Os últimos resultados do IPCA e IGP-M superaram as estimativas, colocando em dúvida as apostas em redução da Selic já no Copom
de julho, o primeiro a ser comandado pelo novo presidente do Banco
Central, Ilan Goldfajn. Mesmo sem abandonar a aposta em um corte até o
fim do ano, o mercado ficou mais cauteloso no curto prazo.
Ilan Goldfajn, que quando era economista-chefe do Itaú previa corte
de juros no 2º semestre, chega ao BC no momento em que surgem sinais de
sobrevida do choque de inflação iniciado em 2015 e que vinha perdendo gás
até o 1º trimestre de 2016. Mesmo atenuada, persiste a maior escalada
de preços observada no país desde a alta de 2002-2003, combatida na
época com juro de até 26,5% por um BC que tinha entre os diretores justamente o presidente que assume nesta quinta-feira.
Por ora, dois fatores impedem os analistas do mercado de ficarem
ainda mais pessimistas com a inflação e os juros. Um é que os índices
mais salgados de maio se devem a uma “corcova” temporária de alta dos
preços, causada pelo efeito de problemas climáticos sobre os alimentos e falta de oferta de alguns produtos agrícolas, além da alta da tarifa de água em São Paulo.
Ainda que a pressão seja temporária, o BC precisa evitar os chamados
“efeitos de segunda ordem”, ou seja que a tal “corcova” influencie a
alta de preços de outros produtos, diz o economista Rodrigo Melo, da
Icatu Vanguarda. Por isso, seria difícil Ilan estrear cortando a Selic
já em julho. Melo, contudo, vê espaço para o corte ocorrer em agosto. A
baixa do dólar seria um dos fatores que poderiam ajudar a melhorar as
expectativas, ajudando a inflação a ceder após a aceleração vista desde
abril.
A queda do dólar reflete em grande parte fatores externos ao Brasil,
como a redução das apostas em alta dos juros americanos. Pesa
positivamente também o otimismo dos investidores com a possibilidade de o
governo
Temer conseguir a aprovar as reformas fiscais. Ou seja, o
fortalecimento do real seria uma forma de o mercado antecipar estas
expectativas mais favoráveis, o que também contribui para antecipar o
alívio da inflação pelo canal das expectativas.
Mas também há fatores de incertezas. Enquanto o mercado mostra certo
otimismo com reformas fiscais, a economista Monica de Bolle,
pesquisadora do Instituto Peterson em Washington DC, nos EUA, vê a
inflação “sem rédeas”. Isso ocorreria devido ao fenômeno da “dominância
fiscal”, em que, diante de déficits elevados, a taxa de juros perde
poder em controlar a inflação. Mesmo com a recessão profunda, Monica vê a
inflação anual resistindo na casa de 8% e diz duvidar que o BC corte
juros este ano. Ilan Goldfajn já demonstrou não acreditar na hipótese da
dominância.
Outro ponto de incerteza é como reagirá o BC caso a inflação siga
alta considerando-se a nova equipe que Ilan ainda deve escolher. Embora
sejam esperados nomes totalmente comprometidos com a meta de inflação
para compor o Copom, isso não significa que o BC poderá reagir com um
choque de juros como o de 2003, observa Melo, do Icatu. No choque
anterior, a inflação era mais alta e a economia
crescia, embora pouco. Hoje, a inflação é “menos alta” e a economia já
está em recessão profunda, tornando desnecessária uma alta adicional de
juros.
O câmbio
também pode pesar nas expectativas e o mercado espera que o relatório
de inflação que sai no final de junho, já sob a orientação de Ilan,
mostre se, e em qual medida, o fortalecimento do real alterou as
projeções para o IPCA. O BC, que vinha barrando a queda do dólar em R$
3,50, deixou de intervir recentemente e o dólar chegou ao patamar de R$
3,30. Embora até esta quinta-feira o BC esteja sob comando ainda de
Tombini, para alguns analistas o mercado já estaria reagindo à
expectativa de que Ilan intervenha menos no câmbio.
Leia mais em: http://www.infomoney.com.br/bloomberg/mercados/noticia/5125819/primeiro-grande-desafio-ilan-frente-sobrevida-inflacao
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