Investidores estrangeiros têm reduzido suas posições em títulos
soberanos brasileiros desde o rebaixamento da classificação de risco de
crédito do Brasil pela Standard & Poor's, em 9 de setembro. A
despeito de a desvalorização do real e o aumento do retorno desses
papéis aumentarem o potencial de ganhos com os ativos, os gestores se
mantêm cautelosos em ampliar a alocação. O grande problema, segundo
eles, é a paralisia do governo no jogo da política, que dificulta o
ajuste fiscal e traz risco de uma nova piora do mercado brasileiro.
Mesmo com as retiradas já observadas, há ainda um volume expressivo
de recursos aplicados em ativos brasileiros, que pode sair caso o país
seja rebaixado por uma segunda agência de rating.
O J.P. Morgan prevê que estejam aplicados em bônus soberanos e
corporativos brasileiros cerca de US$ 20 bilhões, que poderão ser
forçados a sair caso o Brasil tenha um segundo "downgrade" para o nível
"junk" (especulativo). Esse volume se refere a alocações em papéis
brasileiros em índices de renda fixa que aplicam exclusivamente em
ativos com grau de investimento e que servem de "benchmark" para o
mercado.
Já a gestora Ashmore calcula uma saída de até US$ 8 bilhões de bônus
brasileiros, soberanos e corporativos, tomando como base apenas os
quatro principais índices de renda fixa geridos pelo J.P. Morgan e
Barclays. Segundo a Ashmore, a alocação em Brasil nesses quatro índices
somava US$ 16 bilhões, mas estima que boa parte disso já foi retirada.
O banco de investimento Jefferies Group , por exemplo, encerrou a
posição em valor relativo de curto prazo nesses papéis após o aumento
dos spreads da dívida externa brasileira, quando alcançaram níveis
exagerados. Os títulos chegaram a ser negociados com prêmios mais altos
do que os de muitos países com rating mais baixos.
Os investidores também se mostram cautelosos em relação aos títulos
públicos no mercado local. "Não é apenas uma questão de 'valuation'
[valor dos papéis], mas o risco de sofrer mais perdas. Ninguém quer
aumentar as suas posições, a menos que acreditem que o pior já passou em
termos do risco de eventos negativos. Houve uma recuperação dos níveis
descontados, mas os ganhos sustentáveis exigem compromisso político com a
disciplina fiscal", diz Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda
fixa do Jefferies. Segundo ela, há alta probabilidade de um segundo
corte do rating soberano neste ano, inclusive da Moody's, que colocaria a
nota do Brasil em grau especulativo. Isso pode, segundo ela, forçar uma
venda residual por parte de investidores que seguem índices que só
podem ter na carteira papéis com grau de investimento.
Para a Aberdeen, o impacto desse evento seria marginal, nos fundos
com mandatos dedicados a ativos com esse selo. A maioria dos fundos da
gestora, porém, não tem restrição. "A decisão das agências de rating não
tem impacto direto em nossas decisões de investimento, uma vez que
fazemos nossa própria avaliação dos fundamentos soberanos e dos preços",
afirma Viktor Szabo, gestor sênior de investimentos da Aberdeen. No
último mês, a gestora reduziu a exposição no real, avaliando a moeda
como a mais vulnerável entre os ativos brasileiros, mas mantém uma
posição acima da média do mercado nos bônus brasileiros em moeda local e
em dólar.
Leia mais Em: http://www.valor.com.br/financas/4255000/estrangeiro-antecipa-corte-de-nota-e-reduz-posicao-em-bonus
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