terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Brasil persiste nos erros que levaram à recessão, diz Oxford Economics

O governo brasileiro persiste nos mesmos erros que levaram à perda do grau de investimento e à pior recessão em um século, diz a Oxford Economics. No relatório “Diagnóstico errado, receita errada”, divulgado nesta terça-feira, a consultoria critica o pacote de crédito de R$ 83 bilhões anunciado na semana passada pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
“Outra rodada de subsídios aos bancos públicos fará pouco para estimular o crescimento, mas certamente causará mais danos às finanças públicas, algo que o Brasil não pode mais se dar ao luxo”, diz o texto, assinado por Marcos Casarin, chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina da Oxford. Ele lembra que o país teve em 2015 um déficit nominal, que inclui os gastos com juros, de 10,3% do PIB, só superado entre os principais emergentes pela Arábia Saudita, cujo rombo é causado pelo tombo dos preços do petróleo.
Para ele, a presidente Dilma Rousseff parece crescentemente inclinada a intervir mais na economia, lembrando que os dias da chamada nova matriz econômica (NME) podem não ter acabado. Segundo ele, a NME substituiu a “bem sucedida trindade de políticas” marcada por austeridade fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante, que vigorou a partir de 1994.
Segundo Casarin, o novo conjunto de políticas, adotado entre 2011 e 2014, consistiu no estímulo à demanda por crédito subsidiado e desonerações tributárias para setores tidos como estratégicos, combinado com intervenção nos mercados de câmbio e de juros. “Os resultados foram decepcionantes: o investimento privado entrou em colapso, a indústria encolheu e o déficit fiscal disparou”, resume Casarin.
Para esconder os custos fiscais dessas políticas, diz ele, o governo começou a usar os balanços dos bancos públicos para bancar os seus gastos e a atrasar o pagamento do Tesouro para essas instituições – as chamadas pedaladas fiscais. “O uso sistemático de contabilidade criativa deu à oposição a base legal para abrir procedimentos de impeachment contra Dilma no fim do ano passado”, aponta Casarin. Para ele, é preocupante quando um país sem dinheiro e com esse histórico anuncia mais estímulos fiscais.
O economista diz que o principal motivo para preocupação é que o funding para as medidas recém divulgadas vêm das mesmas instituições que foram usadas no deslize fiscal recente. Ele lembra que, no fim de dezembro, o Tesouro transferiu R$ 72 bilhões que devia para os bancos públicos e para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Agora, essas instituições usam o dinheiro para aumentar os empréstimos a juros subsidiados para o setor privado. “Para nós, isso não é nada mais do que outro truque contábil”, afirma Casarin.
“Nós achamos que tanto o diagnóstico quanto a receita estão errados. A economia não está em recessão por que os bancos não querem emprestar, mas porque as empresas não veem nenhum motivo para tomar empréstimos”, diz o relatório, acrescentando que, ainda que as medidas funcionem e os financiamentos aumentem, o Tesouro vai ter que cobrir os custos de equalizar os juros com os bancos públicos. Isso implica, para Casarin, “outro aumento para a já insustentável dívida pública”. Nesse cenário, “as autoridades parecem persistir nos mesmos erros que fizeram a economia perder o status de grau de investimento e experimentar a pior recessão em um século”.

Leia mais em: http://www.valor.com.br/brasil/4420464/brasil-persiste-nos-erros-que-levaram-recessao-diz-oxford-economics

Nenhum comentário:

Postar um comentário