segunda-feira, 23 de maio de 2016

Banco médio lucra menos e busca manter liquidez alta

Assim como os grandes bancos de varejo, as instituições financeiras de médio porte sentiram os efeitos da crise econômica nos balanços do primeiro trimestre. Com o aumento das despesas contra calotes, o lucro recorrente combinado dos sete bancos de capital aberto foi de R$ 118 milhões, o que representa uma queda de 31% em relação ao mesmo período do ano passado. Duas instituições - Banco Pan e Indusval - fecharam o trimestre no vermelho.
Embora os problemas para todos os bancos sejam basicamente os mesmos, as instituições de médio porte são apontadas como mais vulneráveis ao atual cenário da economia, em razão da concentração maior da carteira de crédito e dos custos de captação mais altos. As dificuldades de algumas instituições, contudo, vêm de antes da crise.
O maior risco de calotes com a piora da economia levou os bancos a pisar no freio do crédito e preservar recursos em caixa. O saldo combinado da carteira de ABC Brasil, Daycoval, Indusval, Banco Pan, Paraná Banco, Pine e Sofisa encerrou março em R$ 66,4 bilhões, o que representa queda de 2,7% no trimestre e de 7,4% em 12 meses.
Apesar da redução do estoque de crédito, a alta nos "spreads" (diferença entre o custo de captação e as taxas cobradas dos clientes) provocada pela escassez de recursos disponíveis na praça favoreceu o resultado de algumas instituições. O ABC Brasil registrou lucro líquido de R$ 95,5 milhões no primeiro trimestre, com alta de 19% em relação aos três primeiros meses de 2015.
Especializado no crédito a empresas, o banco controlado pelo Arab Banking Corporation atribuiu o resultado à menor concorrência, que permitiu uma melhor seleção dos clientes. "Entramos em um bom número de companhias às quais não tínhamos acesso antes", afirma o vice-presidente executivo da instituição, Sérgio Lulia Jacob.
O ABC foi o único dos bancos médios listados na bolsa a registrar alta no lucro no primeiro trimestre. Ainda assim, a margem financeira da instituição ficou mais apertada em razão do aumento nas provisões. Com a alta da inadimplência, os bancos médios reservaram um total de R$ 533,6 milhões para proteger os balanços contra calotes no primeiro trimestre, 22% acima do volume provisionado no mesmo período de 2015.
As perdas potenciais com a inadimplência e os impactos sobre a saúde financeira dos bancos de menor porte preocupam analistas. A qualidade dos ativos representa o maior risco para os bancos de médio porte no cenário atual, segundo Alexandre Albuquerque, analista da agência de classificação de risco Moody's. "A inadimplência vem subindo e não se pode descartar elevações adicionais nos próximos trimestres", afirma.
Na semana passada, outra agência de risco, a Standard & Poor's (S&P), rebaixou a classificação do Banco Pine para "B+", dois níveis abaixo da nota soberana do Brasil. Para a agência, a qualidade dos ativos do banco pode continuar a se deteriorar em razão da concentração de crédito da instituição em meio ao fraco desempenho da economia brasileira.
A maior concentração da carteira torna mais difícil a tarefa dos bancos médios de absorver potenciais perdas. No ano passado, o Indusval passou por um aumento de capital de R$ 80 milhões depois de fazer uma provisão de R$ 210 milhões para cobrir perdas com créditos a produtores rurais originados pela trading Ceagro.
Além de reduzir o crédito, os bancos têm procurado preservar a liquidez para o caso de um agravamento ainda maior do cenário. O Paraná Banco, por exemplo, encerrou o trimestre com R$ 1,7 bilhão em caixa, o equivalente a 35% da captação total.
O custo do carregamento dessa posição, porém, afeta a rentabilidade. A média do retorno sobre o patrimônio dos bancos listados no primeiro trimestre foi de 9,1%, contra 11,7% no mesmo período do ano anterior. O dado não considera os números do Pan e do Indusval, que tiveram prejuízo em ambos os trimestres.
A redução no crédito também contribuiu para que os bancos médios reforçassem a posição de capital. O índice de Basileia, que mede o quanto as instituições podem emprestar em relação a seu patrimônio, das instituições que possuem capital aberto subiu, na média, de 17,5% para 18,6% entre o primeiro trimestre de 2015 e março deste ano. O Pan possui o menor índice, de 14,5%, mas ainda assim bem acima do mínimo exigido pelo Banco Central, que neste ano é de 10,5%.
A expectativa dos executivos dos bancos é que os índices de capitalização em níveis elevados permitam uma retomada dos negócios quando a situação econômica melhorar. "Há sinais pífios de alguma recuperação à frente. São pífios, mas são sinais melhores", afirmou Ricardo Gelbaum, diretor de relações com investidores do Daycoval. O tom de algum otimismo para a economia até o fim do ano foi compartilhado por executivos de outras instituições em teleconferências com analistas.
Embora a crise tenha afetado o resultado, os bancos médios, de uma maneira geral, já vinham entregando resultados fracos mesmo antes da piora da economia. "As instituições contam com uma estrutura de receita menos diversificada e uma estrutura de funding mais volátil", afirma o analista da Moody's.
Os investidores cobram a fatura desse desempenho. As sete instituições são negociadas hoje abaixo de seu valor patrimonial na bolsa. Os preços baixos e a falta de perspectiva de novas captações de recursos por meio de uma oferta de ações levaram alguns bancos, como Daycoval, Sofisa e Indusval, a lançar ofertas aos minoritários para fechar o capital.

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