Sem perspectiva de uma retomada do crédito nos próximos anos, os
bancos brasileiros pisaram no freio na captação de recursos no mercado
local. Houve também uma mudança na composição do funding, com um ganho
de velocidade da emissão de letras financeiras, instrumento voltado para
investidores institucionais, que conta com um prazo mínimo de dois
anos. Diante da fraca demanda por crédito e do aperto no orçamento das
famílias, a aposta das instituições financeiras é que a tendência se
repita no ano que vem.
Ao todo, considerando os diversos tipos de instrumentos, o saldo dos
recursos captados pelos bancos no país cresceu apenas R$ 25 bilhões nos
primeiros nove meses de 2015, com base nos balanços mais recentes das
instituições e dados do Banco Central, BM&FBovespa e Cetip. É uma
fração do que foi captado em todo o ano passado, quando o funding local
aumentou em R$ 275 bilhões. Como grande parte desse estoque é valorizado
a uma taxa equivalente à Selic, na prática os bancos mais devolveram do
que levantaram dinheiro novo com os clientes.
A conta inclui desde recursos obtidos com certificados de depósitos
bancários (CDB) e poupança até as operações compromissadas, depósitos
judiciais e letras de crédito e financeira. Todo esse universo de
instrumentos totaliza um estoque próximo de R$ 2,2 trilhões em recursos
captados de clientes no país, já descontada a parcela que fica retida no
BC - o recolhimento compulsório. O funding total, incluindo emissões
externas, é da ordem de R$ 4 trilhões.
A redução das captações é reflexo direto do menor apetite dos bancos
para emprestar. "Como o crédito não cresce, parte dos recursos dos
clientes é direcionada para fundos de investimento", afirma o executivo
de um grande banco de varejo. A demanda de investidores institucionais,
incluindo as gestoras de fundos que pertencem aos próprios bancos, pelas
letras financeiras, tem colaborado para o crescimento mais rápido
desses papéis mesmo em um cenário de desaceleração das captações.
Em novembro, o saldo de letras financeiras era de R$ 421 bilhões, um
aumento de 20,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados
da Anbima, associação que representa as instituições que atuam no
mercado de capitais.
Ao mesmo tempo, fontes mais tradicionais de dinheiro para os bancos
têm perdido recursos, uma vez que o aperto crescente no orçamento das
famílias diminui a capacidade de poupar. A subida da taxa básica de
juros (Selic) também torna menos atraente o rendimento dessas
aplicações, contribuindo para aumentar os resgates.
É o caso da caderneta de poupança, cujo saldo apresenta redução de 3%
até novembro, depois de acumular resgates de R$ 58 bilhões durante o
ano. A mesma tendência ocorre com os certificados de depósito bancário
(CDB), cujo estoque também cai 3% até novembro. Mas o maior impacto da
estratégia dos bancos de diminuir a captação no varejo ocorreu nos
depósitos à vista (o dinheiro que fica na conta corrente), que tiveram
uma redução de 22% no saldo desde o fim do ano passado.
"O crescimento do crédito no ano que vem vai ser bem reduzido, então
não há necessidade de funding. Ao mesmo tempo, os bancos têm se mantido
bastante líquidos", diz Alexandre Albuquerque, analista da agência de
classificação de risco Moody's. Para ele, o crescimento da letra
financeira é uma forma de os bancos alongarem o prazo médio de suas
captações, além de acabar reduzindo a participação de fontes de varejo
na captação em prol de investidores institucionais. Nas contas da
Moody's, a participação de instrumentos de captação de varejo no funding
dos bancos recuou de 68% em 2011 para 61% em 2015.
"Há uma relação entre o alongamento de prazo da captação e a migração
de recursos para fundos de investimento", afirma. Segundo a Anbima, o
patrimônio dos fundos de investimento do país aumentou em R$ 283 bilhões
até novembro - bem acima da captação bancária.
Na visão de Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos
do Banco do Brasil, tanto a captação via CDB como pela poupança devem
apresentar um desempenho um pouco melhor em 2016. "Houve alguma
recuperação na demanda pelo CDB, em especial por quem está buscando uma
aplicação com liquidez imediata, em caso de imprevistos", afirma. Neste
ano, o Banco Central (BC) ampliou os prazos mínimos de resgate das
letras de crédito, o que acabou direcionando para o CDB quem queria
investir sem abrir mão de liquidez, diz.
Mesmo na poupança o executivo vê a possibilidade de uma modesta
recuperação. "É possível que no ano que vem até a captação líquida da
caderneta cresça um pouco", diz. "Desde maio deste ano temos tentado
aumentar a captação via poupança, com algum sucesso."
Leia mais em: http://www.valor.com.br/financas/4373872/bancos-desaceleram-captacao-em-meio-cenario-de-credito-fraco
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