sexta-feira, 11 de março de 2016

Brasil paga mais caro para captar US$ 1,5 bi no mercado externo

Depois de um ano e meio fora do mercado global de dívida, o governo brasileiro voltou ontem a fazer uma emissão externa de bônus. A República captou US$ 1,5 bilhão em bônus com vencimento em dez anos, a uma taxa considerada boa, diante da recente perda do grau de investimento do Brasil pelos critérios das três principais agências de risco. Os papéis pagarão taxa de retorno ("yield") de 6,125% ao ano. Trata-se, porém, do custo mais alto desde janeiro de 2009.
O sucesso da emissão do governo poderá abrir espaço para que grandes empresas brasileiras também voltem ao mercado nos próximos dias e semanas, segundo executivos de bancos ouvidos pelo Valor. Algumas instituições financeiras já procuram companhias para ver se há interesse em captar.
A oportunidade de fazer a operação se abriu de forma inesperada. Nas últimas semanas, os mercados globais experimentaram uma virada em relação ao pessimismo que marcou o início de 2016 e os investidores passaram a demonstrar apetite renovado por risco. Ironicamente, o Tesouro também acabou se aproveitando de uma melhora da percepção de risco do país a partir da leitura de que cresceram as chances de afastamento da presidente Dilma Rousseff.
A decisão de emitir os bônus foi tomada pelo Tesouro na terça-feira e a escolha da data teve também como objetivo se antecipar à aguardada emissão soberana da vizinha Argentina, que deve movimentar US$ 12 bilhões. Além disso, o momento da operação aproveitou a melhora no custo do Credit Default Swap (CDS, uma espécie de seguro contra calote) do Brasil, com prazo de cinco anos, que recuou oito pontos e foi para 393 pontos, rompendo a barreira dos 400 pontos, segundo a Markit.
Inicialmente, o yield pretendido na captação era de 6,5% e, com essa taxa, houve demanda de US$ 6 bilhões. Para o Tesouro, porém, era mais importante estabelecer uma taxa mais baixa para ser usada como parâmetro de novas emissões da República e de empresas, do que levantar um volume maior. Assim, optou-se por reduzir a taxa aos investidores, o que levou à retirada de algumas ordens de compra.
O governo brasileiro estava acompanhando diariamente as condições de mercado e percebeu no último mês que o yield dos bônus de referência do Brasil em dólares ("benchmark bonds") recuaram e atingiram os níveis de outubro e novembro, de acordo com Max Volkov, responsável por mercado de capital de dívida para América Latina do Bank of America Merrill Lynch (BofA), banco que estruturou a operação ao lado do J.P. Morgan. Os indicadores mostravam que, apesar dos recentes cortes de rating, o mercado começou a olhar para a frente e esperar um cenário melhor para a economia do país, afirma.
"A República decidiu rapidamente captar nessa ótima janela e demonstrou que tem acesso ao mercado a um bom custo financeiro, com demanda para seus papéis, e que há espaço para outros emissores nas próximas semanas", diz Volkov. O executivo afirma ainda que mais de 200 investidores fizeram ordem de compra para os bônus, incluindo todas as grandes instituições globais. A expectativa é que companhias brasileiras sigam o Tesouro e captem no mercado global.
A última emissão soberana foi em setembro de 2014, com reabertura do título de referência ("benchmark") de dez anos em dólar, o bônus Global 2025, no valor de US$ 1,05 bilhão. Na ocasião, os papéis saíram com yield de 3,888%. Após essa emissão, o Brasil perdeu o grau de investimento pelas principais agências de classificação de risco. A primeira delas foi a Standard & Poor's, com o rebaixamento em setembro do ano passado. A decisão foi seguida pela Fitch, que cortou o rating em dezembro, e pela Moody's, em fevereiro.
O Tesouro escolheu um ótimo momento e os investidores internacionais estão mais receptivos para papéis de economias emergentes, diz Cid Oliveira, diretor de renda fixa da XP Advisory, braço de administração de fortunas da XP Gestão. "Tivemos nas últimas semanas uma virada no mercado de commodities e alguns gestores aumentando o apetite pelos mercados emergentes. Com isso, o Tesouro resolveu testar o mercado", afirma o especialista.
Os estímulos anunciados ontem pelo Banco Central Europeu (BCE) também contribuíram para a composição do cenário. A instituição europeia cortou as taxas de empréstimo e de refinanciamento e também reduziu a taxa de depósito. Além disso, expandiu seu programa de compra de ativos para incluir dívida corporativa. "Com o anúncio do BCE, vemos que cada vez menos o investidor deve ter retorno positivo em posições seguras. Com isso, vemos tentativas de aumentar a escala de risco para se ter maior remuneração no capital", diz Oliveira, da XP. (Colaborou Edna Simão, de Brasília)

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