quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Grandes fusões testam mercado de bônus

Os diretores financeiros de Wall Street estão prestes a descobrir por quanto tempo ainda a farra da dívida corporativa, instaurada há sete anos, poderá durar.
Com duas megafusões anunciadas nos últimos dois dias, os investidores em títulos serão solicitados a emprestar nada menos que US$ 120 bilhões para financiar as combinações entre as cervejarias Anheuser-Bush InBev e SABMiller e entre as gigantes do setor tecnológico Dell e EMC. Quando concretizadas, as transações deverão, respectivamente, configurar a maior venda de bônus corporativos de todos os tempos e uma oferta recorde da parte de um emissor com classificação de alto risco ("junk").
O segredo será encontrar ampla demanda por esses negócios - juntamente com pelo menos US$ 130 bilhões em bônus e em empréstimos no prelo - em um mercado acossado recentemente por um forte caso indigesto.
"Se tivermos de engolir um ou dois desses [negócios] por mês, o mercado tende a suportar", disse Andy Toburen, gestor de empréstimos de curto prazo de alto rendimento da Chartwell Investment Partners, que administra US$ 8,1 bilhões em ativos. "Se ocorrerem repentinamente, acabará sendo demais."
As empresas têm se apressado para se beneficiar dos baixos custos do crédito nos Estados Unidos, antes que o Federal Reserve (o BC americano) eleve as taxas de juros a partir do zero atual pela primeira vez desde a crise financeira de 2008. Foi vendido quase US$ 1,1 trilhão em bônus com grau de investimento neste ano, o que faz com que 2015 reúna todas as condições para se tornar um ano recorde.
Mais recentemente, no entanto, surgiram alguns pontos de tensão. Apenas um emissor corporativo de bônus com classificação de alto risco ("junk") conseguiu vender papéis neste mês. Esse ritmo, se mantido, transformará este mês no outubro mais lento já registrado, segundo dados reunidos pela Bloomberg. O estancamento ocorre após um terceiro trimestre que impôs aos investidores em bônus de alto rendimento um prejuízo de 4,9%, constituindo-se no pior período de três meses desde 2011, segundo dados do índice do Bank of America Merrill Lynch.
A turbulência está fazendo com que os baixos custos do dinheiro percam força rapidamente. Para manter em carteira títulos de empresas - desde os de maior risco até os dotados de sólido perfil de crédito -, o investidor médio exigiu neste mês um rendimento adicional de não menos que 2,75 pontos percentuais, o patamar mais elevado dos últimos três anos.
Os compradores de bônus têm se mostrado especialmente preocupados com os efeitos da queda dos preços das commodities, que deixou as mineradoras e as petrolíferas em dificuldades para administrar as quantidades recordes de dívida que assumiram para custear a produção.
Os investidores resgataram líquidos US$ 8,9 bilhões dos fundos americanos de alto rendimento neste ano, enquanto que os fundos mútuos e os fundos de índice (negociados em bolsa) americanos que compram empréstimos alavancados computaram cerca de US$ 11,7 bilhões em retiradas líquidas, segundo a empresa de pesquisa Lipper. Por outro lado, a criação de obrigações garantidas por outros títulos e valores, os maiores compradores de empréstimos de alto rendimento, desacelerou.
Todos esses fatores começam a desestabilizar as operações com títulos de maior risco. A Fullbeauty Brands, uma varejista de confecções para usuários de tamanhos grandes, está oferecendo um dos maiores descontos deste ano para concluir sua transação de captação de empréstimos de US$ 1,2 bilhão destinada a financiar sua compra pela Apax Partners, segundo fontes a par do negócio.
A empresa canadense de alimentos SunOpta e a fabricante de peças de maquinário NN cancelaram operações com bônus neste mês, após encontrar dificuldades para atrair o interesse dos investidores, o que significa que agora dependerão de seus bancos para obter financiamento complementar para respaldar aquisições.
A Dell, classificada como "junk", está captando nada menos que US$ 49,5 bilhões para financiar sua aquisição da EMC, o maior negócio do setor tecnológico de todos os tempos, segundo documento encaminhado aos reguladores na terça-feira. A AB InBev está operando com cerca de dez bancos para providenciar não menos que US$ 70 bilhões em financiamento para sua tomada de controle da SABMiller, de US$ 106 bilhões.

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