segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Estrangeiro antecipa corte de nota e reduz posição em bônus

Investidores estrangeiros têm reduzido suas posições em títulos soberanos brasileiros desde o rebaixamento da classificação de risco de crédito do Brasil pela Standard & Poor's, em 9 de setembro. A despeito de a desvalorização do real e o aumento do retorno desses papéis aumentarem o potencial de ganhos com os ativos, os gestores se mantêm cautelosos em ampliar a alocação. O grande problema, segundo eles, é a paralisia do governo no jogo da política, que dificulta o ajuste fiscal e traz risco de uma nova piora do mercado brasileiro.
Mesmo com as retiradas já observadas, há ainda um volume expressivo de recursos aplicados em ativos brasileiros, que pode sair caso o país seja rebaixado por uma segunda agência de rating.
O J.P. Morgan prevê que estejam aplicados em bônus soberanos e corporativos brasileiros cerca de US$ 20 bilhões, que poderão ser forçados a sair caso o Brasil tenha um segundo "downgrade" para o nível "junk" (especulativo). Esse volume se refere a alocações em papéis brasileiros em índices de renda fixa que aplicam exclusivamente em ativos com grau de investimento e que servem de "benchmark" para o mercado.
Já a gestora Ashmore calcula uma saída de até US$ 8 bilhões de bônus brasileiros, soberanos e corporativos, tomando como base apenas os quatro principais índices de renda fixa geridos pelo J.P. Morgan e Barclays. Segundo a Ashmore, a alocação em Brasil nesses quatro índices somava US$ 16 bilhões, mas estima que boa parte disso já foi retirada.
O banco de investimento Jefferies Group , por exemplo, encerrou a posição em valor relativo de curto prazo nesses papéis após o aumento dos spreads da dívida externa brasileira, quando alcançaram níveis exagerados. Os títulos chegaram a ser negociados com prêmios mais altos do que os de muitos países com rating mais baixos.
Os investidores também se mostram cautelosos em relação aos títulos públicos no mercado local. "Não é apenas uma questão de 'valuation' [valor dos papéis], mas o risco de sofrer mais perdas. Ninguém quer aumentar as suas posições, a menos que acreditem que o pior já passou em termos do risco de eventos negativos. Houve uma recuperação dos níveis descontados, mas os ganhos sustentáveis exigem compromisso político com a disciplina fiscal", diz Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa do Jefferies. Segundo ela, há alta probabilidade de um segundo corte do rating soberano neste ano, inclusive da Moody's, que colocaria a nota do Brasil em grau especulativo. Isso pode, segundo ela, forçar uma venda residual por parte de investidores que seguem índices que só podem ter na carteira papéis com grau de investimento.
Para a Aberdeen, o impacto desse evento seria marginal, nos fundos com mandatos dedicados a ativos com esse selo. A maioria dos fundos da gestora, porém, não tem restrição. "A decisão das agências de rating não tem impacto direto em nossas decisões de investimento, uma vez que fazemos nossa própria avaliação dos fundamentos soberanos e dos preços", afirma Viktor Szabo, gestor sênior de investimentos da Aberdeen. No último mês, a gestora reduziu a exposição no real, avaliando a moeda como a mais vulnerável entre os ativos brasileiros, mas mantém uma posição acima da média do mercado nos bônus brasileiros em moeda local e em dólar.

Leia mais Em: http://www.valor.com.br/financas/4255000/estrangeiro-antecipa-corte-de-nota-e-reduz-posicao-em-bonus

Nenhum comentário:

Postar um comentário