Sob clima de tensão e de protestos contra o pré-candidato Donald
Trump, os Estados Unidos realizam hoje a terceira terça-feira seguida de
prévias partidárias em vários Estados com vistas à eleição presidencial
de novembro próximo. E esta pode ser decisiva para a disputa no Partido
Republicano.
Se vencer as prévias em Ohio e na Flórida, Trump terá o caminho
aberto para obter o número mínimo de delegados necessários, 1.237, para
ser confirmado como o candidato do partido na convenção republicano, em
julho.
A tendência inicial é que ele ganhe na Flórida, onde está com 43%, na
média das pesquisas, contra 26% do senador Marco Rubio, que é daquele
Estado. Já em Ohio, Trump está em empate técnico com o governador local,
John Kasich. O empresário tem 34,3%, na média das pesquisas, contra 38%
do governador.
Por isso, os membros do Partido Republicano que querem barrar Trump
estão dando apoio maciço a Kasich. John Boehner, ex-presidente da Câmara
dos Deputados, aderiu à campanha do governador, e Mitt Romney, que foi
candidato do partido à Presidência nas últimas eleições, esteve num ato
de apoio a ele. Até Rubio pediu aos eleitores republicanos de Ohio que
votem em Kasich.
Caso não consiga vencer nos dois Estados, será mais difícil para
Trump atingir a cota de 1.237 delegados. Com isso, o partido caminharia
para uma convenção dividida. Se ninguém atingir a cota, os delegados
poderão fazer uma nova votação na convenção e alguns Estados poderão
liberá-los para votar no candidato que acharem melhor. Nessa hipótese,
Trump pode perder a candidatura, mesmo tendo conquistado a maioria dos
votos dos eleitores republicanos nas prévias.
Nos 25 Estados em que foram feitas votações até agora, o empresário
venceu em 15 e conquistou 460 delegados, contra 369 do senador Ted Cruz
(Texas), que tem sete vitórias, 163 de Rubio, com três vitórias, e 63 de
Kasich, que não ganhou em nenhum Estado.
A Flórida dará 99 delegados ao vencedor e Ohio dará 66. Nesta nova
Superterça também haverá prévias na Carolina do Norte (72 delegados),
Missouri (52), Illinois (69) e nas Ilhas Marianas do Norte (9). Apenas
na Carolina do Norte e no Missouri, o vencedor não leva todos os
delegados. No primeiro Estado, os delegados são distribuídos
proporcionalmente à votação; no segundo, o vencedor leva a maioria.
"Parece que Trump vai vencer na Flórida e isso fará com que Rubio não
seja mais um candidato viável", afirmou o professor Allan Lichtman, da
American University, de Washington. O mesmo acontecerá com Kasich,
segundo o professor, se ele perder em Ohio. Já se Kasich vencer em seu
Estado, seria a sua única vitória até aqui.
Por isso, Lichtman prevê uma disputa entre Trump e Cruz dentro do
partido após essa terça. "Cruz é repugnante para a maioria das grandes
figuras republicanas, mas eles estão tampando o nariz e vão apoiá-lo
contra Trump", disse o professor, ressaltando que o establishment do
partido não aprova o empresário, pois o considera "incontrolável e
imprevisível". "Eles não têm ideia de como seria a sua Presidência."
As propostas de Trump de cancelar acordos comerciais do país, de
aumentar o militarismo americano, as suas críticas a mexicanos e
muçulmanos e a sua hesitação em condenar o racismo estão levando à
realização de protestos em seus comícios. Alguns foram interrompidos e
outros cancelados por causa de ativistas. Um ativista quase subiu no
palco onde estava o empresário, em Ohio, mas foi contido por agentes do
serviço secreto.
"Eu queria tirar o microfone dele e falar que ele é racista",
justificou Thomas Dimassino, manifestante expulso do comício de Ohio.
"Nós protestamos contra a cultura que ele leva aos seus comícios, com
bandeiras confederadas [representando Estados do Sul que eram a favor da
escravidão na década de 1860], e que nos ameaça", disse Jaymal Green,
ativista negro que esteve na mobilização em Chicago que interrompeu o
comício do empresário. "Estou encorajando pessoas em outras cidades a
protestar contra Trump. Ele é contra hispânicos e muçulmanos. Ele tem
apoiadores racistas", completou.
Os democratas acusam Trump de incitar a violência em seus comícios.
"Ele é um mentiroso patológico, não para de insultar as pessoas e está
dizendo que, se você bater em alguém, está tudo bem" disse o senador
Bernie Sanders (de Vermont), pré-candidato democrata. "Ele é um
incendiário politico", afirmou a ex-secretária de Estado Hillary
Clinton.
Trump negou responsabilidade pela violência, mas, num comício,
respondeu que teria acertado um soco no manifestante que tentou invadir o
seu palanque. O empresário também disse estar disposto a pagar pelas
despesas legais de um sujeito com chapéu de cowboy que deu um soco num
ativista negro que protestou e foi retirado de um comício. Ele ainda
ironizou os democratas. "Hillary e Sanders não têm multidões inspiradas.
Eles gostariam de ter a excitação dos meus comícios, mas não têm."
Na disputa democrata, Hillary está com 766 delegados, contra 551 de
Sanders, e haverá prévias em cinco Estados hoje, que vão distribuir mais
792 delegados. Hillary lidera, na média das pesquisas, em Ohio, na
Flórida, na Carolina do Norte e está em empate técnico em Illinois. Mas,
como essas prévias não serão no sistema em que o vencedor leva todos os
delegados, a disputa com Sanders poderá se estender mais um pouco.
De todo o modo, Hillary continua favorita. Ela deverá contar ainda
com o apoio de 465 superdelegados - entre governadores, congressistas e
membros honorários democratas - contra 25 de Sanders. Isso lhe dá uma
vantagem de 1.231 delegados contra 576 do senador. São necessários 2383
delegados para obter a indicação do partido.
"Eu sou a única candidata que teve mais votos que Trump", comemorou
Hillary, dizendo ter obtido 600 mil votos a mais nas primárias até aqui.
"Eu ainda nem comecei com ela", retrucou o empresário.
Leia mais em: http://www.valor.com.br/internacional/4481118/nova-superterca-pode-dar-vantagem-decisiva-trump
Nenhum comentário:
Postar um comentário