quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

No Nordeste, estrangeiro é esperança de recuperação

A hotelaria do Nordeste sentiu o gosto amargo da retração da economia. Em 2015, os efeitos positivos da desvalorização cambial no turismo de lazer ainda não compensaram a queda abrupta no segmento de negócios, cujas receitas chegaram a encolher 30% em Estados como Pernambuco e Bahia. Para este ano, o setor aposta na volta do turista internacional que quase desapareceu da região nos anos de real valorizado.
Em Salvador, o setor chegou "ao fundo do poço" em 2015, diz Glicério Lemos Santana, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih- BA). Segundo Santana, a cidade enfrenta hoje uma superoferta de leitos - que somam 40 mil - com ociosidade em torno de 47%. O turismo de negócios, que está diretamente atrelado ao ritmo da economia, é o principal responsável. No ano passado, a receita do segmento - que tem as diárias mais altas - caiu cerca de 30%, enquanto o segmento de lazer, que atraiu turistas brasileiros que desistiram de viajar para o exterior por conta da alta do dólar, cresceu 33%.
Na balança, o setor de turismo na Bahia registrou expansão real nula em 2015. A paralisação para reformas do centro de convenções de Salvador é uma agravante. "Três hotéis no entorno do centro de convenções fecharam as portas no ano passado", conta Santana. "As perspectivas no longo prazo são boas e a cidade tem muito potencial, mas não sabemos como vai ser 2016. Minha percepção é de que mais hotéis podem fechar", diz.
Na unidade de Salvador do grupo português Vila Galé, focada no turismo de negócios, houve recuo de 30% na receita por conta da contração da economia. "Abriram-se muitos hotéis com a Copa do Mundo e os últimos mandatos de governo municipais foram ruins para o segmento de turismo", afirma José Antônio Bastos, diretor de operações do grupo.
No segmento de lazer, representado pelas unidades do Vila Galé no Cabo de Santo Agostinho (PE) e Caucaia (CE), houve crescimento de 15% das receitas, devido ao aumento das viagens domésticas. "O efeito do dólar na demanda internacional demora mais para aparecer. As notícias ruins sobre corrupção, insegurança e economia não ajudam", afirma o executivo. "Em menor grau, também atrapalham as notícias sobre epidemia de zika", diz.
Em Pernambuco, a situação é semelhante, senão mais grave. Na região, o turismo de negócios recuou acima dos 30% no ano passado e o de lazer não registrou crescimento para compensar a perda. No Recife, o turismo de negócios chega a representar 70% do setor. Artur Maroja, presidente da Abih em Pernambuco afirma que houve queda na taxa de ocupação e no valor das diárias, enquanto os custos fixos das redes cresceram. "Se conseguirmos manter as receitas em 2016, já vai ser um bom resultado", afirma Maroja.
Mesmo com o ambiente cambial favorável, a atração de estrangeiros tem crescido de forma lenta. Entre os três maiores aeroportos de capitais do Nordeste, apenas o Salvador apresentou alta na movimentação de estrangeiros (de 6%) no ano passado- no Recife, houve recuo de 10,1% e em Fortaleza, de 2,5%. O total de embarques e desembarques dos três aeroportos registraram queda 4,4% (Salvador), 6,9% (Recife) e 2,5% (Fortaleza) respectivamente, no mesmo período, segundo dados da Infraero compilados pelo Valor.
"A volta do turista estrangeiro não acontece de uma hora para outra. Leva tempo até que a promoção dos destinos do Nordeste se consolide no exterior", diz Maroja. Uma dificuldade é o fato do ciclo de real valorizado ter sido longo, período em que o Brasil perdeu competitividade diante de outros destinos internacionais.
Inaugurado no fim de 2014 no litoral sul da região metropolitana do Recife, o Sheraton Reserva Paiva, do grupo português Promovalor, está com desempenho abaixo do esperado. "Estamos indo bem, mas esperávamos um pouco mais do que está ocorrendo na realidade", diz Guido Stutz, gerente-geral da unidade. Segundo o executivo, o consumidor está mais cauteloso e a tendência atual é competição agressiva nos preços das diárias. "Isso é uma preocupação por que os nosso custos estão aumentando", afirmou.
Diferentemente do que ocorreu em Pernambuco e Bahia, no Ceará o segmento de negócios não teve um mau desempenho. Darlan Teixeira Leite, presidente da Abih no Estado, acredita que o setor ganhou o mercado dos outros concorrentes nordestinos - principalmente de Salvador - devido à posse do maior e mais moderno centro de convenções da região. No entanto, o segmento de lazer não foi bem e o setor como um todo encolheu 4% no Estado.
Leite aposta no turismo como uma das saídas para a crise no país e diz que já possível sentir a volta dos estrangeiros às praias cearenses. No entanto, ainda não dá para falar em crescimento do setor em 2016: será um ano de estabilidade, afirma. Segundo Leite, a menor renda do brasileiro pesa no lado negativo, o que significa que setor pode crescer em volume, mas o preço das diárias está sob pressão. "Não tem como subir o valor das diárias numa crise como essa. Nossa sobrevivência depende hoje de corte de custos", diz Leite.

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