Desde o ano passado, mais de 1,6 milhão de pessoas perderam o
convênio médico e o orçamento do Sistema Único da Saúde (SUS) teve uma
redução de cerca de R$ 12 bilhões. Nesse cenário, o mercado de clínicas
médicas populares deve mais que dobrar nos próximos dois anos, com
aportes de investidores de diferentes perfis. Juntos eles estão
investindo cerca de R$ 500 milhões em cinco redes: Dr. Consulta, Meu
Doutor, Clínica Fares, Dr. Agora e Clínica SIM-Serviços Integrados em
Medicina.
Além da expansão orgânica, as clínicas médicas populares - cujo preço
da consulta varia de R$ 89 a R$ 120 - estão diversificando o negócio.
Boa parte desses consultórios atende principalmente casos simples, mas
em alguns deles já é possível realizar pequenos procedimentos cirúrgicos
e exames de imagem como raio-x e ultrassom.
A concorrência neste mercado promete ser acirrada. Várias dessas
redes têm à frente executivos tarimbados, acostumados a planilhas e
métodos de gestão, e médicos experientes na sociedade. A Dr. Consulta
vai nessa toada. Foi criada pelo administrador de empresas Thomaz
Srougi, com passagem pela Ambev e MBA por Harvard. Filho do médico
Miguel Srougi, renomado urologista do Hospital Sírio Libanês, Thomaz tem
como sócios médicos formados pela USP e por Harvard.
Fundada em 2011, em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo,
a Dr. Consulta tem atualmente 12 unidades e faz 50 mil atendimentos por
mês. Deve chegar ao fim deste ano com 30 clínicas. A rede já recebeu
investimento de US$ 42 milhões de fundos estrangeiros e dos sócios
fundadores, que detêm o controle. "A empresa é baseada em três pilares:
gestão, dados clínicos e bons profissionais. Quando resolvemos alçar um
empreendimento, pensamos em replicar o modelo de gestão que aprendemos
na Ambev", diz Thomaz.
Ele afirma que investe muito em tecnologia tanto para o operacional
quanto para análise de dados médicos dos pacientes. Essas informações
também ajudam o médico a traçar o tratamento mais adequado.
Outra rede em expansão é a Clínica SIM - Serviços Integrados em
Medicina, que atua no Norte e Nordeste, regiões onde há menos pessoas
com planos de saúde. Denis Cruz, fundador e presidente da SIM, espera
elevar o faturamento em 78% este ano e passar de seis para dez unidades.
"Percebemos um aumento na procura por parte das pessoas que tinham
convênio médico e que não estão dispostas a 'navegar' no SUS. As
clínicas populares estão se tornando uma terceira opção ao SUS e ao
plano de saúde com uma velocidade altíssima", afirma.
A empresa está levantando uma nova rodada de recursos com fundos de
investimento para financiar a ampliação dos negócios e atender a demanda
crescente. O primeiro aporte foi feito por um grupo seleto de
investidores como Carlos Alberto Degas Filgueiras (presidente do grupo
Devry, de educação), Rodrigo Galindo (presidente do grupo Kroton), Ari
de Sá Neto (fundador do sistema de ensino SAS) e Rafaela Villela (sócia
do fundo de investimento Gera Venture Capital, do empresário Jorge Paulo
Lemann).
"O Rodrigo e o Degas me ajudam muito na gestão porque o modelo de
negócio deles também é baseado em escala e qualidade. Nesse sentido, por
exemplo, decidimos expandir com unidades próprias para ter mais
controle do negócio e não por meio de franquia", diz Cruz, que é formado
pela Universidade de Stanford, na Califórnia, onde também estudou o
presidente da Devry. A universidade americana foi o elo entre Cruz e
Degas, o primeiro a investir na rede de clínicas populares e que, por
sua vez, convidou outros empresários da área de educação para a
sociedade.
A Meu Doutor abriu, no sábado, sua primeira unidade de olho no
envelhecimento da população e em pacientes com doenças crônicas. A
empresa já começa com investimento de R$ 100 milhões e a meta é ter 15
consultórios até o fim do próximo ano. Segundo o Valor
apurou, o investidor é a gestora australiana de fundos Simon Partners
que passou a deter 52% da Meu Doutor. A outra fatia está distribuída
entre o fundador, o cardiologista Maurício Serpa, e o pediatra Thiago
Caetano, ambos médicos do Hospital São Luiz Rede D'Or.
"Nosso foco é o trabalho de prevenção. Montamos pacotes para
pacientes de doenças crônicas. São 12 consultas por ano por R$ 79 ao
mês. A consulta de um atendimento normal varia de R$ 89 a R$ 99", diz
Serpa. A primeira unidade fica no Grajaú, bairro pobre em São Paulo. "O
hospital público Grajaú atende 45% acima de sua capacidade", acrescenta
ele, que começou a desenhar o projeto há três anos e foi em busca de
investidores.
Com investimento e experiência de Rick Krieger, um dos fundadores da
Minute Clinic, rede de consultórios instalados dentro das farmácias
americanas CVS, a Dr. Agora tem como estratégia ter unidades em áreas de
grande circulação como estações de metrô e supermercados e foco em
atendimentos simples. "O modelo brasileiro de saúde é ineficiente. Cerca
de 70% dos atendimentos realizados em pronto-socorro poderiam ser
tratados em consultório", afirma Guilherme Berardo, fundador e
presidente da Dr. Agora, cuja meta é triplicar o número de clínicas até
2017. Hoje, são cinco unidades em funcionamento em São Paulo.
No mercado há quase 30 anos, a Clínica Fares também tem um plano
ambicioso de expansão. Espera passar das atuais duas unidades para 14
até 2019. O projeto vai demandar investimentos de cerca de R$ 130
milhões. Os recursos serão aplicados pelo criador da rede, o médico
Adiel Fares, um dos fundadores da varejista de móveis Marabraz. O modelo
de negócio da Clínica Fares é um pouco diferente dos seus concorrentes,
uma vez que atende também planos de saúde e realiza procedimentos como
pequenas cirurgias, como biópsia, por exemplo. "Para cirurgias de alta
complexidade, temos parcerias com hospitais. Compramos um período do dia
do centro cirúrgico dos hospitais e com isso conseguimos melhores
preços para nossos clientes", diz Fares.
Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4555241/com-aportes-clinicas-populares-avancam
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