O pânico dos mercados no início de 2016 extrapolou a real gravidade
de alguns de seus propulsores, como a desaceleração da China. Ainda
assim, por mexer com a confiança de empresários, consumidores e
investidores, essa turbulência, mesmo que injustificada, pode levar o
Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) a pausar
momentaneamente o ciclo de alta dos juros. Essa é a leitura de James
Sweeney, economista-chefe global do Credit Suisse.
Em uma avaliação da atual conjuntura econômica mundial, Sweeney
afirmou que a reação dos mercados sempre é exagerada e que a economia
chinesa não está perto de um colapso. "Se o pânico alguma vez é
justificado? Os mercados extrapolam os eventos recentes o tempo
inteiro", disse ao Valor. O economista esteve no Brasil para participar de conferência de investimentos do Credit Suisse para a América Latina.
A opinião de Sweeney é que o governo chinês ainda tem muitos
instrumentos que pode usar para suavizar a desaceleração da economia.
Além disso, o novo patamar de crescimento da China - o Credit Suisse
projeta expansão de 6,5% este ano - é muito mais sustentável e sadio no
médio prazo.
A reação dos mercados, contudo, não é ignorável. Sweeney acredita
que, embora o foco do Fed esteja no mercado de trabalho e nas
perspectivas de inflação dos EUA, o país não está ileso à onda de
aversão ao risco nos mercados financeiros globais e a contínua
turbulência pode afetar o ritmo do aperto monetário nos Estados Unidos.
Valor: Este ano começou com grande turbulência nos mercados financeiros. A situação da China justifica esse movimento?
James Sweeney: O ano começou com as pessoas muito
preocupadas com os preços das commodities mais baixos, as implicações
para os mercados de crédito dessa mudança e o que está acontecendo na
China. Acho que o entendimento de que a taxa de crescimento dos
investimentos da China não pode se manter nos níveis que vimos antes de
2011 serviu de gatilho para essa grande mudança nos preços dos ativos.
Valor: Mas a reação dos mercados é proporcional ao tamanho dos problemas?
Sweeney: Quando você põe todos esses fatores juntos,
você pode criar uma série de narrativas que são suficientes para deixar
os mercados financeiros em pânico. Agora, se o pânico alguma vez é
justificado? Essa é uma pergunta boba. Os mercados em geral extrapolam
os eventos recentes e isso nunca é justificável. Eu acredito que há uma
série de razões para o que está acontecendo agora. Mas se sua questão
objetiva for se vimos uma deterioração repentina nas perspectivas
econômicas e de crescimento dos lucros que justifique uma brusca
deterioração nos preços dos ativos, a resposta é não.
Valor: A desaceleração da China deve ser controlada, portanto? As autoridades devem ser capazes de gerenciar a crise?
Sweeney: Não acho que seja provável eles perderem o
controle da crise. Eles têm muitas medidas políticas que podem usar. Mas
houve muita volatilidade no mercado e a China, como qualquer economia,
está sujeita a períodos de aversão ao risco. Eu deixaria claro, contudo,
que apesar de a desaceleração atual da China ser o principal propulsor
das dificuldades do mercado neste começo de ano, o crescimento da China
não parece estar em colapso. O que acontece é que eles estão
desacelerando de taxas de crescimento insustentáveis para algo mais
sustentável e isso criou uma série de riscos de ajustes de curto prazo.
Mas essa não é uma economia que está subitamente se contraindo ou que
tem, por exemplo, problemas significativos no mercado de trabalho.
Valor: Quais medidas políticas devem ser tomadas na China?
Sweeney: Podemos ver mais cortes de impostos como
medidas de estímulo. E em termos de política monetária, há espaço para
reduzir os compulsórios e cortar as taxas de juros. Ao mesmo tempo, a
China está muito focada em reformas e não está tentando criar um grande
estímulo do lado da demanda para crescer. Isso alimentaria muito a
dívida e criaria problemas no futuro. Eles estão tentando encontrar o
equilíbrio correto.
Valor: Como o Fed deve reagir a essa turbulência de mercado?
Sweeney: O Fed quer retirar lentamente as condições
altamente acomodatícias, mas está sujeito à aversão ao risco e é
sensível a eventos globais e aos mercados financeiros. Em um momento de
pânico do mercado e com essas crescentes preocupações com o crescimento,
o Fed provavelmente será sensível e irá pausar [o ciclo de aperto].
Recentemente mudamos nossa visão e agora esperamos uma pausa na reunião
de março, de modo que a próxima alta de juros será em junho. Mas eu
também não ficaria surpreso se eles subissem já em março ou abril se os
mercados se estabilizarem e os dados da economia americana continuarem
fortes. Acho que o Fed quer subir o juro, desde que o mercado de
trabalho continue a se estabilizar e a inflação continue onde está.
Portanto, nós esperamos três altas este ano, mesmo que não comecem até
junho.
Valor: Como as economias emergentes, em especial o Brasil, devem reagir a esse contexto?
Sweeney: O Brasil é sensível às condições globais
por sua vulnerabilidade à oscilação nos preços das commodities, mas como
o comércio exterior do país é pequeno, isso proporciona certa
compensação. A exposição do Brasil a exportações não é tão grande quanto
a de outras economias. Em 2008 e até 2012 durante a recessão europeia
houve grande desaceleração no crescimento global e o Brasil se deu
razoavelmente bem. Acho que o motivo foi que os preços das commodities
estavam altos.
Valor: Qual sua projeção para o crescimento global este ano?
Sweeney: Projetamos crescimento modestamente melhor
este ano, de 2,7% em 2016, após crescimento de 2,5% em 2015. Esperamos
que a fraqueza seja concentrada no primeiro semestre e haja uma melhora
na segunda metade do ano.
Leia mais em: http://www.valor.com.br/financas/4417436/fed-provavelmente-vai-pausar-o-ciclo-de-aperto
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