quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Bancos desaceleram captação em meio a cenário de crédito fraco

Sem perspectiva de uma retomada do crédito nos próximos anos, os bancos brasileiros pisaram no freio na captação de recursos no mercado local. Houve também uma mudança na composição do funding, com um ganho de velocidade da emissão de letras financeiras, instrumento voltado para investidores institucionais, que conta com um prazo mínimo de dois anos. Diante da fraca demanda por crédito e do aperto no orçamento das famílias, a aposta das instituições financeiras é que a tendência se repita no ano que vem.
Ao todo, considerando os diversos tipos de instrumentos, o saldo dos recursos captados pelos bancos no país cresceu apenas R$ 25 bilhões nos primeiros nove meses de 2015, com base nos balanços mais recentes das instituições e dados do Banco Central, BM&FBovespa e Cetip. É uma fração do que foi captado em todo o ano passado, quando o funding local aumentou em R$ 275 bilhões. Como grande parte desse estoque é valorizado a uma taxa equivalente à Selic, na prática os bancos mais devolveram do que levantaram dinheiro novo com os clientes.
A conta inclui desde recursos obtidos com certificados de depósitos bancários (CDB) e poupança até as operações compromissadas, depósitos judiciais e letras de crédito e financeira. Todo esse universo de instrumentos totaliza um estoque próximo de R$ 2,2 trilhões em recursos captados de clientes no país, já descontada a parcela que fica retida no BC - o recolhimento compulsório. O funding total, incluindo emissões externas, é da ordem de R$ 4 trilhões.
A redução das captações é reflexo direto do menor apetite dos bancos para emprestar. "Como o crédito não cresce, parte dos recursos dos clientes é direcionada para fundos de investimento", afirma o executivo de um grande banco de varejo. A demanda de investidores institucionais, incluindo as gestoras de fundos que pertencem aos próprios bancos, pelas letras financeiras, tem colaborado para o crescimento mais rápido desses papéis mesmo em um cenário de desaceleração das captações.
Em novembro, o saldo de letras financeiras era de R$ 421 bilhões, um aumento de 20,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados da Anbima, associação que representa as instituições que atuam no mercado de capitais.
Ao mesmo tempo, fontes mais tradicionais de dinheiro para os bancos têm perdido recursos, uma vez que o aperto crescente no orçamento das famílias diminui a capacidade de poupar. A subida da taxa básica de juros (Selic) também torna menos atraente o rendimento dessas aplicações, contribuindo para aumentar os resgates.
É o caso da caderneta de poupança, cujo saldo apresenta redução de 3% até novembro, depois de acumular resgates de R$ 58 bilhões durante o ano. A mesma tendência ocorre com os certificados de depósito bancário (CDB), cujo estoque também cai 3% até novembro. Mas o maior impacto da estratégia dos bancos de diminuir a captação no varejo ocorreu nos depósitos à vista (o dinheiro que fica na conta corrente), que tiveram uma redução de 22% no saldo desde o fim do ano passado.
"O crescimento do crédito no ano que vem vai ser bem reduzido, então não há necessidade de funding. Ao mesmo tempo, os bancos têm se mantido bastante líquidos", diz Alexandre Albuquerque, analista da agência de classificação de risco Moody's. Para ele, o crescimento da letra financeira é uma forma de os bancos alongarem o prazo médio de suas captações, além de acabar reduzindo a participação de fontes de varejo na captação em prol de investidores institucionais. Nas contas da Moody's, a participação de instrumentos de captação de varejo no funding dos bancos recuou de 68% em 2011 para 61% em 2015.
"Há uma relação entre o alongamento de prazo da captação e a migração de recursos para fundos de investimento", afirma. Segundo a Anbima, o patrimônio dos fundos de investimento do país aumentou em R$ 283 bilhões até novembro - bem acima da captação bancária.
Na visão de Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil, tanto a captação via CDB como pela poupança devem apresentar um desempenho um pouco melhor em 2016. "Houve alguma recuperação na demanda pelo CDB, em especial por quem está buscando uma aplicação com liquidez imediata, em caso de imprevistos", afirma. Neste ano, o Banco Central (BC) ampliou os prazos mínimos de resgate das letras de crédito, o que acabou direcionando para o CDB quem queria investir sem abrir mão de liquidez, diz.
Mesmo na poupança o executivo vê a possibilidade de uma modesta recuperação. "É possível que no ano que vem até a captação líquida da caderneta cresça um pouco", diz. "Desde maio deste ano temos tentado aumentar a captação via poupança, com algum sucesso."

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