quinta-feira, 12 de maio de 2016

Investidor espera as primeiras medidas

Uma melhora adicional nos preços dos ativos brasileiros vai depender das medidas que devem ser anunciadas por Michel Temer na presidência. O consenso entre os analistas é de que serão necessárias iniciativas que acelerem as reformas estruturais e que possam contribuir para a retomada de confiança no país. Mas, também é consenso de que a aprovação pode encontrar resistência no Congresso. Se na largada houver sinalizações favoráveis, há espaço para o capital externo trazer um pouco de adrenalina aos negócios.
Ontem, o mercado financeiro já considerava como certa a saída da presidente Dilma Rousseff do cargo. A bolsa de valores fechou em baixa de 0,58% aos 52.764 pontos. O atual patamar do Ibovespa já considera um novo governo, que possa adotar uma política fiscal e monetária mais austera. "Mas após a conclusão do impeachment a bolsa ainda pode ter uma injeção de adrenalina e chegar a 57.000 pontos", afirma Adeodato Volpi Netto, diretor da Eleven Research.
O dólar recuou 0,61%, a R$ 3,44, mesmo com a atuação do Banco Central no câmbio, que voltou a vender swaps cambiais reversos, depois de cinco pregões consecutivos fora do mercado. O BC vendeu 47.970 contratos em três leilões, operação equivalente à retirada de US$ 2,399 bilhões do mercado futuro. Já os juros futuros fecharam em baixa na BM&F, refletindo a expectativa positiva com a possível troca de comando do BC, com a provável nomeação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn para o cargo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 recuou de 12,42% para 12,25%. Indicador da melhora de percepção de risco, a inclinação da curva a termo de juros - dada pela diferença entre o DI para janeiro de 2021 e o DI para janeiro de 2017 - ficou negativa em 1,34 ponto ontem, menor nível desde 26 de junho de 2015, antes de o Brasil perder o grau de investimento.
Para Sérgio Goldenstein, sócio diretor da Flag Asset Management e ex-diretor do BC, a aprovação de medidas fiscais e parafiscais em um possível governo de Michel Temer, além de reformas regulatórias devem abrir espaço para que os investidores estrangeiros aumentem as aplicações no Brasil e promovam uma nova rodada de valorização dos ativos locais.
Entre os ativos que podem se beneficiar da melhora da percepção de risco pós-impeachment, Goldenstein acredita que a bolsa de valores seria a mais beneficiada porque seus fundamentos técnicos estão "underweight" (abaixo da média) e há espaço para um rali. As taxas de juros também devem seguir caindo, principalmente os contratos mais longos, conforme as medidas sejam postas em prática e com a percepção de uma política monetária mais sólida.
Já no câmbio, Goldenstein acredita que há espaço para valorização adicional do real com o aumento de fluxos externos para o Brasil, mas a velocidade desse movimento vai depender das atuações do BC. "Se o governo conseguir implementar o ajuste fiscal e as reformas, acho que o câmbio vai recuar para a casa dos R$ 3,30."
O ajuste, segundo ele, é essencial para abrir espaço para que o BC reduza o juro básico, hoje em 14,25% ao ano "A condição necessária para o BC começar a cortar a taxa Selic é a melhora das expectativas de inflação e acho que ele deve iniciar o afrouxamento monetário no segundo semestre, a partir de julho". Ele espera quatro quedas de 0,50 ponto percentual.
Para o o gestor sênior de renda fixa da Absolute Investimentos, Renato Botto, o potencial de queda é maior nos juros futuros do que no dólar, embora a moeda americana possa testar novas mínimas caso o mercado tenha satisfeitas as expectativas com relação a um governo Temer.
A continuidade do rali dos ativos financeiros domésticos vai depender do cumprimento das medidas de ajuste esperadas em um governo de Temer, afirma Ignacio Crespo, economista da Guide Investimentos, para quem Temer tem surpreendido pela maior habilidade política. "O mercado está no modo otimista sobre o que Temer pode fazer no Congresso. E isso faz preço já que disso depende a aprovação das medidas fiscais".
Já Marcelo Allain, professor da Fipe, acredita que o preço dos ativos financeiros já reflete essas possíveis mudanças políticas. "A bolsa pode subir um pouco mais no início de um eventual governo Temer porque tem a influência do petróleo no mercado internacional".
Na contramão de boa parte do mercado, Luis Stuhlberger, gestor do Verde, principal fundo multimercado brasileiro, não embarcou na expectativa de alta da bolsa derivada de uma troca de presidente. "Acreditamos que a bolsa reflete um exagero de otimismo em relação ao novo governo, que não justifica alocação e portanto temos uma pequena posição vendida", escreveu em relatório.
Na renda fixa, o fundo atravessa esse conturbado momento político com uma grande posição em NTN-Bs, títulos públicos indexados à inflação. "Vemos bastante espaço para o juro real continuar caindo", informou em carta aos investidores. Sobre o câmbio, a expectativa é de taxa estável dentro de uma pequena banda de oscilação, com o BC de um lado desfazendo os swaps e, do outro, o dólar, "pelo menos temporariamente", sem tendência de alta diante das demais moedas. Por essa visão, o fundo tem hoje uma posição vendida em dólar contra o real.

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