terça-feira, 22 de março de 2016

BC mais atuante no câmbio traz dúvidas sobre sua estratégia

O dólar subiu em relação ao real ontem diante da ação inédita do Banco Central de ofertar contratos de swap cambial reverso, que equivalem a uma compra futura da moeda americana, ao mesmo tempo em que ainda são feitas rolagens parciais dos contratos tradicionais, normalmente usados como instrumentos de proteção contra as variações do dólar.
Os agentes enxergam que essa stratégia é uma forma de o BC oferecer saída para quem carrega amplas posições compradas (apostando na alta) em dólar, sem provocar pressão extra de queda para a moeda. Ao mesmo tempo, o BC aproveita a chance para reduzir o estoque de swap, que representa um custo fiscal relevante.
O que não está claro para o mercado, porém, é se essa atuação configura uma nova política ou trata-se de uma ação pontual, com objetivo de atender a uma necessidade específica de agentes posicionados na moeda americana e que tiveram perdas com a recente valorização do real. Há dúvidas também se a oferta de swaps reversos representa um reforço à estratégia de aproveitar o cenário externo para reduzir posições em derivativos cambiais ou se o BC pretende atuar para limitar uma apreciação rápida do câmbio - preocupado com os efeitos do dólar fraco sobre o ajuste da conta corrente.
Ao anunciar que ofertará hoje os 14.500 contratos de swap cambial reverso que não foram colocados no leilão de ontem, a autoridade monetária reforça a disposição em retirar US$ 1 bilhão do mercado. A ação, no entanto, ainda deixa dúvidas se o BC manterá essas ofertas paralelas à rolagem parcial dos contratos a vencer e acelerará a redução desse estoque que soma US$ 108,113 bilhões.
O BC reduziu o volume de rolagem dos swaps cambiais tradicionais. Se mantiver o mesmo ritmo, vai substituir 75,31% do lote de US$ 10,092 bilhões que vence em abril.
Ontem, o dólar subiu 0,87% e fechou a R$ 3,61, após negociar a R$ 3,6479 na máxima do dia.
A moeda americana chegou a reduzir a alta após o BC ter vendido apenas 5.500 contratos de um volume de 20 mil contratos de swap cambial reverso ofertados no leilão. Segundo o especialista em câmbio da Icap, Italo Abucater, o BC provavelmente não colocou todo o lote porque não ofereceu um prêmio interessante. "Fica difícil decifrar se o BC quer recomprar estoque ou se está querendo conter uma alta exagerada do real."
Para Rogério Braga, sócio e gestor da Quantitas, o que surpreendeu foi o fato de o BC anunciar a operação de swap cambial reverso sem interromper as rolagens dos contratos de swap tradicionais que estão vencendo, o que reforçaria a leitura de que a ação poderia ser provisória. "Talvez o BC tenha percebido que há algum 'player' que estava posicionado em contratos de swap cambial [tradicional] que não iriam vencer neste mês e quis atender a essa demanda."
Segundo Abucater, o fato de o início dos contratos ofertados ontem ser para 1º de abril (operação a termo) pode ter dificultado a colocação do lote, uma vez que há muita incerteza e volatilidade no câmbio em função do cenário político.
Na operação que será realizada hoje, o BC alterou a data do início dos contratos de swap cambial reverso para 23 de março e vencimento em 1º de julho de 2016, o que poderá ter um efeito maior no câmbio à vista, lembra um gestor.
O BC não fazia um leilão de swap cambial reverso desde março de 2013. Naquela época, o dólar valia menos de R$ 2, e o Fed ainda não havia indicado o fim dos estímulos monetários à economia americana.
Nas mesas de operações, comenta-se que investidores institucionais locais têm se desfeito posições compradas em dólar via derivativos. Na semana passada, esses agentes venderam, em termos líquidos, US$ 2,3 bilhões em contratos futuros de dólar e cupom cambial. No ano, a venda de dólar alcança US$ 5,6 bilhões.
Para o economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Alves Melo, o uso dos swaps cambiais reversos indica que o BC está disposto a aproveitar o atual momento de alívio do dólar para acelerar a redução de suas posições cambiais e suavizar o impacto dessas operações nas contas públicas.
A venda de swap reverso provoca um efeito contábil de redução do estoque de swaps cambiais tradicionais. Em 2015, o ajuste dos swaps cambiais vendidos pelo BC gerou prejuízo de R$ 89,66 bilhões, impactando diretamente a conta de juros nominais, que saltou de R$ 311,38 bilhões em 2014 para R$ 501,79 bilhões. Os juros nominais apropriados entram na conta do resultado nominal, indicador monitorado pelas agências de classificação de risco.
Segundo Melo, o BC está aproveitando para desmontar o estoque de swaps em um momento em que o viés do dólar tem sido de queda tanto pelo cenário externo quanto pelas notícias políticas domésticas. Mas ele também considera possível que o BC esteja monitorando o nível do câmbio. De acordo com ele, a R$ 3,60 "pode ser" que o dólar já não "ajude tanto" no ajuste das transações correntes, o que ficou notório no ano passado.
Na visão do operador de câmbio da Hencorp Commcor Cleber Alessie, o foco do BC ao usar o swap reverso é controlar a volatilidade cambial. "O dólar caiu muito em pouco tempo, e isso também é reflexo de mais volatilidade."
A volatilidade histórica de 14 dias do dólar comercial subiu ontem para 25,5% ao ano, maior nível desde outubro do ano passado.
De acordo com Alessie, o mais provável é que o BC mantenha reduzida a oferta de swaps para rolagem e, de acordo com as condições de mercado, acelere o desmonte do estoque desses contratos via swaps reversos. "Acho que o fato de o BC não ter zerado a rolagem mostra que ele [BC] ainda está tateando o mercado e basicamente aproveitando janelas de oportunidade para diminuir o estoque."
A leitura de que o BC pretende limitar uma valorização rápida do câmbio sustentou a alta dos juros futuros de curto prazo. A percepção é que isso reduz o espaço para uma antecipação do corte da Selic neste ano.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2017 subiu de 13,76% para 13,78%. "Se o BC não aumentasse a atuação no câmbio, o real poderia se apreciar mais rápido, o que seria um incentivo a mais para o BC cortar juros ", afirma Rogério Braga, da Quantitas.
Por enquanto, a mediana das projeções para a Selic neste ano na pesquisa Focus continua apontando para estabilidade da taxa básica de juros em 14,25%.
Já os juros futuros embutem a probabilidade de uma queda de 0,74 ponto até o fim de 2016.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/financas/4492152/bc-mais-atuante-no-cambio-traz-duvidas-sobre-sua-estrategia

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