Em meio à retração da economia, o grupo Votorantim decidiu fazer uma
investida agressiva fora de seu negócio principal. O conglomerado, que
fatura quase R$ 30 bilhões por ano, graças principalmente a seus braços
de metais, cimentos e celulose, aposta na sua experiência na gestão de
energia, um de seus principais insumos, para crescer.
Com a indústria em queda e os preços da eletricidade cada vez mais
altos, a estratégia é fortalecer a Votorantim Energia (VE). Criada em
1996 para gerir os ativos próprios de geração, a empresa passará agora a
investir em projetos para abastecer terceiros.
A meta é chegar a 1 gigawatt (GW) de capacidade fora da autogeração
até 2023 e atingir um resultado antes de juros, impostos, depreciação e
amortização (Ebitda) de R$ 1 bilhão no mesmo período - hoje, o lucro
operacional da VE, considerando apenas a comercialização, gira entre R$
100 milhões e R$ 150 milhões.
"Os negócios do grupo Votorantim são bons, mas são cíclicos. Os
acionistas viram a necessidade de ter um negócio mais constante que
garantisse mais estabilidade ao fluxo de caixa", afirma Fábio Zanfelice,
que assumiu a presidência da VE há quatro meses, após quase 14 anos de
carreira na CPFL, dos quais os últimos dois liderando a comercializadora
do grupo paulista.
O executivo veio com a missão de fazer o braço de energia olhar não
apenas para dentro do grupo Votorantim, mas para todo o mercado, além de
capturar as possíveis sinergias de seu parque gerador de 2,6 mil MW -
todos sob o guarda-chuva das empresas industriais. "É uma reinvenção do
modelo de negócio. Vamos aproveitar a expertise que temos na gestão de
grandes volumes de energia", ressalta. Hoje, o consumo próprio da
Votorantim soma 1,8 mil MW médios, equivalente ao consumo do Estado da
Bahia.
A empreitada teve início com a entrada no setor de geração eólica,
com um complexo no Piauí com potência instalada de 206 MW, que demandará
R$ 1,1 bilhão em investimentos. A companhia tem ainda a opção de compra
para construir mais dois complexos na região de mesmo tamanho, o que
alçaria sua capacidade a cerca de 600 MW.
O radar está voltado, inicialmente, para energia eólica e pequenas
centrais hidrelétricas (PCHs) - neste último nicho, a companhia já
avalia potencial de 300 MW, espalhadas por cerca de 15 projetos, conta
Zanfelice. "Esses projetos estão em fase de estudo, são preliminares.
Ainda não temos outorga", acrescenta.
O investimento em energia solar também é uma possibilidade, mas
apenas mais à frente. A ordem é evitar riscos, como manda a cartilha
mais conservadora de investimentos do grupo Votorantim. "Queremos ver
primeiro como esse mercado vai se desenvolver, não queremos assumir
riscos", pondera.
A prioridade, afirma o executivo, é na construção de projetos a
partir do zero. Mas, apesar disso, a VE não descarta a compra de
projetos. Nessa frente, as atenções estão voltadas principalmente para
compra de participações em usinas nas quais as controladas do grupo já
estão presentes por meio de consórcios e podem exercer direito de
preferência no caso de eventual saída de sócios. Nesse caso, sob o
controle integral da Votorantim, as unidades podem ser repassadas para a
VE, na forma de aumento de capital, diz Zanfelice.
Um exemplo é a hidrelétrica de Igarapava, em Minas Gerais, com
capacidade de 210 MW, onde a Votorantim Metais tem 24% do capital. A CSN
colocou à venda sua fatia de 18%. Questionada, a informação foi que "a
Votorantim Energia segue atenta as oportunidades".
A empresa pretende focar seus contratos no mercado livre, modalidade
em que são firmados contratos bilaterais entre geradores e clientes, sem
a intermedição da distribuidora. "Com os fortes reajustes da energia no
mercado regulado, tem havido uma grande migração de clientes para o
livre e essa tendência deve continuar nos próximos anos", aposta o
executivo.
Apesar disso, a VE vendeu, quase toda a energia que será gerada pelo
seu primeiro complexo eólico em um leilão realizado em agosto voltado ao
mercado regulado, voltado para as distribuidoras. Foram comercializados
93 MW médios, dos 104 MW médios de garantia física do projeto.
O movimento, no entanto, foi uma questão de oportunidade. "Com a
queda no consumo de energia, os preços no mercado de curto prazo estão
muito voláteis. E preferimos ter um contrato de 20 anos garantido para
erguer nosso primeiro projeto com segurança", explica.
Cerca de 10 MW médios foram "poupados" para serem voltados a
investidores interessados na autoprodução - modelo que pode ser
replicado em outros projetos. "Temos muitos interessados. Por enquanto, a
demanda dos clientes é maior que a oferta", garante. Mas, a empresa
pode voltar aos leilões e alguns projetos eólicos já estão cadastrados o
A-5, previsto para janeiro. Tudo dependerá do preço-teto estabelecido
pelo governo.
Apesar de o volume de recursos necessário para atingir a meta de 1
gigawatt ser elevada - se mantido o investimento por MW do complexo do
Piauí, superariam a cifra de R$ 5 bilhões -, a VE descarta sócios ou uma
abertura de capital por enquanto. "Queremos criar musculatura antes de
ir a mercado ou trazer um sócio. Hoje, o foco é 100% o grupo
Votorantim", garante.
Além de investir na geração, Zanfelice quer também ampliar o escopo
no negócio de comercialização. Nesse nicho desde 2013, a VE já se tornou
a terceira maior comercializadora do país, com volume de 350 MW médios
comercializados e uma carteira de 100 clientes. No médio prazo, a ideia é
partir também para uma oferta mais ampla de serviços, especialmente em
eficiência energética.
Leia mais em: http://www.valor.com.br/empresas/4261570/votorantim-investe-pesado-em-geracao
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