quinta-feira, 22 de março de 2018

Infraestrutura, agronegócio e energia manterão captações

Os setores de uso intenso de capital – como energia, infraestrutura e do agronegócio exportador – vão manter e provavelmente até aumentar as captações de recursos no mercado de dívida em 2018.
Na avaliação de especialistas na área de mercado de capitais consultados pelo DCI, a retomada da economia brasileira e queda da taxa básica de juros (Selic) devem incentivar a realização de novas ofertas de debêntures comuns, debêntures de infraestrutura e de certificados de recebíveis do agronegócio e imobiliários (CRAs, CRIs).
“As operações previstas para os próximos dois ou três meses vão encontrar o ponto de equilíbrio entre a motivação das empresas de captar com juros mais baixos, e a demanda dos investidores e gestores por projetos mais rentáveis”, afirmou o sócio da área de mercado de capitais do escritório Demarest Advogados, Thiago Giantomassi.
Na visão dele, atualmente há um “gap” [descompasso] nas taxas propostas por emissores e aceitas por investidores. “Depois de um primeiro trimestre fraco, o segundo trimestre e até julho será mais forte para emissões locais”, aponta.
Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa Selic, de 6,75% para 6,50% ao ano. Com isso, os emissores vão pagar menos juros em dívidas atreladas a taxa de mercado (DI). Na média, as debêntures estão remunerando a 103,8% do DI, o equivalente a 6,63% ao ano (atualmente). Na mínima, a companhia que emitiu a 100,3% do DI irá pagar 6,41% ao ano, e na máxima encontrada no mercado, de 119% do DI, o custo será de 7,6% ao ano.
Na expectativa do sócio da área de mercado de capitais da TozziniFreire Advogados, Kenneth Ferreira, os juros mais baixos podem levar os investidores a procurarem por operações incentivadas, ou seja, sem a incidência do imposto de renda.
“A retomada da economia leva dinamismo para o setor imobiliário [CRIs], infraestrutura, energia elétrica e energia renovável como eólica (debêntures de infraestrutura), agronegócio, etanol, papel e celulose [CRAs]. As empresas vão buscar esses produtos mais estruturados com títulos incentivados para atrair os investidores”, argumenta Kenneth Ferreira.
Na ponta contrária, devido à redução de projetos públicos, Ferreira identifica uma menor movimentação de concessionárias de rodovias e de companhias de saneamento básico. “Esses segmentos são mais afetados pela incerteza política, mas devem voltar [ao mercado] mais para frente”, acredita.
Ambos os entrevistados apontam que o setor imobiliário deverá ser beneficiado com a redução dos juros no cenário doméstico. “Isso estimula o mercado imobiliário residencial e corporativo, e abre oportunidades para a captação via fundos imobiliários”, disse Thiago Giantomassi.
Ferreira lembrou, por exemplo, que a Caixa Econômica Federal também prometeu juros menores para o financiamento imobiliário. “Pode trazer novos lançamentos pelas construtoras”, completou o sócio da TozziniFreire sobre o ambiente para futuras emissões desse setor.
Segundo os números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), até 28 de fevereiro, o volume em debêntures havia crescido 11,35% para o montante de R$ 8,5 bilhões, em relação ao mesmo período de 2017, com destaque para os setores de: energia; assistência médica; indústria e comércio; transporte e logística; locação de veículos e saneamento básico.
Quanto à destinação dos recursos, o investimento em infraestrutura aumentou para 21,6% do volume no primeiro bimestre de 2018, ante 7,6% nos mesmos dois meses iniciais do ano passado. As debêntures de infraestrutura movimentaram R$ 1,9 bilhão, superior aos R$ 423 milhões registrados em igual período de 2017.
Os juros mais baixos também proporcionaram o uso maior dos recursos para capital de giro. A participação desse item cresceu de 20,6% para 45,8% do volume na comparação entre idênticos bimestres. Na outra ponta, o refinanciamento de passivos perdeu força, caiu de 63,2% para 18,7%, e o resgate ou recompra de títulos de emissão anterior [que tinham taxas mais altas] diminuiu a participação no volume, de 7,7% no primeiro bimestre de 2017 para 6,4% nos meses iniciais de 2018.
Emissão externa mais cara
Como contraponto, a elevação dos juros nos Estados Unidos para a faixa entre 1,50% e 1,75% ao ano – anunciada ontem pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) – pode tornar as captações de empresas no exterior mais custosas.
Os títulos de 10 anos do tesouro americano já prometem taxas de 2,9% ao ano. “O Fed vai seguir aumentando os juros até voltar à normalidade e enxugar a liquidez. Logo, logo também vamos ver o Banco Central Europeu (BCE), o BC inglês, e mais atrasado, o BC japonês a aumentarem os juros”, prevê o economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira.
Mesmo com as altas lá fora, Bandeira pondera que grandes empresas exportadoras vão continuar a buscar recursos no mercado internacional. “Quem tem capacidade vai buscar lá fora. É mais vantajoso, quando se possui um hedge natural”, diz.
Na opinião do professor de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, o aumento de juros nos EUA já era esperado. “O movimento ainda é bem suave, mas é certo que o crédito [internacional] ficará mais caro”, argumenta. De acordo com dados da Anbima, o custo médio dos juros em bônus lançados no exterior estava em 6,1% ao ano, ou seja, abaixo das taxas de emissões locais.
Rochlin aponta que a taxa Selic pode cair mais. “Talvez para 6,25% ao ano, ou, no piso, 6% ao ano. Mas precisamos de fundamentos mais sólidos”, diz. “Vai depender do cenário político e de resolver a questão fiscal”, destacou o professor.

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