Pelo menos, essa é a tendência indicada pelas previsões que apontam para baixa de 7,5% do mercado interno, mas alta de 0,5% da produção, anunciadas ontem pela Anfavea, a entidade que representa a indústria de veículos.
A diferença é que, apesar da retração aguardada no consumo, a associação aposta num crescimento de 8,1% das exportações, junto com um movimento de substituição de carros importados por nacionais - nesse caso, como reflexo não apenas do câmbio, mas também do início da produção local de modelos que vinham do exterior.
Nas contas da Anfavea, a participação dos importados sobre o total de veículos comprados no Brasil deve cair dos 16,1%, do ano passado, para 15% em 2016.
Já as exportações devem dar continuidade à recuperação que vem sendo puxada pela retomada das vendas à Argentina, principal destino dos carros exportados no Brasil, somada à demanda crescente em mercados clientes do país como México, África do Sul, Chile e Peru. Em 2015, os embarques, de 417 mil veículos, cresceram 24,8%, graças, sobretudo ao aumento dos fluxos a esses destinos.
Com isso, o setor pode terminar este ano mostrando uma situação pouco comum, em que a produção, estimada em 2,44 milhões de veículos, supera o mercado doméstico, de 2,38 milhões de unidades, algo que não acontece desde 2008.
Isso não significa, contudo, que as montadoras vão encerrar o ciclo de demissões iniciado em novembro de 2013 e que já levou ao corte de quase 30 mil postos de trabalho. Ontem, ao anunciar o balanço final da indústria automobilística em 2015, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que o excesso de mão de obra persiste nas fábricas, lembrando que, embora a produção tenha regredido a níveis de 2006, as montadoras continuam segurando o mesmo contingente de trabalhadores de 2010, quando produziam quase 40% a mais.
Fabricantes como a General Motors (GM) mantêm operários afastados em esquema de "layoff" (suspensão de contratos), ao passo que outras, casos de Volkswagen, Ford, MAN e Mercedes-Benz, reduzem as jornadas de trabalho em 20% mediante a adesão ao programa de proteção ao emprego, o PPE. No total, 40,7 mil funcionários estão envolvidos nessas duas ferramentas de restrição de trabalho.
Só em dezembro, mês de início das férias coletivas de fim de ano - dessa vez, mais longas do que o normal -, a fabricação de veículos foi a mais fraca em sete anos. Isso permitiu uma redução expressiva dos estoques encalhados nos pátios das fábricas e das concessionárias: de um giro de 42 dias, em novembro, para 36 dias.
Ainda assim, ao menos nos primeiros meses de 2016, os esforços de ajuste dos estoques devem prosseguir com o objetivo de normalizar o encalhe para um giro mais próximo de 30 dias.
Conforme o levantamento da Anfavea, a produção das montadoras fechou 2015 com queda de 22,8% em relação ao volume de veículos fabricados no ano retrasado, entre carros de passeio, utilitários leves, como picapes, caminhões e ônibus.
No total, 2,43 milhões de unidades saíram das linhas de montagem. Se considerado o último dado da Anfavea sobre a capacidade instalada do parque - estimada em 4,5 milhões de veículos, mas em revisão pela associação - esse total corresponde a uma ociosidade de 46% nas fábricas.
Na avaliação de Moan, o setor enfrenta uma crise sem precedentes. Houve períodos, principalmente na década de 80, de maior tombo nas vendas, mas o cenário em que a instabilidade política contamina a economia é inédito, disse. "Já tivemos quedas superiores, mas não com essa conjugação de fatores". afirmou o executivo.
A comercialização de veículos novos no Brasil recuou 26,6% em 2015, a queda mais acentuada em 28 anos. Os brasileiros compraram 2,57 milhões de unidades, um retrocesso de oito anos em termos de volume. Só no segmento de automóveis de passeio e utilitários leves, as vendas encolheram 25,6%. Num reflexo da menor atividade econômica, as entregas de caminhões caíram quase pela metade: 47,7%.
Segundo Moan, a expectativa de queda de 7,5% dos emplacamentos neste ano é conservadora e se baseia na manutenção do ritmo diário do mercado no terceiro trimestre de 2015, considerado o "fundo do poço". Nas previsões da Fenabrave, que representa as concessionárias, o mercado tende a chegar em dezembro com queda acumulada de 5,8%. Em ambos os casos, o volume teria um retrocesso de uma década.
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