 11 de maio de 2016

Investir menos coloca teles sob risco

O investimento insuficiente das operadoras de telecomunicações da América Latina em infraestrutura, faixa de frequência e tecnologia provavelmente representará um risco para as empresas no fim da década. O alerta faz parte de um relatório da agência de classificação de crédito Moody's.
No levantamento, que reúne dados de 2012 até projeções para 2018, a agência destacou o comportamento das operadoras em relação a investimentos, lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e margens Ebitda.
O crescimento do Ebitda é estimado em cerca de 1,5% até o fim de 2017. No mesmo período, a estimativa é que os investimentos sofram cortes de 6,5%. Se somado o Ebitda das empresas e descontada a evolução dos investimentos, o resultado é 5,8% em 2016 e mais 5,2% em 2017. A redução gradual dos investimentos é efeito da estratégia prevista para o período.
A consequência prática da queda dos investimentos aparece na deterioração da qualidade da rede das teles, cobertura, capacidade de tráfego, velocidade de transmissão de dados, entre outros serviços. O cumprimento das metas fica comprometido.
O grupo mexicano América Móvil, controlador da Claro e da Net / Embratel no Brasil; e a Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, enfrentam as duras condições do cenário político-econômico. Paralelamente, empresas-irmãs passam por dificuldades em outros países da América Latina, como o Peru, Chile e México. Em todos os mercados, mesmo as empresas menores terão problemas nos próximos anos para melhorar o capital enquanto cumprem as metas.
As margens combinadas de Ebitda do setor na região vão cair de 35,6%, no fim de 2015, para cerca de 33% em 2018, segundo o relatório.
Vários fatores contribuem para esse cenário. A instabilidade político-econômica, as mudanças regulatórias, a perda de poder aquisitivo dos consumidores e erros estratégicos. Para que as empresas cresçam ou simplesmente sobrevivam, seus gestores precisam fazer escolhas por vezes dolorosas. E é aí que o lucro e os investimentos acabam pressionados, exigindo um exercício para encontrar o ponto de equilíbrio.
Entre as quatro grandes operadoras que atuam no Brasil, só a TIM, subsidiária da Telecom Italia, e a Oi não estão vinculadas a grupos que atuam em outros países da região.
Alguns executivos costumam dizer que as teles são mais resilientes diante da recessão, frente a outros setores. Os dados mostram, porém, que nem todas têm se saído tão bem quanto Telefônica e Claro. Além de mais bem posicionadas financeiramente, com receita líquida robusta, essas empresas privilegiam o segmento pós-pago, que permite ter uma previsão de receita e valores maiores em relação ao pré-pago.
O primeiro trimestre fechou com 257,8 milhões de linhas celulares no país. O pré-pago abocanhou 71,41% do setor, revelando uma desaceleração se comparado aos 75,48% de um ano antes.
Até agora, só Vivo, Claro, Nextel e a Algar, de atuação regional, divulgaram os resultados do trimestre. Na Vivo, Claro e Algar, o pré-pago está em desaceleração em relação a igual período de 2015; a Nextel, que só tem planos pós-pagos, perdeu 9% dos clientes, ficando com 4 milhões no trimestre.
Na Vivo, do total de 73,27 milhões de clientes do serviço móvel no trimestre, 57,34% eram pré-pagos, ante 64,7% um ano antes.
Na Claro, dos 65,97 milhões de usuários, 74,16% eram da base pré-paga, com redução de 3,75 pontos percentuais em 12 meses.
Na Algar, a fatia de pré-pagos foi de 74,23%, com recuo de 1,86 ponto na mesma base de comparação.
A TIM divulga seus resultados hoje. Até o fim de 2015, o pré-pago tinha participação de 79,5% em sua carteira de clientes.
Já a Oi, que divulga seu relatório do trimestre amanhã, manteve o pré-pago estável no ano passado, com 81,9% em dezembro.
Mais bem posicionadas, Vivo, Claro e Algar podem obter melhor aproveitamento do pós-pago e do crescimento da demanda por dados. Oi e TIM têm menos flexibilidade e, segundo a Moody's, lançam mais foco no pré-pago, que encolhe rapidamente.
A TIM está à mercê da francesa Vivendi, que é a principal acionista da Telecom Italia, controladora da companhia. O CEO da Vivendi, Arnaud de Puyfontaine, foi nomeado vice-presidente do conselho da Telecom Italia em 27 de abril. Logo depois, o grupo italiano adiou a divulgação de seu resultado financeiro de 5 para 13 de maio. Além disso, o presidente do conselho da companhia, Giuseppe Recchi, informou que o grupo planeja mudanças no quadro de gestores do Brasil. Vale lembrar que o mandato do presidente da TIM Brasil, Rodrigo Abreu, venceu em março. A possibilidade de mudanças ganhou força quando Flavio Cattaneo assumiu a presidência da Telecom Italia. Uma opção é que Abreu passe a presidir o conselho da TIM.
Tudo passou a acontecer muito rapidamente no grupo italiano, desde que o maior acionista e presidente do conselho da Vivendi, Vincent Bolloré, elevou a participação de sua empresa para 24,9% do capital social da Telecom Italia.
Bolloré quer desenvolver o negócio de mídia e entretenimento de seu grupo, sob o qual está a Mediaset. A TIM Brasil é uma ilha dentro dessa estratégia e as expectativas são de que o empresário use sua força na Telecom Italia para impor seus planos de vender a TIM e se concentrar na Europa.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4557029/investir-menos-coloca-teles-sob-risco

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