quarta-feira, 2 de março de 2016

Seleção darwinista

Em meio a um ambiente econômico de recessão, com impactos relevantes para os negócios das empresas, evocar a teoria evolucionista tem sido o caminho de boa parte dos analistas na hora de selecionar ações. Em lugar de focar, principalmente, no potencial de valorização, as corretoras participantes da Carteira Valor escolheram para março companhias com gestão reconhecida e resultados sólidos, considerados fatores-chave para resistir às turbulências.
"As empresas que queremos estar num momento de dificuldade como agora são aquelas com boa gestão, em primeiro lugar", afirma Ricardo Kim, chefe da área de análise da XP. Diante dessa premissa, papéis vistos como defensivos ganharam ainda mais peso nas indicações da carteira. BB Seguridade, por exemplo, "com perfil de risco baixo e alto potencial de crescimento [de resultados]", conforme avaliação de Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos, desponta como grande nome da carteira, com oito votos, entre dez possíveis. Já Itaú Unibanco, Ultrapar e Klabin, que também apresentaram balanços sólidos no quarto trimestre, foram apontados por quatro casas cada.
Os quatro papéis já faziam parte do portfólio de fevereiro e ganharam reforço em número de indicações, com exceção de Itaú que manteve quatro votos. A carteira de março se completa com São Martinho, BRF, Itaúsa, Suzano Papel, Fibria e Telefônica/Vivo. Na virada do mês, saíram Cielo, Weg, Ambev e Cetip - todas com desempenho fraco em fevereiro.
Mês passado, a carteira, com alta de 0,23%, perdeu para o Ibovespa, que subiu 5,91% em meio a um rali ocasionado pela alta do petróleo e melhora do cenário externo. Em 12 meses, o portfólio ainda mantém dianteira, com recuo de 5,06% ante queda de 17,04% do principal índice da bolsa.
A estrela do portfólio de março, BB Seguridade, é vista como um papel que, além de geração de receita diversificada e distribuição atrativa de dividendos, beneficia-se, em termos de resultados, das taxas de juros elevadas. "Uma das virtudes da companhia é sua capacidade de adaptação aos diferentes cenários", afirma Ohmachi, da Guide.
Os analistas Daniel Altman, Bruno Arruda e Rafael Frade, do Bradesco, classificam, em relatório, o braço de seguros do BB como um "caso único". Conforme o trio, a empresa combina diversas características atrativas, como geração de caixa substancial, alto "dividend yield", lucros recorrentes, alto crescimento e receitas baseadas em tarifas. Kim, da XP, acrescenta ainda que o 'valuation' atual da ação, com P/L (múltiplo preço da ação sobre lucro por ação, que indica o tempo em anos necessário para se obter o retorno do investimento) de 11 vezes, abaixo da média histórica entre 14 e 16 vezes.
Para o analista da XP, o valuation de Itaú também confere "margem de segurança" para o papel. Kim destaca que a PN do banco, após as quedas recentes, alcançou um P/L de 7 vezes, ou seja, abaixo da média dos últimos cinco anos entre 8 e 10 vezes. "Itaú é um papel interessante, pois sofreu bastante no curto prazo, devido às projeções para o crédito e a inadimplência. Mas, olhando de uma maneira prática, o banco tem 'management' de alto nível e é uma empresa que queremos estar num momento de cenário desafiador."
Outro destaque do portfólio de março, Ultrapar apresentou um balanço forte no último trimestre de 2015. De acordo com a Guide, o destaque foi a divisão dos postos Ipiranga, que reportou Ebitda de R$ 13 milhões, acima do esperado pelo mercado. O chefe de análise da XP acrescenta que, embora o cenário macro seja desfavorável, a tendência de bons resultados deve se manter nos próximos trimestres. "A companhia importa derivados e está vendendo combustível com prêmio em relação aos preços internacionais. Além disso, tem 'management' reconhecido e valuation interessante", diz Kim.
Ver também: Câmbio motiva quase metade das indicações em março

Leia mais em:http://www.valor.com.br/financas/4461552/selecao-darwinista

Nenhum comentário:

Postar um comentário