O Brasil não está barato, disse o economista-sênior do Goldman
Sachs, Alberto Ramos, que reside em Nova York, mas esteve recentemente
no País. Para ele, o investidor estrangeiro está vendo com um certo
"otimismo exagerado" o ajuste fiscal que tem sido proposto pelo governo
de Michel Temer, deixando nas costas de um possível "choque de
confiança" o fator que pode por de volta a economia nos trilhos.
Ele ressalta, no entanto, que é difícil saber se esse "choque
de confiança", trazido pela "equipe econômica dos sonhos" montada pelo
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, será o suficiente para por em
movimento um ciclo virtuoso de crescimento econômico, receita e
melhorias na parte fiscal. Por enquanto, fica a dúvida: "Até que ponto o
mercado vai continuar animado? Sem ajuste fiscal, os investidores vão
querer aplicar no País?", questionou, durante palestra realizada neste
mês, em São Paulo, pela Notre DamePara ele, esse "otimismo exagerado" aliado às condições
monetárias acomodatícias no exterior (com a onda dos juros negativos nos
mercados desenvolvidos) colocou o câmbio em um patamar de preocupação.
"O real está ficando sobrevalorizado novamente", disse. Segundo o
economista, o câmbio de equilíbrio para o Brasil está na faixa de R$
3,60 e R$ 4,00. A casa dos R$ 3,30 deveria ser atingida somente quando
as questões fiscais já estivessem endereçadas.
"E esse preço justo não é o justo para a economia. A economia
está em uma depressão. O câmbio hoje deveria estar barato, competitivo.
Quando os ajustes estivessem mais avançados e aparecessem os primeiros
sinais de retomada da economia, aí sim o câmbio deveria se apreciar",
complementou. Segundo ele, isso é fonte de preocupação porque pode
evoluir para a desfuncionalidade que era vista durante os últimos anos
do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em que se tinha um câmbio sobrevalorizado, com uma política monetária muito restritiva e política fiscal muito acomodativa.
As preocupações sobre o atual patamar do câmbio somam-se às projeções
dos próximos meses. Segundo Ramos, não parece que o dólar vai ficar na
casa de R$ 3,30 durante muito tempo. Isso porque ele acredita que, se o
impeachment for aprovado no final de agosto e o ajuste fiscal se provar
mais substancial, a entrada de capital externo será brutal. Se os
fatores convergirem para o caminho mais favorável, a entrada de capital
vai levar o câmbio ainda mais para baixo e isso vai gerar um grande
dilema para a política monetária e cambial, disse. "Vai ser um problema
interessante ar o cambio para baixo e deixar um dilema a politica
monetária e cambial; vai ser um problema interessante para o Banco
Central resolver".
Ajuste fiscal: um fator sobreprecificado pelos estrangeirosPara
ele, o ajuste fiscal está sobreprecificado pelo investidor estrangeiro.
"É extremamente difícil de ser implementado e não dá para saber se o
atual governo vai querer pagar o risco político de promovê-lo. No meu
entender, o que o governo anunciou até agora foi muito pouco", em
referência à meta do teto de gastos e reforma da Previdência.
Segundo o economista, a meta de teto de gastos é uma medida
simples e atrativa por isso, mas é mais fácil de ser proposta do que ser
implementada; já a reforma da Previdência, se for bem feita, vai apenas
estabilizar o déficit previdenciário. "A reforma da Previdência não
mexe em absolutamente nada na dinâmica fiscal nos próximos 3 a 5 anos. É
mínima, mas é necessária, é urgente, só não dá para contar muito com
isso para mexer na situação fiscal", disse.
Com isso, ele acredita sobra um resíduo muito pequeno para
fazer o ajuste fiscal. "Isso só vai funcionar se tivermos muita sorte e a
economia começar a ir muito bem, o que vai promover mais receita; ou se
o governo adotar medidas fiscais de curto prazo e é isso que está
faltando nesse momento", comentou.
Para ele, a interpretação mais benigna do atual momento é
que o governo sabe que precisa fazer mais, mas o momento político não é
o ideal, devendo então esperar a aprovação do impeachment
no fim de agosto e da eleição municipal em outubro. Passadas essas duas
"barreiras", deve-se endereçar questões do ajuste fiscal de curto prazo,
que provavelmente envolverão um certo arrojo nos gastos. "Mas não sei
se é essa a interpretação certa", disse.
Uma interpretação menos benigna disso é que o governo não
vai pagar todo o custo político de fazer o ajuste, endereçando ajustes
de médio prazo, com uma reforma da Previdência e a medida do teto dos
gastos, que é muito boa, mas deixe para o próximo governo os ajustes
mais pesados, porém necessários, disse. Segundo ele, o problema disso é
que o País pode entrar em uma trajetória de 'gradualismo fiscal' e isso
vai levar o Brasil para uma situação ainda mais dramática.
Segundo o economista, a questão é saber qual vai
ser o custo político dessas reformas. "É uma questão política". O
governo poderia aumentar a receita por meio da carga tributária, o
problema é que ela já é elevadíssima no Brasil, então isso terá que ser
resolvido por meio de um ajuste fiscal. "Só depois de cortar um pouco da
expansão que foi vista nos últimos 15 anos que o governo em exercício
terá legitimidade para vir à sociedade e aumentar mais impostos",
comentou.
Leia mais em: http://www.infomoney.com.br/mercados/acoes-e-indices/noticia/5307755/brasil-nao-esta-barato-dolar-deveria-valer-entre-diz-economista
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