terça-feira, 24 de maio de 2016

Investidor hesita em acreditar no Fed

É difícil culpar os investidores por serem complacentes quando o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) diz que está prestes a elevar novamente os juros. As autoridades monetárias têm repetido esse discurso desde o início do ano passado, mas recuaram, quando os dados mostraram terem superestimado o vigor da economia americana.
Esse cenário está se desenhando novamente nos mercados globais. Mesmo depois que a ata do Fed divulgada na quarta-feira representou forte sinalização de que o aumento pode vir já em junho, o mercado de títulos aponta uma probabilidade de 28% de que isso venha a se confirmar.
"O Fed e outros bancos centrais podem endurecer o discurso, tentando manipular o rumo dos juros, mas o mercado diz 'nós não acreditamos em você'", disse Steve Major, diretor de pesquisas em renda fixa na HSBC, com sede em Londres, um dos 23 dealers primários de títulos do governo americano que negociam com o Fed. "Ventos estruturais contrários ao crescimento e o cenário internacional são limitações até aonde os juros podem ir nos EUA."
Embora a ata da reunião do Fed em abril tenha indicado que as autoridades monetárias consideraram um aumento dos juros provável para o próximo mês se a economia continuar a melhorar, os investidores veem muitos obstáculos. Um referendo no Reino Unido em 23 de junho decidirá se o país continuará membro da União Europeia. A dinâmica de crescimento na China está perdendo força após uma recuperação alimentada por crédito no início deste ano e o dólar está novamente em alta.
Alguns gestores dizem que já é hora de os traders começarem a voltar a precificar decisões do Fed. Jeffrey Gundlach, da DoubleLine Capital, disse na quinta-feira que o banco central está sinalizando que os dados econômicos estão suficientemente robustos para justificar um aumento dos juros. Rick Rieder, diretor de investimentos de renda fixa global na BlackRock , disse que as autoridades provavelmente vão esperar até julho para avaliar o resultado e as implicações do referendo britânico.
té agora, os mercados têm acertado, ao apostar que o Fed está blefando. Autoridades do Fed baixaram sua previsão média para os juros do mercado interbancário de longo prazo para 3,25%, de até 4,25% em 2012.
As autoridades monetárias vêm pressionando os investidores a se prepararem para aumentos há mais de um ano, mas só os elevaram uma única vez. A 0,88%, o rendimento dos Treasuries de dois anos estão mais baixos do que em dezembro, quando os custos de empréstimos de referência foram elevados de quase zero pela primeira vez desde 2006.
Para decepção das autoridades, a economia americana está sendo incapaz de manter um ritmo de crescimento como em ciclos anteriores de aperto do juro. A economia mal cresceu no primeiro trimestre, tendo expandido a uma taxa anualizada de 0,5%. Embora a taxa de desemprego tenha caído abaixo de 5%, a inflação permanece abaixo de 2%, que é a meta do Fed.
"A economia não exibe vitalidade suficiente para que o Fed aja de forma decisiva", escreveu Christopher Low, economista-chefe da FTN Financial, em nota aos clientes quinta-feira.
Além disso, há o dólar. Com as expectativas de aumento dos juros, o dólar sobe, colocando as ações de companhias americanas sob pressão, ao corroer os lucros das multinacionais. Dólar mais forte e ações mais desvalorizadas deixam mais apertadas as condições financeiras, tirando algum vigor da economia.
O avanço de 18% do dólar contra as principais moedas ao longo dos últimos dois anos ajudou a minar as commodities, cujos preços são fixados em dólares. Uma renovada valorização reacenderá as preocupações em relação a calotes em massa no setor da energia, incentivará capitais a fugir de mercados emergentes e enfraquecerá suas moedas.
Em março, autoridades do Fed reduziram abruptamente suas expectativas para os juros, o chamado "gráfico de pontos", depois que a depreciação do yuan e saídas de capital da China impactaram os mercados globais. Economistas do Goldman Sachs qualificou-a de uma das mais moderadas decisões do Fed no século 21. Na quinta-feira, estrategistas do banco disseram que embora a possibilidade de alta em junho tenha crescido, isso está longe de garantido.
"As atas ressaltam como têm sido voláteis as comunicações do Fed", disseram Robin Brooks e Michael Cahill, do Goldman, em nota. "É difícil, para o Fed normalizar a política [monetária], pois o dólar poderia apreciar muito."

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