Os grandes bancos brasileiros gastaram R$ 26,8 bilhões em provisões
contra calotes no primeiro trimestre deste ano, um crescimento de 29,7%
em relação ao mesmo período de 2015. A despesa representa pouco mais que
o dobro do lucro líquido recorrente de Banco do Brasil, Bradesco,
Caixa, Itaú Unibanco e Santander no trimestre, que somou R$ 13,1
bilhões. A chamada PDD contribuiu para que o resultado dos grandes
bancos registrasse queda de 19% em relação aos três primeiros meses de
2015.
A alta ficou acima do esperado por analistas e despertou
questionamentos para o impacto nos resultados dos próximos trimestres. O
Banco do Brasil já revisou a projeção para as despesas de PDD no ano,
que deverão representar entre 4% e 4,4% da carteira de crédito. A
estimativa anterior variava entre 3,7% e 4,1%. Bradesco e Itaú Unibanco
mantiveram as projeções, mas indicaram que a PDD deve ficar mais próxima
ao teto da faixa indicada no início do ano.
As provisões derrubaram a rentabilidade dos bancos, cuja média
anualizada foi de 13,1%, abaixo da taxa básica de juros (Selic),
atualmente em 14,25%. No primeiro trimestre do ano passado, o retorno
sobre o patrimônio das instituições ficou, na média, em 17,2%.
O BB registrou o maior crescimento nas despesas com provisão no
primeiro trimestre, de 59,2%, para R$ 8,7 bilhões. O Bradesco aparece em
seguida, com alta de 52,2%, para R$ 5,4 bilhões. Ambos creditaram o
avanço a uma operação com um cliente no setor de óleo e gás, que os
analistas acreditam ser a Sete Brasil, fornecedora de sondas da
Petrobras.
Sem indicar nomes de clientes ou setores específicos, o Itaú
apresentou um aumento de 43,7% nas despesas para proteger o balanço
contra a inadimplência, a R$ 6,402 bilhões. Com os sinais de
estabilização da atividade econômica, que podem levar a um desempenho
melhor do PIB em 2017, o banco vê espaço para uma eventual redução nas
provisões. "Acreditamos que podemos ter alguma melhora a partir do
segundo semestre deste ano", afirmou Eduardo Vassimon, vice-presidente e
diretor financeiro do Itaú, que projeta uma despesa com provisões de R$
22 bilhões a R$ 25 bilhões em 2016.
Entre os grandes bancos privados, o Santander teve a menor expansão
nas provisões, de 14,8%, para R$ 2,4 bilhões. "Estamos em níveis normais
de PDD, com deterioração controlada daqui para a frente", disse Angel
Santodomingo, vice-presidente-executivo e diretor financeiro do
Santander, em teleconferência com analistas.
A Caixa Econômica Federal foi a única instituição a registrar
provisões menores no período, com uma despesa de R$ 3,8 bilhões, uma
queda de 24,2%. As reservas teriam sido ainda menores não fosse um gasto
extraordinário de R$ 700 milhões no trimestre, segundo o
vice-presidente de finanças do banco, Marcio Percival. Assim como nas
demais instituições, a despesa foi relacionada a clientes no setor de
óleo e gás. O banco público vendeu carteiras de crédito em atraso no
período, mas que não haviam sido baixadas para prejuízo, o que também
ajudou a reduzir as provisões.
Embora os bancos relacionem a alta nas despesas a casos específicos,
como o da Sete Brasil, a inadimplência como um todo subiu. A média do
índice de atrasos acima de 90 dias passou de 3,3% em dezembro para 3,5%
no fim do primeiro trimestre. Em valores, esse percentual representa
pouco mais de R$ 98 bilhões em créditos atrasados nos balanços,
considerando o saldo da carteira ampliada das instituições, que inclui
avais, fianças e títulos privados.
"[A inadimplência] vai subir até uma melhora da economia acontecer",
afirmou José Mauricio Pereira Coelho, vice-presidente de relações com
investidores do BB, em entrevista coletiva sobre o balanço, realizada
ontem na sede do banco em São Paulo. O executivo não quis estimar,
contudo, um prazo para essa melhora.
Os bancos compensaram parte das perdas com a inadimplência com a alta
dos spreads de crédito. A taxa básica de juros mais alta em relação ao
mesmo período do ano passado contribuiu para o ajuste. Com a esperada
queda da Selic ao longo do ano, é de se esperar que o efeito para os
bancos seja o contrário. O diretor de relações com investidores do
Bradesco, Luiz Carlos Angelotti, afirmou, contudo, que o impacto da
Selic menor nos resultados do banco deve ser neutro.
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