quarta-feira, 23 de setembro de 2015

BC tem muito pouco a fazer para conter o dólar, diz Loyola

Diante do nível de incertezas econômicas e, sobretudo, políticas, não se pode esperar que o movimento de alta do dólar seja interrompido nos próximos dias. Ontem, a moeda americana terminou o dia valendo R$ 4,053, máxima histórica. Na opinião do ex-presidente do Banco Central (BC) e atual sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, embora já haja indícios de que a forte e rápida desvalorização cambial mostre algum "overshooting" (uma reação exagerada), não existe no horizonte elementos que possam provocar uma reversão do movimento. Isso porque o câmbio está refletindo a insegurança dos investidores com a continuidade do governo da presidente Dilma Rousseff, com a questão fiscal e os riscos de novo rebaixamento do rating soberano. E não parece haver uma solução para nenhuma dessas questões no curto prazo. Loyola evita fazer previsões para o câmbio. Ele diz que, em momentos de "quase pânico", como o atual, os preços podem sofrer exageros. E, ainda que voltem, "o que parece claro é que aquele tempo de câmbio apreciado não se coloca mais." Diante desse quadro, o Banco Central tem muito pouco a fazer. O mais recomendado é que ele atue de forma prudencial, para evitar que esse movimentos leve a um risco financeiro maior. Leia os principais pontos da entrevista. Valor: O que provoca a disparada do dólar? Há especulação, busca por proteção, saída de recursos? Gustavo Loyola: É um reflexo da exacerbação das incertezas. O mercado não consegue extrair hoje um cenário de futuro. O mercado está muito inseguro com o que vai acontecer, nem tanto na economia, mas principalmente na política. A questão da continuidade do governo da presidente, a questão fiscal, como o governo vai lidar com essas ameaças de rebaixamento de rating... Enfim, há uma conjugação de muitos vetores negativos que deixa o mercado bastante nervoso. A tendência é todo mundo sair do risco, o chamado "risk-off", processo que se auto-acelera porque as pessoas veem o comportamento dos ativos e veem que o risco está aumentando. E isso leva ao "overshooting", a um movimento exagerado dos preços que, em algum momento, reflui um pouco. Valor: Esse movimento já é um "overshooting"? Loyola: Eu acho que sim. É um movimento muito forte de um pregão para o outro. Se você olhar de forma mais fria, será que as coisas pioraram tanto de um dia para o outro? Então, eu acho que pode ter um overshooting. Mas o que a gente não pode dizer é que parou por aí. Ninguém pode afirmar que o câmbio não irá continuar se depreciando nos próximos dias. A verdade é que os ativos brasileiros têm ficado muito baratos e, em algum momento, mesmo que se confirme a perda do grau de investimento e desde que não haja muito agravamento da questão política, você possa ter uma melhora ou uma calma maior do mercado cambial. Mas isso, evidentemente, está cheio de "ses". O que está movendo o mercado é a dificuldade de ancorar uma expectativa. Quando parte do mercado começar a achar que tem uma saída, então vai aparecer vendedor de dólar, comprador de juros. Os preços começam a voltar para um lugar mais normal. Mas é difícil dizer se esse processo está encerrado. Valor: Depois de atingir os R$ 4,00, é possível imaginar um novo alvo para o câmbio? Loyola: Difícil falar em R$ 4,00, R$ 4,50... é a ilusão dos números inteiros. Qualquer número, em um processo de quase pânico, pode ser atingido. Mas o que parece claro é que aquele tempo de câmbio apreciado não se coloca mais. Evidente que o dólar pode voltar um pouco, mas não para aqueles patamares tão baixos como antes. Acho que estamos no olho do furacão, com o mercado reagindo fortemente às incertezas desta semana. É aquela situação em que as coisas não ficam como estão: ou elas melhoram ou elas pioram. Valor: E o que o Banco Central pode fazer? Loyola: Muito pouco. O BC tem que ter uma atuação mais coerente, dando liquidez, fazendo seu trabalho de sempre. E, se o câmbio ameaçar a inflação, o BC pode agir com juros. Mas é preciso ter cautela porque, com a economia muito deprimida, não é algo tão óbvio assim. Ele tem que trabalhar para que esses movimentos não levem a um risco financeiro maior, como falta de liquidez, uma volatilidade muito excessiva, essas coisas prudenciais. Mas o BC tentar tapar esse dique com o dedo, não dá, não tem como. Valor: Neste momento, com tantas incertezas, o senhor vê mais risco de o estrangeiro sair do país ou ele está esperando a oportunidade para voltar a comprar? Loyola: Acho que, a não ser que haja um risco político muito grande, não vejo hipótese de saída forte no momento. Mas é algo com que a gente tem sempre que ter cuidado. O câmbio flutuante tem essa vantagem. É um mecanismo de ajuste muito poderoso, embora não seja indolor. A gente vê o setor externo se ajustando. E quem tem investimento em reais vê seu patrimônio em dólares diminuindo. Isso diminui o potencial de remessas de recursos. Valor: Qual é o cenário mais extremo com o qual o mercado está trabalhando? Loyola: É difícil tentar interpretar o coletivo. Mas eu acho que, no limite, o risco é entrar em uma crise de governabilidade aguda. Uma situação em que o governo seja levado a um descontrole, em que ele deixe de ser funcional, no sentido de ter políticas efetivas, ou fique na mão do Congresso ou resolva apelar para o populismo. Leia mais em: http://www.valor.com.br/financas/4236828/bc-tem-muito-pouco-fazer-para-conter-o-dolar-diz-loyola

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